Publicado em 1 de outubro de 2022 por Tribuna da Internet
Johanns Eller
O Globo
Os ataques às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral, que vinham diminuindo nas redes sociais desde a véspera dos atos bolsonaristas do 7 de setembro, cresceram na reta final da campanha — e o principal agitador foi Jair Bolsonaro. É o que mostra um monitoramento realizado por Djiovanni Marioto, doutorando em ciência política e pesquisador em internet e política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), sobre os conteúdos postados nas redes sociais de 22 de agosto até a última quarta-feira (28).
A alta coincide com a divulgação dos resultados de pesquisas de intenção de voto mostrando que há uma possibilidade de Lula ganhar a eleição já no primeiro turno. Os ataques recrudesceram à medida que crescia o movimento pelo voto útil.
HÁ ALINHAMENTO – O levantamento coordenado por Mariotto utilizando ferramentas de big data analisou termos relacionados ao processo eleitoral no Facebook, Twitter e YouTube, e constatou que há um alinhamento entre as publicações de Bolsonaro e os ataques realizados por endereços da direita nessas plataformas.
É o chamado “comportamento de manada”, que se espalha nas redes bolsonaristas a partir das mensagens disparadas pelo próprio presidente da República.
A partir da última segunda-feira (26), quando foi divulgada a pesquisa Ipec apontando Lula como favorito a vencer no primeiro turno, ganhou força a disseminação de fake news que desacreditam a segurança das urnas.
“ELEIÇÕES LIMPAS” – No mesmo dia, em entrevista à RecordTV, Bolsonaro disse que só aceitará o resultado das urnas em caso de “eleições limpas” – mesmo malabarismo retórico que usou na sabatina do Jornal Nacional, em agosto, para não se comprometer com o reconhecimento de uma eventual derrota.
Um vídeo que tomou as redes bolsonaristas no dia seguinte mostrava urnas sendo preparadas para a eleição na cidade de Itapeva, no interior de São Paulo.
O fato de o trabalho estar sendo feito em um espaço alugado de um sindicato serviu à teoria conspiratória de que os equipamentos estariam sendo programados pelo PT.
SALA SECRETA – Outros conteúdos muito repetidos falam da suposta “sala secreta” para a totalização dos votos no TSE, boato já desmentido pelo tribunal — a sala em questão foi exibida para a imprensa na última quarta; o questionamento do então candidato derrotado Aécio Neves (PSDB) ao resultado da eleição de 2014, vencida por Dilma Rousseff (PT); e a defesa constante do voto impresso por Bolsonaro.
Segundo o levantamento da UFPR, no período pesquisado, esse tipo de mensagem só fica atrás das menções a Lula e Jair Bolsonaro no ranking de assuntos mais comentados.
Em números: foram 374.328 menções aos ataques às urnas, atrás apenas de Bolsonaro (1.003.923) e do presidenciável do PT (548.274).
DIZ O RELATÓRIO – Apesar do dado preocupante, porém, os pesquisadores do Paraná detectaram um movimento diferente do que costumava acontecer em outros tempos: o pico de ataques também gerou uma onda de apoio às urnas, em uma espécie de contranarrativa.
Nas publicações compiladas nas últimas duas semanas, por exemplo, o levantamento identificou 46% de menções em defesa das urnas, contra 45% de citações negativas.
O monitoramento também aponta que os seguidores do presidente da República reduziram as provocações aos ministros Alexandre de Moraes e Edson Fachin, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e passaram a se concentrar nos ataques ao TSE como um todo, em uma tentativa de desacreditá-lo enquanto instituição às vésperas do primeiro turno. Apesar dessa tática paralela, as urnas eletrônicas ainda continuam sendo o principal foco de ataques.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Está havendo uma mudança importante no cenário pré-eleitoral. Desde a eleição de Dilma Rousseff em 2014, quando o PT começou a atuar incisivamente nas redes sociais, a internet passou a influir de forma expressiva junto ao eleitorado, através das chamadas descargas em canhão e da comunicação direta entre internautas. Também aumentou muito a presença de robôs em portais, sites e blogs, com permanente troca de narrativas. Portanto, o mundo está mudando e precisamos nos habituar a isso, sempre lembrando a sinistra previsão de Nelson Rodrigues: “Os idiotas vão chegar ao poder, porque eles são maioria”. (C.N.)
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