Enquanto o Estado construiu e equipou o hospital, a Prefeitura demorou dois anos para descobrir que não tem condições de administrá-lo.
Thiago Dias
Há um descompasso no ritmo de trabalho dos governos estadual e municipal, que se expôs de modo indisfarçável nesta terça-feira (6), quando a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) confirmou que assumiu a gestão direta da nova maternidade de Ilhéus no lugar da Prefeitura. Como quem reclama pressa, a Sesab explicou que a decisão garante a abertura do hospital “com maior celeridade”, conforme trecho de nota publicada hoje.
No texto, a Sesab relembra que o acordo para que o município assumisse a gestão do Hospital Materno-infantil foi firmado em 2019. No entanto, segundo a nota, a análise do impacto dos custos de operação da maternidade sobre o orçamento municipal mostrou que a Prefeitura teria muita dificuldade para assumir a administração. Por isso, estado e município decidiram desfazer o acordo.
Porém, até a semana passada, quando foi frustrada a expectativa da população de receber o novo equipamento no aniversário da cidade, a reviravolta anunciada hoje ainda não estava no discurso dos gestores locais.
A Prefeitura chegou a destacar a maternidade num outdoor que omitiu o autor da obra, o governo estadual. No último dia 29, o secretário de Saúde Geraldo Magela disse a este PIMENTA que o município pretendia concluir neste mês o processo licitatório para terceirizar a administração da unidade. Tudo mudou numa semana.
Confirmada a mudança brusca de planos e diante do argumento financeiro suscitado pela Sesab, impõe-se a pergunta: a Prefeitura só descobriu agora (quase dois anos após o acordo) que os custos de operação da maternidade não cabem no seu orçamento? Se essa é mesmo uma descoberta tardia, faltou o mínimo de planejamento à gestão municipal.
A justificativa orçamentária, contudo, parece mais uma saída diplomática para atenuar o impacto político do anúncio da Sesab, que abala a credibilidade do governo municipal por contraste: enquanto o Estado construiu e equipou o hospital, a Prefeitura demorou dois anos para descobrir que não tem condições de administrá-lo. Descompasso desse tamanho não cabe num outdoor, e o governador Rui Costa(PT) tem a alcunha de correria a zelar.
Thiago Dias é repórter e comentarista do PIMENTA. Este comentário não representa, necessariamente, a opinião do blog.
Nota da redação deste Blog - Querer comparar Ilhéus a Jeremoabo seria uma covardia, isso falando em todos os aspectos margináveis e imagináveis; porém o que quero dizer é, se Ilhéus com todos seus recursos não dispõe de condições para assumir um Hospital Materno Infantil, como o Município de Jeremoabo terá condições de manter um Hospital Geral?
Só mesmo quem não tem noção de administração municipal ou então quem gosta de enganar a si próprio e os demais, vende esse gato por lebre.
Administrar um Hospital é muito difrente de administrar um Posto de Combustível.