Pedro do Coutto
A PEC dos Combustíveis que incorporou também o aumento do Auxílio-Brasil, o vale-caminhoneiro, o vale-taxista e o vale-gás,representa o esforço do governo em sua corrida contra o tempo para assegurar que nas eleições de 2 de outubro haja o segundo turno.
O presidente da República não está mais tão interessado em chegar na liderança do primeiro turno, já que a diferença que o separa de Lula é muito grande. Bolsonaro agora luta para ter votos suficientes para chegar ao segundo turno ao menos.
SESSÃO SUSPENSA – Mas o projeto de governo que no Senado foi aprovado de passagem, na Câmara encontrou resistência, na tarde de quinta-feira. O presidente da Casa, deputado Arthur Lira, suspendeu a sessão alegando a incerteza quanto ao resultado. Surpreende que ninguém tenha contestado a explicação. Afinal o que ficou no ar?
O número no Senado foi ultrapassado facilmente, inclusive porque Rodrigo Pacheco facilitou a aprovação de forma explícita. Na Câmara, Lira se empenhou para que houvesse aprovação na data desejada por Bolsonaro que quer começar a pagar o Auxilio Brasil em julho.
Mas causou espanto ninguém ter contestado o fato de, por falta de quórum, Lira ter adiado a votação da PEC que amplia benefícios sociais em ano eleitoral. A questão é que as dificuldades surgiram e Bolsonaro atua para chegar ao segundo turno num esforço muito grande. A candidatura de Lula parece firme e o comício da Cinelândia realizado na quinta-feira ratificou o apoio que possui no Rio.
BOLSONARO E O TSE – Reportagem de Marianna Holanda e Matheus Teixeira, Folha de S. Paulo desta sexta-feira, revela que numa reunião ministerial realizada na terça-feira, no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro voltou a desfechar ataques ao Tribunal Superior Eleitoral e a levantar as dúvidas de sempre contra a inviolabilidade das urnas eletrônicas.
Assinala a matéria que durante o encontro, Bolsonaro foi apoiado pelo general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa, que paralelamente havia se comunicado com o presidente do TSE e dito que confiava nas urnas eletrônicas, mas que o sistema precisava ser aperfeiçoado, estando as Forças Militares dispostas a contribuir.
Portanto, os fatos levam a crer que o ministro da Defesa faz uma afirmação ao presidente do TSE e mostra outra posição diante da pressão do Planalto. A esse respeito, o ministro Joaquim Barbosa, numa entrevista a Cristina Camargo, Folha de S. Paulo de ontem, aponta uma subserviência na área militar ao projeto golpista do presidente Jair Bolsonaro.
“QUIETINHAS” – Joaquim Barbosa comentou as declarações do ministro da Defesa: “Ora, general, as Forças Armadas devem permanecer quietinhas em seu canto, pois não há espaço para elas na direção do processo eleitoral brasileiro. Ponto”.
A respeito do empenho acentuado do governo para chegar ao segundo turno, a jornalista Flávia Oliveira, O Globo desta sexta-feira, focaliza o assunto e relaciona as vantagens prometidas por Bolsonaro aos eleitores como uma herança a ser resgatada pelo futuro governo do país.
Diante dos fatos, Flávia Oliveira ressalta também a irresponsabilidade do Congresso que está praticando violações em série à Constituição do país apenas para não desagradar o Planalto e não perder as verbas do Orçamento Secreto.
LIVRO – “1922: Sangue nas areias de Copacabana”. Esse é o título do livro do historiador Hélio Silva sobre o episódio conhecido como “Os 18 do Forte”, reação do tenentismo contra as eleições a bico de pena e a política do café com leite. O episódio foi objeto de uma reportagem de Ítalo Nogueira, Folha de S. Paulo, contendo inclusive opiniões das historiadoras Maria Celina D`Araújo e de Isabel Aragão, da Fundação Getúlio Vargas.
São revisões históricas necessárias até para, a partir do passado, identificar-se os desdobramentos do presente. É verdade que, como disse um dia Mário Henrique Simonsen, “no Brasil o passado é imprevisivel”.