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sexta-feira, julho 30, 2021

Com a variante delta, o Brasil deve ultrapassar os EUA em número de mortos pela Covid

Publicado em 30 de julho de 2021 por Tribuna da Internet

Dráuzio Varella
Folha

Assisti incrédulo ao final da Eurocopa, em Londres. Aquele bando de homens suados, pulando, gritando e se abraçando não podia acabar bem. Com base na redução do número de casos, de hospitalizações e de mortes no Reino Unido, o governo planejara para 21 de junho o “freedom day”, quando todas as medidas restritivas seriam suspensas. Como faltou combinar com o coronavírus, a chegada da variante delta fez crescer o número de doentes e adiou para 21 de julho a data tão aguardada.

REAÇÕES VEEMENTES – Não houve consenso entre os países membros. A Inglaterra aboliu o uso de máscaras e liberou as aglomerações; Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, não.

Entre os especialistas, as reações contrárias foram veementes. Peter English, ex-presidente da British Medical Association, afirmou: “Não há absolutamente nenhuma justificativa para relaxar as restrições agora”. Mais de cem cientistas britânicos e de outros países encaminharam uma carta para a revista médica The Lancet, na qual acusaram o governo de “embarcar num experimento perigoso e antiético”.

Mike Ryan, diretor do Programa de Emergências da Organização Mundial da Saúde, em Genebra, advertiu que “a pressa para reabrir as economias, que aceita as novas infecções como inevitáveis e as encoraja a ocorrer mais cedo, é reflexo de vazio moral e estupidez epidemiológica”.

DEU NO QUE DEU. O aumento do número de casos no Reino Unido acontece apesar de cerca de 68% dos britânicos já terem recebido a primeira dose, e 52%, a segunda, números bem mais favoráveis do que os nossos.

Fenômeno semelhante aconteceu na Holanda, que levantou a obrigatoriedade do uso de máscara e promoveu reabertura total do comércio em 26 de junho. Duas semanas mais tarde, o recrudescimento da epidemia obrigou as autoridades a voltar atrás.

Em plenas Olimpíadas, Tóquio assiste ao aumento do número de casos. Nos Estados Unidos a variante delta tem provocado disseminação rápida do vírus. Responsável por 83% dos casos atuais, ela é pelo menos duas vezes mais transmissível do que a cepa anterior. E, pior, dá origem a cargas virais nas vias aéreas mil vezes mais altas.

COLCHA DE RETALHOS – Aproximadamente 50% dos americanos já receberam a segunda dose, nível que não é atingido em cerca de dois terços dos municípios. As desigualdades dos índices de vacinação nas diversas regiões transformaram o mapa do país numa colcha de retalhos.

Os cinco estados com menores índices de imunização —Alabama (34%), Arkansas (35%), Louisiana (36%), Mississippi (34%) e Wyoming (36%)— estão vivendo nova onda da Covid.

Nesses estados, 80% dos que têm 65 anos ou mais já receberam pelo menos a primeira dose, mas na faixa etária dos 18 aos 65 anos os índices são bem menores. Entre os adolescentes, taxas de vacinação que variam de 15% a 25% deixam esse grupo vulnerável à transmissão da variante mais contagiosa.

ERRO DAS AUTORIDADES – Os dados mostram que os Centers for Disease Control, ou CDC, erraram ao suspender a obrigatoriedade das máscaras e cancelar a proibição de aglomerações em bares e restaurantes no país inteiro.

De nada adiantou a oposição dos infectologistas e epidemiologistas das universidades mais importantes do país.

Como consequência, dois dias atrás, os CDC reconheceram o equívoco e recomendaram que, nas cidades em que o número de casos aumenta, todos devem usar máscara e evitar aglomerações em ambientes fechados.

E NO BRASIL? – O que acontecerá no Brasil quando a variante delta se espalhar pelo país inteiro?

Até agora só conseguimos administrar a primeira dose para 45% da população. Apenas 18% receberam a segunda dose, necessária para completar a imunização. Adolescentes e crianças ainda não vacinadas formam um reservatório suscetível de pelo menos 50 milhões de indivíduos.

Quando olhamos para os índices de imunização nos Estados Unidos e no Reino Unido, não é difícil concluir que a chegada de uma nova onda entre nós não será surpresa.

Se pensarmos que o Brasil é governado por um presidente sempre empenhado em dar exemplos de como se faz para disseminar a epidemia, um Ministério da Saúde em que técnicos competentes foram substituídos por militares despreparados e subservientes, vacinas em quantidades insuficientes e um Programa Nacional de Imunizações que foi desmontado, concluiremos que estamos a caminho de ultrapassar os americanos para nos tornarmos o país com mais mortes no mundo.


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