Em um relatório reservado produzido a pedido do gabinete presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, a Corte analisa a possibilidade da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) ter cometido um crime eleitoral neste sábado, 29, por portar arma de fogo em local público na véspera da eleição e tumultuar o processo eleitoral.
O documento de inteligência foi obtido pelo Estadão. Na introdução, consta que sua confecção se deu a partir de pedido do juiz Marco Antônio Martin Vargas, auxiliar do gabinete da presidência do TSE, exercida pelo ministro Alexandre de Moraes. Em agosto de 2022, o juiz, que é oriundo da Justiça Estadual de São Paulo, foi nomeado por Moraes em seu gabinete.
O documento é assinado por Eduardo Tagliaferro, assessor do Gabinete da Assessoria Especial de Desinformação do Núcleo de Inteligência do TSE. Ao longo do documento, Tagliaferro expõe diversas partes do vídeo que circula nas redes sociais em que Zambelli aparece empunhando uma arma e mirando em Luan Araújo, homem a quem a deputada acusa de tê-la ameaçado e agredido.
"Encaminhamos para análise com base na prática crime eleitorais, porte ilegal de arma, desrespeito a resolução 23.708/2022 e tentativa de tumultuar o processo eleitoral", afirma Tagliaferro, no despacho. Às 19h49 deste sábado, 29, Tagliaferro encaminhou o relatório para o gabinete de Moraes, segundo documentos obtidos pelo Estadão.
O assessor ainda afirma no documento que, "no vídeo analisado, é possível notar que Carla Zambelli está em envolvida em uma discussão, onde foi verifica (análise do vídeo) que após discussão, sai em perseguição a uma pessoa, em certo momento, retira de sua cintura, uma arma, aparentemente uma pistola e vai em direção a um bar/restaurante, lotado de populares, sempre com uma arma em mãos, apontada para pessoas".
Vídeos divulgados em redes sociais na tarde deste sábado mostram a deputada Carla Zambelli com arma em punho nos Jardins, bairro de classe alta de São Paulo. Zambelli alega ter sido agredida por Luan Araújo, de 32 anos. Reeleita, a segunda deputada mais votada de São Paulo recebeu 946.244 votos e politicamente é ligada ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segundo a resolução citada, é proibido portar armas de fogo a 100 metros de seções eleitorais 48 horas antes do pleito e 24 horas depois. A medida vale, inclusive, a "civis que carreguem armas, ainda que detentores de porte ou licença estatal".
Em sua conta oficial no Instagram, a deputada afirmou, em publicação às 17h de sábado, que ela foi atacada por um grupo de pessoas na região da Avenida Paulista após sair de um restaurante. "Me empurraram no chão. Eles usaram um negro para vir em cima de mim, eram vários. Tinha uma mulher de camiseta vermelha. Me empurraram, me jogaram no chão, me chamaram de filha da puta, prostituta", relatou.
Após perseguir o homem, a deputada alegou a jornalistas que após as agressões ela teria tentado chamar a polícia e o agressor teria "feito menção de sacar uma arma". A deputada então disse ter atirado para o alto. Apesar do relato da deputada, não está claro quem fez o disparo. No único vídeo divulgado até o momento, onde é possível ouvir um disparo, não há imagem da deputada atirando. Zambelli disse possuir "porte federal" de arma.
Como mostrou o Estadão, a defesa de Luan, segundo o integrante do grupo prerrogativas Beijato Junior disse que Zambelli se exaltou. "Houve uma desavença verbal e a partir daí a Carla Zambelli perdeu a cabeça e se exaltou. Ela não foi agredida. Ela tropeçou e foi atrás dele, como mostra o vídeo". A defesa de Luan espera que a polícia investigue a ameaça, o porte de arma e o disparo feito na rua para saber se houve ou não tentativa de homicídio.
Estadão / Dinheiro Rural