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domingo, julho 03, 2022

O desespero de Bolsonaro




Nada indica que o presidente vá transferir a faixa presidencial ao seu sucessor. Isso porque é líquido e certo a sua derrota eleitoral em outubro

Por Marco Antonio Villa (foto)

Como esperado, Jair Bolsonaro tem ampliado os ataques aos poderes constituídos. São tão constantes as agressões dirigidas especialmente aos ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, que, infelizmente, são recebidas como se fossem ações políticas e não graves violações constitucionais, além da quebra do decoro presidencial.

Nada indica que Bolsonaro vá transferir a faixa presidencial ao seu sucessor. Isso porque é líquido e certo a sua derrota eleitoral em outubro. Não será a primeira vez na história da República que isto irá ocorrer. Em 1894, Floriano Peixoto não aguardou a chegada de Prudente de Morais ao Palácio do Itamaraty, então sede do governo. Abandonou o local e foi para sua residência. Quase cem anos depois, João Figueiredo fez a mesma coisa e não esperou José Sarney no Palácio do Planalto, em Brasília. Em ambos os casos, os presidentes eram militares, porém, registre-se, Jair Bolsonaro não está à altura de nenhum dos dois, especialmente do Marechal de Ferro.

Desde a redemocratização (1985), o Brasil não vivia sob o risco diário de um golpe militar. Não parece ser um fantasma, muito pelo contrário. O chefe do Executivo federal insiste em colocar em risco a institucionalidade, e o faz em qualquer circunstância ou local. Pode ser uma inauguração, um evento religioso ou esportivo, um encontro social ou empresarial. Em qualquer lugar, Bolsonaro aproveita a ocasião não só para fazer campanha eleitoral – numa clara provocação ao TSE – como também para atacar as bases do Estado de democrático de Direito.

Ao insuflar os seus extremistas, Bolsonaro pretende criar as condições para justificar a derrota eleitoral. Não é acidental que mira seus ataques no TSE, prioritariamente, no ministro Alexandre de Moraes, que presidirá as eleições de outubro. Espalha diariamente fake news e transformou a gestão econômica em uma espécie de fundo eleitoral próprio, onde pode tudo e não tem de prestar contas a ninguém.

No episódio recente envolvendo o elemento que dirigiu o MEC, Bolsonaro pode ter dado um passo em falso, o maior dos últimos meses, isto porque teria, de acordo com o que foi divulgado, avisado o ex-ministro da operação realizada pela PF, o que permitiria ao acusado destruir provas e coagir eventuais testemunhas. Se novas provas forem apresentadas e que comprovem a ação delituosa de Bolsonaro, teremos uma eleição mais tensa do que seria possível imaginar desde as primeiras manifestações golpistas em 2020.

Revista IstoÉ

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