Publicado em 3 de junho de 2021 por Tribuna da Internet
Matheus Magenta
BBC News Brasil
Praticamente todos os dados que tratam da situação do Brasil na pandemia de coronavírus são questionados, comparados, recortados ou distorcidos desde que a doença chegou oficialmente ao país, em fevereiro de 2020. Como as quase 500 mil mortes são atualmente incontornáveis, as críticas ao governo de Jair Bolsonaro e os contrapontos têm se concentrado no desempenho brasileiro na vacinação.
Afinal, o Brasil vacina pouco ou muito? Se a comparação considerar apenas o número total de doses que cada país aplicou, o Brasil aparece em quarto lugar no ranking global de dados oficiais compilados pela Universidade de Oxford, no Reino Unido. Um patamar esperado para o sexto país mais populoso do mundo, com 212 milhões de habitantes.
EM 78º LUGAR… – Mas quando a comparação do total de doses aplicadas leva em conta o tamanho da população de cada país, o Brasil aparece em 78º entre 190 nações e territórios.
A comparação pode ser feita também com o próprio Brasil. O Ministério da Saúde afirma que o país tem capacidade instalada de vacinar 2,4 milhões por dia. E já chegou a vacinar 18 milhões de crianças em campanha contra a poliomielite. Mas desde 17 de janeiro de 2021, o Brasil só superou dez vezes a marca de 1 milhão de vacinados em 24h.
Os dados brasileiros, descentralizados, costumam ter ligeiras diferenças a depender da fonte: governo federal, secretarias de saúde, pesquisadores independentes ou consórcio de veículos jornalísticos. As comparações abaixo se baseiam nos dados mais recentes de cada país e coletados no portal de Oxford.
COM UMA DOSE – Até o momento, 840 milhões de pessoas receberam pelo menos uma dose contra a covid-19 ao redor do mundo, equivalente a cerca de 11% da população.
Que porcentagem da população recebeu pelo menos uma dose? Até o dia 02/05, o Brasil havia aplicado pelo menos uma dose em 21% da população brasileira. Isso coloca o país em 72º lugar no ranking de 190 nações e territórios.
Na América, o Brasil figura em 15º lugar. O país mais bem posicionado do continente é o Chile, que aplicou pelo menos uma dose em 55% da população. E mesmo com o avanço expressivo da vacinação por lá, o país sul-americano também tem enfrentado desafios graves no sistema de saúde, o que indica que a contenção da pandemia precisa ser associada a medidas eficazes de distanciamento social e uso universal de máscaras capazes de evitar a infecção.
COM DUAS DOSES – Com exceção da vacina da farmacêutica Janssen, todos os imunizantes precisam de duas doses para atingir a máxima eficácia contra o coronavírus. Em geral, uma pessoa pode ser considerada completamente imunizada duas semanas depois de receber a segunda dose.
Alguns países decidiram ampliar o período entre as duas doses, a fim de garantir logo a imunização parcial de uma fatia maior de sua população, como o Reino Unido.
No ranking da proporção da população que recebeu duas doses, o Brasil (10,4%) aparece em 74º no mundo e 18º na América.
E A VELOCIDADE??? – No quesito velocidade de doses aplicadas diariamente por cada 1 milhão de habitantes, o Brasil (3.561) aparece em 89º no mundo e 13º na América. O ritmo tem caído: em meados de maio o Brasil aplicava 4.207 doses por cada 1 milhão de habitantes. E desde fevereiro, o Brasil leva de 12 a 14 dias para aplicar 10 milhões de doses contra a covid-19.
Como dito acima, o Brasil tem uma enorme capacidade instalada por trás de um programação nacional de vacinação reconhecido mundialmente, mas a falta de vacinas impede o país de atingir os níveis de imunização de outras décadas. Na pandemia de H1N1, por exemplo, o Brasil imunizou quase 80 milhões de pessoas em três meses.
Na pandemia atual, o governo federal distribuiu de 17/01 a 02/06 quase 97 milhões de doses para Estados e municípios, mas apenas 68,2 milhões tinham sido aplicadas, segundo dados do Ministério da Saúde. A diferença entre o número de doses distribuídas e aplicadas no Brasil se explica em parte à necessidade de reservar uma quantidade como segunda dose.