Roberto Nascimento
Inconformados com a derrota nas urnas, lideranças dos caminhoneiros aceitaram se tornar instrumentos dos bolsonaristas e fecharam importantes estradas em diversas regiões do país. E o mais deprimente é que eles estão pedindo uma intervenção militar para evitar a posse de Lula.
É claro que Bolsonaro e sua entourage estão por trás desse movimento político de características inteiramente ilegais e inconstitucionais – portanto, fora das chamadas quatro linhas?
VISÃO GOLPISTA– Esse movimento supostamente trabalhista, mas de características totalmente golpistas, vem confirmar os temores daqueles que vislumbravam a possibilidade de Bolsonaro resistir a uma derrota nas urnas.
Depois, dizem que é fantasia a preocupação daqueles que temem um movimento golpista contra a democracia, conforme aconteceu nos Estados Unidos, após a última eleição presidencial.
Este é o tema do livro já clássico “Como as democracias morrem”, de Daniel Ziblatt e Steven Levitsky, professores de ciência política da Universidade de Harvard. O foco da pesquisa de Levitsky é na América Latina e países em desenvolvimento, enquanto Ziblatt estuda a Europa do século XIX.
DEMOCRACIA FRÁGIL – Diante da reação de Donald Trump ao perder a reeleição, os dois professores de Harvard uniram seus conhecimentos para realizar uma análise sobre o enfraquecimento das democracias ao redor do mundo na atualidade, comparando-os com casos passados. Então, não estamos falando em fatos já remotos, como a queda de João Goulart, que foi assolado por greves em série. O que preocupa são os fatos atuais, agravados pela polarização esquerda/direita.
No caso específico do Brasil, o Estado precisa ter uma alternativa logística para que a sociedade não fique refém dos caminhoneiros, mas o controle da máquina estatal permanece nas mãos dos incentivadores do movimento grevista.
ABSOLUTAMENTE NADA – E agora, o que o governo Bolsonaro está fazendo a respeito? Nada, absolutamente nada.
Portanto, quando o novo governo Lula assumir, precisa reativar o projeto ferroviário, que foi abandonado desde a destruição da Rede Ferroviária Federal, tornou-se até prioridade no primeiro governo Lula, mas não saiu do papel, e a iniciativa privada também não foi capaz de assumir esse modal do progresso – os trens de carga.
Assim, é mais do que necessário um pesado investimento do Estado, reativando ferrovias por todo o país. É projeto que geraria milhares de empregos na indústria, no comércio e nos serviços, e os produtos alimentícios chegariam nas prateleiras mais baratos para o povo. Mas esse tipo de assunto ninguém gosta de debater.