Míriam Leitão
O Globo
A antecipação da troca de comando do Exército e da Marinha é um gesto ideológico e indevido. Um gesto feio dos comandantes das duas forças. Eles pediram para antecipar, para que ela não acontecesse durante o governo Lula. Querem passar a mensagem de que não aceitam ser comandados pelo presidente eleito pelo povo brasileiro.
A partir de primeiro de janeiro, Lula será o comandante em chefe das Forças Armadas. Ele já foi por oito anos e não houve nenhum problema. Esse episódio é grave, porque significa uma quebra de hierarquia e quebra na disciplina. Eles não aceitam a transição política que o povo brasileiro escolheu.
QUESTÃO DE COERÊNCIA – Mas tudo isso é coerente com o comportamento das Forças Armadas durante todo o governo Bolsonaro. Houve muitas declarações fora do tom e comportamentos indevidos. Houve postagens a favor do atual governo e contra o candidato do PT.
No Exército, o coronel que era chefe de cibernética fazia postagens contra Lula e a favor de Bolsonaro. Ele só deixou de fiscalizar as eleições porque o ministro Alexandre de Moraes ordenou a troca, pelo seu comportamento político.
Foram muitas as declarações indevidas por parte de integrantes das Forças Armadas. Os três comandantes entraram depois da demissão de outros três que não aceitavam a politização. O que ficará até o dia 2 de janeiro, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, deu declarações estranhas, dando a entender que as Forças Armadas estavam ao lado do governo Bolsonaro. Elas, no entanto, são forças de Estado, e não de governo, de acordo com a ideologia do grupo que está no poder.
As Forças Armadas precisam voltar a cumprir o seu papel constitucional.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É muito estranho esse vaivém dos comandantes militares. Depois de revelar que iam ficar nos cargos até a posse de Lula, de repente dois deles (Exército e Marinha), decidem sair antes. E justamente o mais declaradamente bolsonarista, o comandante da Aeronáutica, decidiu ficar até o dia 2. Realmente não dá para entender. Se não aceitam prestar continência a Lula, que não o façam, ninguém os obrigará. Esse comportamento é ridículo e mostra que já se fazem mais oficiais superiores como antigamente. Posso garantir, com certeza total, que esses comandantes não têm gabarito para comandar ninguém. (C.N.)