Na eleição todos ganham, sem exceções
A instituição do voto, inicialmente ocorrida na Civilização Grega, foi se espalhando lentamente entre os demais povos, e ganhando adeptos, afinal não era possível, a todo o momento e por qualquer disputa, sacar as armas e provocar mortes, ou expor-se ao risco da morte.
Por Julio Gomes.
Quem conhece os processos de luta pelo poder não se ilude: sangue, guerras e mortes sempre estiveram presentes, em todos os tempos, quando se trata da disputa por altas posições, seja entre as cidades-estados da Antiguidade, seja entre os países do mundo contemporâneo ou mesmo apenas entre pessoas.
As guerras que Roma fez em sua grandeza e, depois, em seu declínio; as duas Grandes Guerras Mundiais ocorridas no Século XX; e as disputas entre famílias ricas e ilustres pelo poder em pequenos rincões esquecidos do interior sempre estiveram marcadas por sangue, em quantidade proporcional ao tamanho da disputa.
É exatamente por isso que foi imensamente genial, revolucionária e abençoada a ideia que os gregos tiveram, ainda na Idade Antiga, alguns séculos antes de Cristo, de substituir a disputa armada pela manifestação de vontade das pessoas aptas a opinar, feita por meio da colocação de algum objeto em uma urna, já que a imensa maioria das pessoas não sabia ler nem escrever. Mas já sabia votar!
A instituição do voto, inicialmente ocorrida na Civilização Grega, foi se espalhando lentamente entre os demais povos, e ganhando adeptos, afinal não era possível, a todo o momento e por qualquer disputa, sacar as armas e provocar mortes, ou expor-se ao risco da morte.
Foi assim que Roma também passou a utilizar cada vez mais a instituição do voto – até quando e até onde os Césares o permitiram – e depois, ultrapassado o período de estagnação da Idade Média, o voto voltaria a ter mais valor quando da constituição dos primeiros Estados Nacionais na Europa Ocidental, quando França, Portugal, Inglaterra, Espanha e outras nações se estruturaram politicamente.
É certo que o voto nunca excluiu totalmente as guerras, mas pôde evitar muitas delas, quando os corações humanos assim o permitiram.
Também é igualmente certo que o direito ao voto, inicialmente restrito aos nobres e poderosos, com o passar do tempo passou a ser direito de uma quantidade cada vez maior de pessoas: plebeus, mulheres, analfabetos e outros grupos sociais, podendo-se afirmar que o progresso na amplitude e utilização do voto se constitui como sinal de evolução, de aperfeiçoamento institucional e humano das sociedades em que se verifica este fenômeno tão positivo.
Assim, as disputas entre “coronéis” do interior do Brasil, antes feitas na bala e na ponta da faca, através de jagunços, emboscadas e vinganças, fica cada vez mais no passado, sem deixar saudades.
Hoje, concluída a disputa eleitoral, ninguém mais tem de sepultar entes queridos, seja nas famílias dos trabalhadores recrutados como “soldados”; seja entre as famílias ricas, que têm enormes posses de bens e dinheiro e que disputam entre si o poder.
Após a eleição uns comemoram e outros choram; vários maldizem “apoiadores” traidores e lamentam pelo dinheiro gasto em vão, mas todos – após um tempo maior ou menor de alegrias ou de amargas desilusões – ficam vivos para, querendo, reiniciar todo o ciclo da política junto com sua família, amigos e apoiadores, todos vivos.
Por isso, valorize e defenda a Democracia, o voto, o respeito ao resultado expresso nas urnas. Ele pode não ter sido do seu agrado, mas certamente impediu que a disputa política terminasse com um banho de sangue.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz.
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