Pedro do Coutto
Na semana encerrada neste domingo a população brasileira, exceto os extremistas da direita, decretou o impeachment de Bolsonaro e de todo o seu governo, pelo desempenho péssimo que vem revelando cada vez mais sua falta de rumo, assim como pela ultrapassagem de limites éticos e pelos resultados negativos que se acumulam.
Não bastasse a caricata reunião ministerial de 22 de abril passado, agora explode a crise da Covid-19 mortal para internados em Manaus que não conseguiram respirar por falta de oxigênio.
UM MINISTRO PATÉTICO – Nem sequer previsões a tempo foram realizadas. E o pior foi o ministro da Saúde ter tentado justificar a tragédia, dizendo que faltou atendimento precoce, como se houvesse meios medicamentosos de contaminados evitarem a doença e a morte decorrente da falta de equipamento essencial àqueles que foram alvo do coronavírus.
Sem oxigênio suficiente, o desgoverno pediu ajuda aos EUA e aguarda a resposta. Nesse meio tempo, a White Martins se dispôs a transferir ampolas de oxigênio que se encontram na Venezuela.
Reina o caos. A vacinação que o governo anuncia para a semana que se inicia não tem sequer um plano definido para o país. Afinal de contas o Brasil possui mais de 5.600 municípios.
DISPUTA COM DÓRIA – Ao mesmo tempo, o presidente Bolsonaro trava uma luta juvenil com o governador João Dória. Anunciou que um avião da Azul voaria para a India a fim de trazer 2 milhões de frascos de vacinas, capazes de salvar brasileiros. Nada feito.
Agora, Pazuello e Bolsonaro recorrem à Coronavac, produção chinesa em parceria com o Instituto Butantan que o governo simplesmente dispensara e até ironizara. Mas vacina não tem ideologia, como a vida também não. Saúde é uma coisa, política é outra.
O Brasil não possui na realidade política de saúde, aliás perdeu uma equipe eficiente comandada pelo ex-ministro Henrique Mandeta. Para Bolsonaro, o ministro Mandeta aparecia muito nos meios de comunicação, mesmo motivo que o levou a demitir o ministro Sérgio Moro. Neste caso, por não ter feito alterações na Polícia Federal capazes de bloquear o processo contra o senador Flávio Bolsonaro. E Fabrício Queirós encontrava-se oculto na casa de um ex-advogado da família Bolsonaro.
ERROS SEM FIM – São tantos os erros que, se desfilássemos pelo menos a metade deles, o espaço deste artigo seria pequeno para sua publicação.
Bolsonaro intrometeu-se nas eleições americanas. O chanceler Ernesto Araujo desqualificou as ações normais à tradição do Itamarati. Não conseguiu inclusive comunicar-se diretamente com o presidente Trump para pedir socorro quanto a necessidade de balas de oxigênio.
Finalmente O Globo, a Folha e o Estadão publicaram ontem excelentes editoriais sobre o governo, que a meu ver se caracteriza como uma nau sem rumo no mar revolto da incompetência, destacando-se o acúmulo de erros calamitosos. No meio da tempestade um artigo ontem se destacou tanto pela forma quanto pelo conteúdo. A coluna de Miriam Leitão no Globo. Com o impedimento decretado pela opinião pública, Bolsonaro fica intensamente abalado.