Porque precisam que você seja um idiota
Quem aceita muito lixo na cultura também o consumirá nas informações buscadas na internet, nas manifestações artísticas, procurando sempre e invariavelmente na TV e nas redes sociais o grotesco, o sangrento, o baixo nível.
Por Julio Gomes.
Estamos no tempo da estupidez exacerbada, das execuções festejadas, do elogio da violência, da tortura, da afirmação do grotesco. Não é por acaso. Nada é por acaso.
Nós, povo brasileiro, já ouvimos no passado muita música de qualidade, desde o Já saudoso e distante no tempo Luiz Gonzaga até os não tão distantes, mas também saudosos roqueiros Cazuza e Chorão.
Já assistimos excelentes novelas, mesmo na tão criticada Rede Globo. Quem pode negar o quanto era bom assistir Roque Santeiro, O Bem-Amado, Gabriela e outros folhetins televisivos que nos levavam do riso às emoções mais profundas?
Também já tivemos excelentes autores, em prosa e verso, de Guimarães Rosa e Carlos Drumond de Andrade até nosso conterrâneo Jorge Amado.
E será que não há, hoje, bons músicos, boas produções para TV e bons cronistas? É claro que há, sim, muitos e excelentes. O que não existe mais é espaço para que eles apareçam, para que seus trabalhos se tornem cultura de massa.
Desde alguns anos, talvez desde o início dos anos 2000, temos visto uma perda de qualidade contínua e assustadora da produção artística que chega à maioria da população, ressalvadas poucas exceções.
O que consumimos hoje, especialmente como música, novelas e programas populares, do tipo crimes-sexo–mortes–sensacionalismo, tem uma qualidade muito ruim.
Entretanto, é preciso que seja assim.
Isso ocorre porque quem houve péssimas músicas, quem não raciocina acerca das informações que recebe, quem não diferencia – no campo da arte e da cultura – o que presta daquilo que é ruim, que só traz má formação, tenderá fortemente a continuar agindo assim em relação a quase todas as demais coisas em sua vida.
Quem aceita muito lixo na cultura também o consumirá nas informações buscadas na internet, nas manifestações artísticas, procurando sempre e invariavelmente na TV e nas redes sociais o grotesco, o sangrento, o baixo nível.
E, quando estiver convenientemente viciado na roda viva do lixo cultural, transportará isso para dentro de sua vida, de sua família, com relação a seus direitos, em sua comunidade, onde a opção será sempre pelo pior, pelo mais caricaturesco, pelo mais surreal ou irresponsavelmente grosseiro e estúpido.
Penso que seja isso que leva, hoje em dia, as pessoas a serem trabalhadores e criticarem os direitos trabalhistas. A serem homossexuais e criticarem a luta por respeito e por cidadania dos gays. A serem pobres e quererem desesperadamente que todos os direitos dos mais pobres sejam cortados.
A opção pelo lixo, pela frivolidade, pelo deboche, levada a cabo por quem passa o dia todo ouvindo música de baixaria, assistindo vídeos de violência gratuita, frequentando os piores sites e canais da internet, só pode resultar na exaltação das atitudes e das pessoas que expressam os valores dessa cultura, agora tida como modelo.
Assim, as pessoas procuram também o que há de pior na política, encontram e elegem, e fecham o círculo vicioso da estupidez, para suprema alegria dos mal-intencionados que estão no poder.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz.
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