Vampiros, eles estão aqui.
Há quem se questione por que diabos é tão difícil ser uma pessoa perfeita – boa; amorosa e que ajuda a todos sem nada esperar. Se você é um desses, não se apoquente. Como Fiódor Dostoiévski prova em “O idiota”, ser perfeito não é bom. Melhor é ser prefeito.
Por Mohammad Jamal.
A taxa de hemoglobina está à quase zero, mas vou chupar assim mesmo. Fodam-se! A fome, as privações dos recursos básicos para sobrevivência, o desemprego, a obscuridade sobre o futuro, as doenças e a má assistência social e médica prestadas pelo município e Estado, as incertezas sobre quem sobreviverá ou não a essa doença devastadora e como a família irá se sustentar à ausência do seu provedor. Tudo isso ligado ao caos político-administrativo, à roubalheira e malversação do dinheiro publico do Estado brasileiro por mãos sujas. Como se manter ou sobreviver a esse estado de incertezas administrado por incompetentes expertos? Falar ou criticar o cidadão carente porque vota errado é fácil, quando toda a culpa e responsabilidade recaem nas mãos despreparadas dos políticos, ou melhor, bem preparadas, no sentido inverso do bem do povo. Estamos chegando a uma situação onde não vemos sequer uma luzinha no fundo do túnel, embora desconfiemos que lá no fundo tenha muita gente enriquecendo criminosamente à custa de vidas da população vampirizada pelos bandos e revoadas de hematófagos alados em seus jatinhos de luxo.
A dança dos Vampiros – Dormentes em seus currais, eleitores insistem em não acreditar ou temer os Dráculas, embora percebam que são diariamente chupados e drenados do próprio sangue nas suas jugulares já cheias de cicatrizes, tipo as veias dos drogados. Ainda se fossem somente sanguessugas, mas são seres alados, grandes, gordos, rotundos, poderosos, influentes; em sua maioria, com foro privilegiado ou com parceiros poderosos nos três poderes. E lá vamos nós como aquelas crianças da caatinga nordestina que comem muito barro, calangos, ratos jupati, preás, abatidas a pedradas. Barrigas dilatadas e enormes, opados e anêmicos, pés rachados e olhos tristes, desacolhidos do frio invernal, insaciados na fome crônica sob os mantos impassíveis da exclusão e do abandono. “Meu povo!”. “Trago comigo a solução de todos os seus problemas sociais…” Quiçá um falo longo e grosso pra atochar fundo “em nóis”.
Não… Não. Cunilíngua não, por favor! E esses boquetes venoso-financeiros não ocorrem apenas em São Paulo, Brasília, Bahia, Ilhéus; predominam em todo Brasil. Os desvios de conduta, as roubalheiras, etc. deixaram de constituir ocorrências episódicas e passaram a predominar como metodologia única no cotidiano do exercício das praticas políticas mais corriqueiras. Todos a querem montar, plantar sua semente danosa, seu DNA corrupto no útero financeiro do Brasil, fazer sua poupança rendosa, um lucrinho besta de alguns milhões de reais. Política é um negócio da China. Viram o Covid-2? Temos hordas de políticos, empresários, servidores e intrujões parceiros cagando sangue fresco e dinheiro – no sentido analógico, claro – indiferentes, alegres e faceiros a despeito do ceifador de vidas, sobrecarregado, estar a fazer horas extras para cumprir as cotas de óbitos exigidos nas contrapartidas das verbas milionárias. Bandidos conscientes e seguros de que a Jihad de justiça jamais os atingirá, viraram ricos, literalmente podres de ricos!
Se contraírem a Covid serão levados de jatinho para o Sírio, o Albert Einstein, o Copa D’or! A política no Brasil, como julgam alguns, não vive um momento atípico, conforme demonstram o estranhamento e a indignação de todos os brasileiros com fatos recentes reprisados da nossa história pregressa. Apropriar-se de forma espúria do erário público em benefício próprio passou a ser algo tão trivial quanto ignorar a existência das ações do MP, das judicaturas e suas resultantes, os ternos desdobramentos da nossa Justiça. Tudo acaba bem resolvido para as partes com uma bem articulada Delação Premiada. “E, por estarem justas e convencionadas as Partes assinam o presente Acordo em duas vias idênticas, cada uma sendo tratada como um original, as quais conjuntamente constituirão um único documento original e que poderão ser transmitidas por fac-símile ou por correio eletrônico, juntamente com as testemunhas abaixo arroladas.” Como já foi dito por Lavoisier, “Neste mundo nada se perde” e, lá se vão eles fagueiros saltitando a caminho das suas mansões faustosas e seus retiros nos Alpes suíços cumprir suas penas taliônicas, restritos a caviar beluga e Château Mouton Rothschild de R$10.500 uma garrafa, seguida de um bom Puro cubano.
