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sábado, dezembro 26, 2020

Eleições municipais mostraram que a política continua em fase de transformações


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Charge do Nani (nanihumor.com)

Wesley Oliveira
Correio Braziliense

Além de ter tido uma das eleições mais atípicas da democracia brasileira por causa da pandemia do novo coronavírus, o ano de 2020 também foi marcado pela ascensão e a pulverização de novas lideranças políticas. Em alguns casos, os personagens já tinham alguma notoriedade, mas conseguiram alçar novos voos.

No campo da centro-esquerda, Guilherme Boulos surgiu em São Paulo como um nome promissor. Depois de adotar um discurso mais moderado dentro de sua campanha para a prefeitura, o político do PSol agora tentará seguir construir alianças para adquirir musculatura em 2022.

UM PESO MAIOR – Integrantes do partido resistem em falar de uma candidatura de Boulos para a Presidência, mas reconhecem que o nome dele passou a ter um peso maior. “Ele (Boulos) conseguiu costurar uma frente democrática muito significativa. Ainda é cedo para definir os candidatos para 2022, mas ele sai muito gabaritado como liderança nacional”, afirma a líder do PSol na Câmara, Sâmia Bonfim (SP).

Além da projeção de novos políticos, a campanha municipal também consolidou o movimento de candidaturas coletivas. Neste ano, mais de 250 tipos de candidaturas nesse modelo foram registradas na Justiça Eleitoral, das quais 17 se elegeram. Nesses casos, o vereador eleito compartilha as decisões que vai tomar na Câmara Municipal com um grupo de pessoas que participaram da campanha.

TAMBÉM NO CENTRO – Tradicionalmente registradas nos partidos da esquerda, as candidaturas coletivas também começaram a migrar para as siglas de centro-direita. Neste ano, por exemplo, partidos como Podemos, PSL, PSDB, DEM e Patriota registraram mais de 20 campanhas coletivas.

Para Beatriz Della Costa, cientista social e diretora de pesquisas do Instituto Update, a movimentação dos mandatos coletivos muitas vezes se dá pela identificação de pautas de representatividade. Na sua visão, isso está se consolidando no Brasil e tende a seguir formando novas lideranças políticas no Brasil.

“O eleitor, principalmente o jovem, tem uma identificação maior com esses grupos. O discurso de que determinado político não me representa começou a se mudar pelo voto, e os mais novos estão começando a votar naqueles que lhe representam. Esses grupos são oriundos da sociedade civil, que já não aceita mais a política tradicional. Claro que vai ser um processo de construção, mas vejo que, aos poucos, irão ocupar mais espaços”, defende Beatriz.

MOVIMENTO LIVRES – Criado há quatro anos, o Movimento Livres conseguiu eleger 12 novos candidatos, sendo um o prefeito de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, Caio Cunha (Podemos). O grupo tem como premissa o discurso da liberdade, promovendo o engajamento cívico e desenvolvimento de novas lideranças.

Segundo Paulo Gontijo, diretor-executivo do Livres, o próximo ano será para consolidar o trabalho desses novos políticos e com o objetivo de atrair mais pessoas interessadas em compor o grupo. “O nosso trabalho é formar lideranças, e não temos essa organização partidária em torno de um nome. Agora, vamos dar visibilidade para esses eleitos, no intuito de mostrar que tem como dar resultado”, explica Gontijo.

SEM HEGEMONIA – Eleita deputada através de uma organização da sociedade civil, Tábata Amaral (PDT-SP), do movimento Acredito, afirma que o PT já não tem mais hegemonia na esquerda. “Nessas eleições, novas lideranças políticas do campo progressista, fora da órbita do PT, ganharam força. Foi um sinal claro de que o partido não é o único porta-voz da esquerda”, defende.

Forças políticas de direita também estão trabalhando. Ao todo, nove siglas da centro-direita, que surfaram na onda do conservadorismo de 2018, mantiveram a projeção de crescimento.

Mesmo com a desfiliação de Jair Bolsonaro, o PSL triplicou de tamanho em quatro anos, de 30 para 90 prefeituras até agora. Mas, nenhuma delas tem mais de 200 mil habitantes.

OUTROS PARTIDOS – A sigla bolsonarista Avante (ex-PT do B) passou de 15 para 80 (aumento de 433%), também em cidades pequenas. O Republicanos dobrou, de 104 para 208. O DEM cresceu 72%, de 265 para 465. O Solidariedade avançou 47%; e o Patriota, 45%. Além dessas siglas, também se observou um avanço do PP, PSD, Solidariedade, Patriota e PTB.

Para o professor e cientista político Valério Clemente, apesar de não terem tido um nome de grande projeção, esses partidos conseguiram ampliar suas margens de atuação. “Provavelmente chegaram mais organizados e, talvez, o Bolsonaro não irá surfar como única possibilidade no campo da direita em 2022. O trabalho deles será o de construir novos políticos nesse campo”, afirma.

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