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quinta-feira, julho 07, 2022

Blindagem e premonição




Retardar CPI do MEC é interferir na eleição a favor de Bolsonaro

Por Bernardo Mello Franco (foto)

O presidente do Senado mudou de tática para blindar o Planalto de investigações comprometedoras. No ano passado, Rodrigo Pacheco retardou sozinho a criação da CPI da Covid. Agora ele costurou um acordo para que a maioria governista o ajude a barrar a CPI do MEC.

A manobra de 2021 foi parar no Supremo. Numa tentativa de enrolar a Corte, Pacheco alegou que a comissão poderia ter “efeito inverso ao desejado”, como “gerar desconfiança da população em face das autoridades públicas”. O ministro Luís Roberto Barroso não caiu na conversa. Leu a Constituição e mandou instalar a CPI.

Desta vez, o presidente do Senado convocou o bloco governista para socorrê-lo. Ontem ele anunciou que vai abrir a nova comissão, mas só depois das eleições. Atribuiu a decisão aos líderes partidários, que teriam decidido evitar a “contaminação das investigações pelo processo eleitoral”. Na verdade, o objetivo é driblar o Supremo e evitar que a CPI atrapalhe a campanha de Jair Bolsonaro.

A desculpa do calendário não para em pé. Aceitá-la equivaleria a dizer que o Congresso não pode investigar o governo em anos eleitorais. Até o fechamento das urnas, o Planalto ganharia uma licença para delinquir. Além disso, dois terços dos senadores não precisarão renovar o mandato em outubro. Haveria quorum suficiente para tocar a CPI — e a pandemia mostrou que os parlamentares não precisam estar em Brasília para trabalhar.

Impedir a investigação vai contaminar mais o processo eleitoral do que abri-la. A razão é simples: o eleitor tem o direito de saber se o presidente interferiu na Polícia Federal para proteger o aliado Milton Ribeiro e esconder a bandalheira no MEC.

Bolsonaro atua abertamente para neutralizar os órgãos de controle. Além de manter a PF sob pressão, conseguiu domesticar a Procuradoria-Geral da República e a Controladoria-Geral da União. Ontem o chefe da CGU, Wagner Rosário, relativizou o escândalo dos pastores e afirmou que não há corrupção na “alta cúpula” do governo.

Quem engolir esse discurso também deve acreditar que o presidente não vazou informações sigilosas antes da prisão do ex-ministro. Como disse Ribeiro, o homem só teve um “pressentimento”.

O Globo

***

CPI já seria bem vinda

A CPI poderia ser uma arma eleitoral expensas da boa investigação

Por Hélio Schwartsman

Cada categoria precisa lidar com a sua deformação profissional. Delegados e promotores veem crimes por todos os lados; médicos não conseguem olhar para o rosto das pessoas sem tentar adivinhar do que elas vão morrer. Jornalistas somos quase obrigados a apoiar CPIs, mesmo sabendo que elas raramente produzem boas investigações. É que, mesmo quando fracassam nesse objetivo precípuo, ainda servem para expor aos olhos de todos coisas que governantes gostariam de manter a sete chaves –algo que a maioria dos jornalistas se compraz em assistir.

No caso da CPI do MEC, temos duas especificidades, uma que reforça sua necessidade —e para já, não para depois da eleição— e outra que eleva o ceticismo em relação aos resultados. Jair Bolsonaro se vale de narrativas que contrariam frontalmente os fatos. Diz que em seu governo não existe corrupção, quando isso é demonstravelmente falso. Nesse contexto, tudo o que contribua para restabelecer a preponderância dos fatos é bem-vindo. Não creio que denúncias de corrupção possam definir a disputa presidencial deste ano, papel este reservado à economia, mas é sempre preferível que o eleitor vote com mais conhecimento a com menos.

Em relação aos resultados concretos, receio que eles tenderiam a ser ainda mais acanhados que o normal, caso a CPI começasse antes do pleito. É que, nos próximos três meses, tudo o que vier a acontecer na política terá a campanha como pano de fundo. A CPI quase certamente seria convertida numa arma eleitoral, o que ocorreria às expensas da boa investigação.

Basicamente, não acho que a CPI possa revelar nada muito mais grave do que aquilo que já sabemos, mas seria bom lembrar ao eleitor que esse governo mente diuturnamente quando afirma ter acabado com a corrupção. E não é só no governo que ela se faz presente. Ela está na própria primeira família, com suas rachadinhas, cheques e traficâncias com pastores.

Folha de São Paulo

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