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sexta-feira, dezembro 30, 2022

Para analisar esse fanatismo, faz falta um sociólogo tipo Sérgio Buarque de Holanda

Publicado em 30 de dezembro de 2022 por Tribuna da Internet

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O homem cordial de Buarque é eclipsado pelo fanatismo

José Carlos Werneck

Autor de obras importantíssimas sobre a trajetória do Brasil, o professor, jornalista, historiador, sociólogo e crítico literário Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) está fazendo falta ao Brasil. Autor de “O Homem Cordial”, em que aborda os bons sentimentos do povo brasileiro, o grande intelectual agora teria farta matéria para dar continuidade a seus estudos, em razão da polarização e do fanatismo político que grassam no Brasil de hoje.  

Sua maior obra, porém, foi “Raízes do Brasil”. Originalmente escrito como um ensaio e publicado pela Editora José Olympio, em 1936, foi posteriormente objeto de várias reedições ao longo do século XX e é considerado um dos mais importantes clássicos da historiografia e da sociologia de nosso país.

FORMAÇÃO DO POVO – Obra fundamental para quem se interessa pela História do Brasil, aborda aspectos centrais da história de nossa cultura. Seu agradável texto consiste de uma macro interpretação do processo de formação da sociedade brasileira.

Sua tese central é a de que o legado personalista da experiência colonial constituía um obstáculo a ser vencido, para o estabelecimento da democracia política no Brasil.

Destaca a importância do legado cultural da colonização portuguesa do Brasil e a dinâmica dos arranjos e adaptações que marcaram as transferências culturais de Portugal para a sua colônia americana.

BUARQUE E FREYRE – “Raízes do Brasil”, ao lado de outro clássico, “Casa-Grande e Senzala” ,de Gilberto Freyre, promoveu a reinvenção da interpretação sobre a nação brasileira na década de 1930.

Se Freyre, ao louvar a mestiçagem, desfez o fardo imposto pelas posturas raciais científicas da época, como um traço positivo da identidade nacional brasileira, por outro lado, Holanda busca construir as bases para um Brasil democrático e moderno, livre da herança colonial ibérica.

Essa herança vinha na forma do colonialismo e da escravidão, que se enraizaram na sociedade brasileira por meio de uma economia fraca, uma elite despótica e uma sociedade autoritária. Essas, na visão do autor seriam as raízes do Brasil.

SUCESSO INTERNACIONAL – Além de ser o livro de estreia de Sérgio Buarque de Holanda, “Raízes do Brasil” também se tornou sua obra mais editada e traduzida. De 1995, quando passou a ser publicado pela Companhia das Letras, até 2016, o livro vendeu mais de 250 mil exemplares e teve edições em inglês, francês, espanhol, italiano, japonês, alemão e albanês.

Sua estreia deu-se em grande estilo, já que sua obra foi publicada pela mais importante editora da época, a José Olympio, como o primeiro livro da Coleção Documentos Brasileiros, então dirigida pelo próprio Gilberto Freyre.

Tantas décadas depois, estão fazendo muita falta Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre, porque é preciso explicar sociologicamente esse surto de fanatismo político como uma fase ocasional que não vai conseguir deteriorar as raízes deste país cordial.

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