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sábado, julho 31, 2021

Confira como o Exército tratava oficialmente o capitão Jair Messias Bolsonaro, há 33 anos

   

Fac-símile da capa do "Noticiário do Exército" de 25/02/1988 sobre Bolsonaro - Reprodução - Reprodução

No “Noticiário do Exército”, a verdade sobre Bolsonaro

Rubem Valente
Portal UOL

É um documento ainda pouco lembrado e citado. Há 33 anos, em 25 de fevereiro de 1988, o “Noticiário do Exército”, veículo oficial da instituição produzido no Quartel General de Brasília, circulou com um raro editorial na capa. Trata-se de uma manifestação de desapreço que circulou por todas as unidades militares no território nacional contra o então capitão Jair Messias Bolsonaro, na época com 32 anos.

O teor do documento pode ser traduzido como uma manifestação de desapreço. Diz que Bolsonaro e outro capitão “faltaram com a verdade e macularam a dignidade militar”.

EXPLODIR BOMBAS – Cita conclusões de “Conselhos de Justificação” instaurados para investigar os dois militares depois que a revista Veja divulgou, em outubro de 1987, reportagem sobre um suposto plano de Bolsonaro para explodir bombas em unidades militares.

De acordo com a revista Veja, o plano de Bolsonaro era protestar contra os baixos salários dos militares e, assim, prejudicar o comando do então ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves. Em ato contínuo à indisciplina, Bolsonaro, tido como mentor da trama, foi julgado culpado em primeira instância. Todavia, em junho de 1988, acabou absolvido das acusações pelo Superior Tribunal Militar (STM).

Há indícios, segundo relatos da época que circularam na caserna, de que houve um acordo de cavalheiros, como forma de tirar o Exército do foco do noticiário nacional e evitar manchar o nome da instituição. À época, o Brasil avançava com medidas de abertura, ponto inicial para o fim da ditadura militar. Por essa razão, Bolsonaro foi absolvido, mas deixou a farda.

PRISÃO - O capitão Bolsonaro, em 1986: artigo reivindicando aumento de salário e planos de atentado terrorista -

O capitão Bolsonaro, em 1986

CONCLUSÃO DO EXÉRCITO – A nota da instituição tem a seguinte conclusão: “O fato e tais circunstâncias tornaram os oficiais passíveis de serem considerados impedidos de continuar a pertencer aos quadros de nosso Exército, se assim forem julgados pelo STM. O Exército tem, tradicionalmente, utilizado todos os meios legais para extirpar de suas fileiras aqueles que, deliberada e comprovadamente, desmerecem a honra militar. A verdade é um símbolo da honra militar”, diz o editorial.

E diz mais: “Tornaram-se [Bolsonaro e seu colega], assim, estranhos ao meio em que vivem e sujeitos tanto à rejeição de seus pares como a serem considerados indignos para a carreira das armas. Na guerra, já plena de adversidades, não se pode admitir a desonra e a deslealdade que não do lado inimigo, jamais do lado amigo.”

FRASE DE GEISEL – É muito citada a frase do ex-ditador general Ernesto Geisel (1907-1996), que chamou Bolsonaro de “um mau militar”. O documento de 1988, contudo, é mais representativo do pensamento da cúpula do Exército da época por duas razões:

1) o “Noticiário” era a manifestação oficial da instituição, produzido pelo Centro de Comunicação Social, em Brasília, impresso na gráfica do Exército e distribuído gratuitamente a todas as organizações militares;

2) a publicação trata de Bolsonaro ainda na ativa no Exército, enquanto a fala de Geisel é posterior, de 1993, quando Bolsonaro já havia sido vereador do Rio (1989-1991) e estava no primeiro mandato como deputado federal.

A investigação posterior do Exército, contudo, desmentiu a manifestação de inocência de Bolsonaro, segundo concluiu o então ministro Leônidas Pires Gonçalves.

DISSE O MINISTRO – Em 26 de fevereiro de 1988, um dia depois do editorial no “Noticiário”, Leônidas reconheceu, numa entrevista à imprensa no Rio que foi reproduzida pelos jornais no dia seguinte, que “a Veja estava certa e o ministro estava errado”. “O editorial provavelmente expressa essa irritação de Leônidas, até pelas expressões fortes contra Bolsonaro (‘desmerece a honra militar’, ‘faltou com a verdade e maculou a dignidade militar’).

O capitão passou a ser visto como um mau militar. Impressiona que, 30 anos depois, tantos oficiais-generais tenham se empenhado em sua eleição, o que se explica, entre outros fatores, pelo grande descontentamento, entre os militares, com os governos do PT, sobretudo em função do relatório da Comissão da Verdade.

O destaque em editorial na primeira página certamente decorreu da necessidade de enfatizar a condenação de Bolsonaro pelo ministro. O boletim circulava amplamente, não só no Exército, mas nas outras forças também. Quem imaginaria ele na Presidência com apoio dos militares?

(Artigo enviado por Francisco Moreno)


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