Cacá Colchões e a promessa de 11 mil empregos
Por Emilio Gusmão.
O pré-candidato a prefeito de Ilhéus, Cacá Colchões (PP), desenvolveu de maneira considerável a capacidade de oratória. A voz aguda, cujo tom destoa do grave jabista, ganhou boa dicção, fôlego e convicções.
A respiração no ritmo normal é digna de nota, pois Cacá sofreu durante 20 dias num leito hospitalar. Contaminado pelo SarsCov-2, foi internado em leito de UTI como medida preventiva.
Recuperado, Cacá encheu-se de otimismo e tem feito várias promessas sem gaguejar. Uma em especial instigou o meu senso crítico.
Em plena crise sanitária, com a economia em crise e sem perspectiva de retomada, o candidato promete gerar 11 mil empregos, em 8 anos, por meio de um parque industrial que seria instalado no limite territorial com Itabuna, numa área que faz parte da Fazenda Primavera.
Observadores atentos do panorama econômico brasileiro destacam que nos últimos 30 anos, o setor industrial vem diminuindo sua importância no Produto Interno Bruto (PIB). O país passa por um processo de reprimarização que notabiliza o agronegócio e a exportação de commodities como fontes da riqueza nacional.
O pensamento econômico neoliberal, digno de minha repulsa, mas vigente, também estabeleceu um paradigma chamado “custo Brasil”. Por essa ótica, a atividade empresarial não cresce como deveria no país devido ao valor da mão de obra. Empregos formais oneram as grandes empresas, que sem alternativa interna, procuram outros territórios cujas leis trabalhistas foram precarizadas e permitem maior exploração da força de trabalho humana. Na América do Sul, o Paraguai tem se destacado como exemplo do modelo chinês, com um atrativo a mais: energia elétrica de custo mais baixo propiciada pela Usina de Itaipu.
Outra constatação que joga por terra o devaneio eleitoral de Cacá é a Quarta Revolução Industrial. Pelo mundo afora, o chão de fábrica deixou de ser o ambiente típico do trabalho contemporâneo e as indústrias já não empregam na mesma proporção de antes.
Segundo Klaus Schwab, consultor do Fórum Econômico Mundial, em 1990 as três maiores empresas de Detroit (EUA) possuíam capitalização de mercado combinada (CMB) de US$ 36 bilhões, faturamento US$ 250 bilhões e 1,2 milhão de empregados. Já em 2014, as três maiores empresas do Vale do Silício (também nos EUA) possuíam CMB de US$ 1,09 trilhão, faturamento US$ 247 bilhões e bem menos empregados, 137 mil.
Há outros argumentos fáticos que vão de encontro à promessa do candidato progressista. Um em especial fundamenta a instalação de parques industriais em territórios interioranos: a existência de matrizes econômicas locais capazes de sustentar a atividade industrial e de gerar uma nova e ampla cadeia de produção.
Quais matrizes peculiares a Ilhéus seriam capazes de fomentar a proposta de Cacá? Quando fala sobre a ideia, ele não explica essa condição indispensável.
Ao prometer a ampliação do mercado de trabalho sem demonstrar condições de viabilidade, Cacá atende uma exigência das pesquisas de opinião que colocam o emprego como desejo principal do morador de Ilhéus.
Ao propor a instalação de um parque industrial, Cacá veste uma roupa nova na antiga Zona de Processamento de Exportação (ZPE) prometida por Jabes Ribeiro e Isaac Albagli na década de 80 do século passado. A proposta lembra também a “nova” Avenida Soares Lopes, cujo projeto foi assinado por Burle Max, mas não saiu disso.
Só falta a maquete no Teatro Municipal de Ilhéus.
Emilio Gusmão é comunicólogo, repórter e editor deste blog, e mestre em conservação da biodiversidade e desenvolvimento sustentável (ESCAS/IPÊ).
BLOG DO GUSMÃO - Cidadania, política e sustentabilidade (blogdogusmao.com.br)
Nota da redação deste Blog - Inicio essa nota citando parte do comentário de José Mário Varjão quando diz:
" Na última entrevista do prefeito reeleito, voltou a dizer que que vai trabalhar para que ocorra geração de emprego e renda em JEREMOABO, inclusive citou a NATVILLE como fonte geradora, eu particularmente gostaria de acreditar e digo: dos 4000 empregos diretos e indiretos"
(...)
"Quem prometeu e vem prometendo não conhece Jeremoabo e diagnosticar hoje, não é tarefa para amadores que sequer, sabem por onde começar."
Comparar Ilhéus a Jeremoabo seria até covardia, porém, levando em conta os 11 mil empregos prometidos nessa fonte inesgotável de riquezas, e os 5 mil empregos prometidos para Jurema em Flor, dará para efetuar uma analise de forma proporcional.
Quase nada tenho acrescentar ao artigo acima exposto, tendo em vista que o mesmo de forma clara informa o quanto está difícil e quase impossível criar empregos.
Se para Ilhéus cidade turística com inúmeros hotéis, bons restaurantes, boas praias, bom comércio, com diversidade de matéria prima e mão de obra especializada, aeroporto, porto, está sendo impossível criar 11 mil empregos, o que dizer de Jeremoabo criar até mais de 5 mil?
Só mesmo quem gosta de ser enganado, ou então os "sem noção" que ainda acreditam em " ouro de tolo".