Publicado em 28 de outubro de 2022 por Tribuna da Internet
Cézar Feitoza e Marianna Holanda
Folha
As críticas de Jair Bolsonaro (PL) contra o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e o ministro Alexandre de Moraes, presidente da corte, têm encontrado respaldo entre oficiais-generais das Forças Armadas. Cinco generais ouvidos pela Folha fazem eco ao discurso de perseguição de Bolsonaro e afirmam reservadamente que Moraes tem extrapolado em decisões, chegando a cometer ilegalidades.
Eles citam decisões do TSE sobre direitos de resposta concedidos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a tese apresentada pela campanha bolsonarista sobre um suposto boicote de programação eleitoral do mandatário que teria sido promovido por rádios no Nordeste.
FALTOU APURAR – Existe a percepção entre os militares que as denúncias sobre as rádios não deveriam ser descartadas antes de uma apuração mais extensa. Para eles, não é razoável que Moraes tenha rejeitado o caso em cerca de 24 horas e mandado investigar a campanha de Bolsonaro sem antes abrir uma apuração sobre o suposto boicote.
Apesar da opinião dos militares, a tese bolsonarista tem uma série de fragilidades. As próprias rádios citadas nos relatórios que compõem a denúncia contestam a afirmação de boicote. Além do mais, o ministro Fábio Faria (Comunicações) disse estar arrependido de ter participado da apresentação à imprensa que lançou a tese do suposto boicote.
“Me arrependi profundamente de ter participado daquela entrevista coletiva. Se eu soubesse que [a crise] iria escalar, eu não teria entrado no assunto”, disse Faria à coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha.
ADIAR ELEIÇÕES? – De acordo com o ministro, a iniciativa desandou quando bolsonaristas passaram a usar o fato para pedir o adiamento das eleições.
Apesar das queixas contra Moraes, militares ouvidos afirmam que o assunto é de responsabilidade dos partidos e da Justiça Eleitoral e que as Forças Armadas não devem embarcar em qualquer tipo de tese de adiamento de eleições.
Há também no Ministério da Defesa uma insatisfação com a resposta dada por Moraes ao ofício do ministro Paulo Sérgio Nogueira que sugeria ajustes na fiscalização do segundo turno das eleições, especialmente no teste de integridade.
DISCORDÂNCIAS – O presidente da corte eleitoral disse que só analisará as sugestões dos militares e da CGU (Controladoria-Geral da União) após a entrega, pelos militares, dos relatórios da fiscalização do pleito — o que no caso da Defesa está prevista para o início de 2023.
No primeiro turno, 34 mil militares atuaram em 585 municípios espalhados em 13 estados para o apoio logístico, com o envio das urnas e auxílio à segurança dos eleitores.
A gestão de Moraes vem, até este momento, decepcionando militares de alta patente. Havia expectativa no Ministério da Defesa que a interlocução com o TSE melhorasse com a chegada do ministro à presidência do tribunal, após um período de embates entre as Forças e o ex-presidente Edson Fachin. Moraes assumiu o TSE em agosto deste ano, assim que começaram as eleições.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Uma excelente matéria, que tem efeito tranquilizador em relação a uma derrota de Bolsonaro. Quanto à decepção com as atitudes de Alexandre de Moraes, não somente os militares estão insatisfeitos, pois o mesmo sentimento perpassa os civis. Moraes tem exagerado e errado muito, mas não se manca. Acha que é o máximo, porém deveria ser modesto e se julgar o mínimo. (C.N.)