Publicado em 24 de junho de 2021 por Tribuna da Internet
Sérgio Roxo
O Globo
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, afirma que a definição do caminho que o partido seguirá na eleição de 2022 só ocorrerá no próximo ano. Ele acredita, porém, que o mais importante na disputa é derrotar o presidente Jair Bolsonaro. Nesta terça-feira, o partido filiou dois políticos próximos ao ex-presidente Lula: o deputado Marcelo Freixo (RJ) e o governador do Maranhão, Flávio Dino. Segundo Siqueira, nas conversas em que trataram do ingresso na legenda, ambos deixaram clara a simpatia pelo petista.
Quais caminhos possíveis para o PSB em 2022?
O único caminho possível que o PSB integrará será aquele da melhor liderança que conseguir ampliar uma frente política que derrote Bolsonaro. Se for Lula, será Lula, se for Ciro, será Ciro, se for outra pessoa, será outra pessoa. O nosso compromisso, antes de ser com pessoas, com personalidades, com partidos, é com a democracia brasileira. O que tiver melhores condições de derrotar Bolsonaro terá o nosso apoio.
Pelas pesquisas, quem tem melhores condições hoje é o Lula.
Não se pode antever eleição com tanta antecedência.
Com a reabilitação de Lula, o espaço para terceira via ficou mais estreito e a tendência é de um embate entre ele e Bolsonaro?
É muito cedo para chegar a essa conclusão. É óbvio que a candidatura do Lula é fortíssima, mas muitas coisas podem acontecer e podem mudar o rumo da sucessão. Eu diria que ter uma candidatura pelo meio e bom porque vai juntar a direita democrática. Não creio que tenha sucesso.
A chegada de Flávio Dino e do Marcelo Freixo indica que o PSB está mais próximo de se juntar ao Lula em 2022?
Ambos, como outras pessoas que já estavam no PSB, nunca esconderam a simpatia pela candidatura de Lula. O PT é um partido que nós nos coligamos em várias eleições, todas com o Lula. Mas o PSB não decidirá agora sobre a questão da sucessão presidencial.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, disse que a entrada do Dino e do Freixo é uma artimanha do Lula para ganhar o PSB por dentro. Com o senhor vê isso?
O PSB sempre decidiu e sempre decidirá com a autonomia que lhe responde. Esse é um comentário que não corresponde à realidade. O Lupi tem o direto de comentar o que ele quiser, mas discordo dele.
Na eleição do ano passado, as alianças do PDT com o PSB foram vistas como um esboço para 2022. Há a possibilidade de apoiar Ciro Gomes?
Nunca tratei disso. As alianças eram estritamente relacionadas às eleições municipais, E não fomos com o PT porque o PT agiu de forma errada e rompeu as alianças que nós queríamos fazer. A candidatura de Ciro está posta. Acho que ele tem feito umas críticas (a Lula) que são muito ruins porque a figura a ser perseguida é a de Bolsonaro. O PDT tem todo direito de ter o seu candidato, o PT também, o PSB, se tiver… Mas temos que ter em mente a necessidade da mais ampla frente para derrotar uma ameaça muito grande à democracia brasileira.
Se firmar aliança com Lula, o PSB teria interesse de indicar o vice?
Não gostaria de opinar sobre isso. Não é a pretensão de um ou outro partido que deve prevalecer na eleição. Quem tiver condições de liderar a chapa presidencial, tem que ter a abertura para escolher um aliado que represente mais do que partidos, represente um setor significativo da sociedade. Ganhar a eleição de 2022 não será como ganhar a eleição de 2002. A conjuntura é profundamente diferente.
O senhor fez críticas duras a Lula no ano passado. Acha que ele reviu suas posições com os acenos que passou a fazer depois de recuperar os direitos políticos?
Eu critiquei fortemente a declaração dele, após sair da prisão, porque achei uma declaração estreita. Num momento tão difícil que o país estava vivendo, uma liderança do porte dele, irresponsavelmente, não poderia ter feito aquelas declarações. Felizmente, ele reviu essa posição e passou a adotar o mesmo discurso que nós fazemos, de frente. Elogiei quando ele fez o discurso correto, que reorientou o PT.
O senhor vê Bolsonaro enfraquecido ou ele pode ser um candidato competitivo?
Ele está sofrendo um processo de desgaste, muito em função da CPI. Não creio que seja fraco. Ele é um candidato competitivo e que, muito provavelmente, salvo algum acidente de percurso, chegará ao segundo turno disputando em termos reais a sucessão presidencial.
O senhor defendeu anteriormente a entrada de um outsider no partido. Isso ainda é possível?
O sistema político estão tão desgastado que nada deve nos surpreender, mas num quadro de hoje, ninguém está se apresentando com essa possibilidade. No mundo da política, a a gente não pode falar sobre coisas etéreas. Tem que falar sobre coisas reais. O que existe hoje é a candidatura de Bolsonaro e a candidatura de Lula. Poderão surgir outras, mas nós temos que falar sobre o mundo real.