Sérgio Roxo
O Globo
A deputada federal Joice Hasselmann (SP) acusa o presidente do PSL, Luciano Bivar, de ter entregado o comando do partido na Câmara a parlamentares aliados do presidente Jair Bolsonaro em troca do cargo de primeiro secretário na Mesa Diretora da Casa e disse que, por causa disso, deixará a legenda.
— Cobrei muito essa negociata que fizeram para que ele ganhasse o cargo na Mesa em troca de entregar o partido para os bolsonaristas na Câmara. Então, é culpa exclusivamente do Bivar nós termos Bia Kicis na Comissão de Constituição e Justiça. É culpa exclusivamente do Bivar termos um Victor Hugo, que é uma assecla do Bolsonaro, comandando o partido na liderança. Nós termos uma Carla Zambelli, maluca, comandando a comissão de Meio Ambiente — acusou a deputada.
DÁ VERGONHA — “ Eu tenho vergonha de estar no partido com essas figuras em espaço tão importantes para o país” — acrescentou.
Bivar foi eleito primeiro secretário da Câmara em fevereiro na mesma votação em que Arthur Lira (PP-AL) chegou à presidência da Casa com o apoio de Bolsonaro. A deputada conta que cobrou Bivar sobre a sua negociação no grupo de WhatsApp do partido no mês de março e chegou a chamá-lo de “frouxo”.
Depois do desentendimento, Joice afirma que o partido cortou o seu espaço de manifestação, a impedindo de falar no plenário da Câmara durante as sessões. “Ele exigiu a minha expulsão do grupo, mas eu mesma saí”.
POR JUSTA CAUSA – Joice relata que deu entrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o pedido para que possa deixar o partido por “justa causa” sem perder o mandato. Ela alega que esperou quatro meses para denunciar a “negociata de Bivar” porque aguardava o seu advogado preparar a papelada para dar entrada no pedido de desfiliação. O desentendimento da parlamentar com o PSL foi revelado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. Procurado, Bivar disse que não comentaria as acusações de Joice.
A deputada acredita que o PSL pode apoiar a reeleição de Bolsonaro, “de repente colocando um vice”. O presidente deixou o partido no primeiro ano de mandato após se desentender com Bivar.
— A questão é a indignidade deles deixarem a porta aberta para esse cara. Esse cara é um psicopata. O Bolsonaro tentou criar um partido, tentou achincalhar o PSL. O Eduardo Bolsonaro xingava esse partido dia e noite. E eles foram tão indignos, se acadelaram tanto, essa é a palavra, que abriram as portas de novo para os bolsonaristas. Se o partido tivesse o mínimo de dignidade, teriam expulsado todos (bolsonaristas) porque isso é o que diz a lei. Infidelidade partidária pode gerar expulsão e acabou. Mas retiraram todos os processos de expulsão. Então o PSL se tornou indigno ao reabrir a porta para o bolsonarismo e, por consequência, para o próprio Bolsonaro — afirma Joice.
SUPERVOTAÇÃO – Então aliada de Bolsonaro, Joice foi eleita em 2018 deputada federal com um milhão de votos, a segunda maior votação do país. Em outubro de 2019, ela foi tirada pelo presidente da liderança do governo no Congresso em meio ao seu embate com o comando do PSL. A deputada se tornou opositora do governo desde então.
Joice afirma que pretende em breve anunciar o seu novo partido. Ela diz que negocia com três legendas, mas não revela quais são. A deputada tem relação próxima com o governador de São Paulo, João Doria. Por isso, um dos seus destinos pode ser o PSDB. DEM e Podemos também estão no horizonte da parlamentar.
A deputada diz que pretende ingressar na legenda que lhe permita capacitar mulheres para ocuparem espaços de poder.