Virou o Cabaré do “Pau nun Cessa” de Carangola? Estamos vivenciando um estado de consensualidade, condescendência e mútuas tolerâncias que, juntas, tornam impossível separar réus de vítimas; acho que somos todos, povo e políticos, réus na materialidade dessa montanha de delitos, quando uma das partes, a dos chupados, deveria ser apenas de idiotas bem comportados. Explico; não um simples idiota, mas aquele Idiota personagem central do romance soberbo, quase um épico, de Dostoievski “O Idiota”, ou mais simplesmente o Príncipe Liév Nikolaevich Míchkin (ou apenas Príncipe Míchkin). O título de príncipe é apenas um título: o jovem de 27 anos é um órfão sem quaisquer recursos e fora criado por pura bondade de um tutor. Portador de epilepsia, o príncipe passou quase toda a vida em um sanatório na Suíça. Como parte do preconceito da sociedade da época pela sua doença, o jovem é tido como um verdadeiro idiota, tratado por todos como o bobo da corte. Sua doença, sua pureza, sua total falta de malícia e sem o hábito do convívio em sociedade, tudo contribui para que seja ridicularizado constantemente. Embora tenha lido livros e se expresse de maneira perfeitamente clara, o príncipe é tratado como um verdadeiro imbecil, à semelhança do cidadão brasileiro, aquele sem eira nem beira, os lascados. Dostoiévski questiona o que é ser “inteligente” para uma sociedade hedonista, que só se importa com a vida nas altas rodas, dinheiro e poder: “Os inventores e os gênios, no início de sua trajetória (e muito amiúde também no final), não eram vistos quase sempre pela sociedade senão como imbecis- essa era a observação mais rotineira, por todos conhecida demais.”. (DOSTOIÉVSKI, 1868, pg. 368).
O “sistema” é bruto. Há quem se questione por que diabos é tão difícil ser uma pessoa perfeita – boa; amorosa e que ajuda a todos sem nada esperar. Se você é um desses, não se apoquente. Como Fiódor Dostoiévski prova em “O idiota”, ser perfeito não é bom. Melhor é ser prefeito. A ideia de Dostoiévski era retratar um homem perfeito, cheio de empatia por todo mundo e capaz de entender todos em um mundo de pessoas más de índoles sujas. Tal como vivenciamos o “sistema” no Brasil em pleno século XXII, onde pessoas más locupletam-se de verbas públicas destinadas a respiradores para UTI; para medicamentos críticos para intubações, verbas para montagem de superfaturados Hospitais de Campanha, para compra de testes diagnósticos laboratoriais, etc. e ate aqueles outros, ratos com salários de seis mil reais, servidores públicos que, com ajuda dos subterfúgios da falsidade ideológica, cadastraram-se no Programa de Ajuda Emergencial de 600 merrecas destinadas àqueles sem salario, que tem apenas a fome como legado junto com a família.
Eu descreveria aqui por horas os sofisticados estratagemas usados por gente rica, política e má, para enriquecerem mais à custa da pandemia. Eu ficaria chato e redundante, porquanto as imprensa e mídias diversas propalam em manchetes garrafais os descaminhos praticados por aqueles que deveriam ser exemplo, mas gente má, vampiros, lobisomens, hematófagos; sedentos, comem avaros até os farelos insignificantes dos centavos. Nós somos apenas idiotas. Mas neste mundo caótico e mesquinho, vale a pena ser um homem bom e, pagar pelos pecados de todos? Se você não concorda, então apresente sua versão!
Mohammad Jamal é colunista do Blog do Gusmão.
www.blogdogusmao.com.br