Posted on by Tribuna da Internet
Bruno Boghossian
Folha
Em silêncio, Jair Bolsonaro disse muito. O presidente avisou ao Supremo que não vai prestar depoimento no inquérito aberto para apurar suas tentativas de interferência no comando da Polícia Federal. A intromissão foi registrada em gravações e declarações públicas, mas ele sugere ter motivos para não se preocupar com a investigação.
Há sete meses, Bolsonaro estava emparedado pelas acusações feita pelo ex-ministro Sergio Moro. O presidente se enrolou nas explicações, admitiu que gostaria de trocar a chefia da PF no Rio por interesse de seu grupo político e indicou que a mudança tinha relação com aliados sob investigação no STF.
AMEAÇA – Depois de se beneficiar de uma aliança com Moro, Bolsonaro trabalhou para deteriorar a imagem do ex-juiz. O governo percebeu o perigo daquele episódio e reagiu apavorado –ao ponto de lançar uma ameaça nada velada de golpe de Estado para responder a uma decisão processual burocrática sobre um pedido de apreensão do celular do presidente.
Bolsonaro saiu das cordas porque conseguiu fazer com que o caso esfriasse. As acusações perderam destaque com o avanço da pandemia, e a coalizão forjada no Congresso deu a impressão de que o governo estava protegido de tumultos políticos.No campo judicial, o inquérito foi engolido por discussões sobre a forma do depoimento do presidente: escrito ou presencial.
ACUSAÇÃO – Ele fingiu espernear e acusou o STF de tratamento injusto. O tribunal não tomou uma decisão final, mas o advogado-geral da União mandou avisar que Bolsonaro decidiu “declinar do meio de defesa que lhe foi oportunizado”.
O presidente abre mão de se defender porque sabe que o caso tem tudo para ser guardado numa gaveta. Com a expectativa da impunidade, ele evita o risco de se embananar e dar munição aos investigadores.
De quebra, Bolsonaro ainda desarma um potencial holofote para Sergio Moro. A investigação era um dos poucos palanques políticos do ex-juiz. Ele deve encolher um pouco mais se o inquérito for arquivado.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Mesmo jornalistas importantes como Bruno Boghossian correm risco de ser vítimas de “informações exclusivas e preferenciais”, fornecidas por alguma fonte ligada ao Planalto. Nessa matéria, por exemplo, a realidade é totalmente diversa dos informes que foram passados ao analista da Folha.
Bolsonaro está preocupadíssimo e precisa encontrar uma maneira de arquivar o inquérito. As provas contra ele e sua “confissão de culpa” na reunião ministerial indicam que ele pode ser processado, condenado e até sofrer impeachment. Apenas isso. Ontem mesmo, o relator Alexandre de Moraes deu seguimento ao inquérito, pedindo que a Procuradoria se manifeste sobre o depoimento de Bolsonaro.
O excelente jornalista Bruno Boghossian deveria revelar e desmoralizar sua fonte no Planalto, que “plantou” a mesma informação falsa junto ao repórter Gerson Camarotti, que também publicou. E vida que segue, como dizia nosso amigo João Saldanha. (C.N.)