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segunda-feira, novembro 23, 2020

Meio Ambiente falseia dados que Bolsonaro citou no G-20 como se fossem verdadeiros

 

Deu no G1

A política ambiental do governo Bolsonaro e os números que apontam para aumento do desmatamento e das queimadas no país têm gerado pressões internacionais e ameaças de países de boicote a produtos brasileiros. O governo brasileiro vem apontando interesses comerciais nas críticas e que elas têm objetivo de prejudicar produtos nacionais, especialmente os ligados ao agronegócio.

No discurso no G-20, sexta-feira, Bolsonaro voltou a atacar os críticos. Afirmou que o Brasil, com sua produção agrícola e pecuária, alimenta “quase um bilhão e meio de pessoas” enquanto mantém mais de 60% do território preservado, e que os ataques ao país partem de “nações menos competitivas” no agronegócio.

DISSE BOLSONARO – “Ressalto que essa verdadeira revolução agrícola no Brasil foi realizada utilizando apenas 8% de nossas terras. Por isso, mais de 60% de nosso território ainda se encontra preservado com vegetação nativa. Tenho orgulho de apresentar esses números e reafirmar que trabalharemos sempre para manter esse elevado nível de preservação, bem como para repelir ataques injustificados proferidos por nações menos competitivas e menos sustentáveis”, afirmou.

Na verdade, a agropecuária foi responsável por 90% da perda de vegetação natural do Brasil, aponta os especialistas. O engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador da ONG Mapbiomas, diz que na verdade o Brasil ainda tem 67% do seu território com vegetação nativa, considerando o que está degradado e que está regenerando.

“A gente estima que, desse total [de vegetação nativa] que existe no Brasil, pelo menos um terço já foi desmatado alguma vez ou já foi fortemente degradado. Então o número correto seria mais ou menos alguma coisa como 45%, 50%” – Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. Como o G1 mostrou na série Desafio Natureza, mesmo áreas que deveriam contar com preservação garantida em demarcação sofrem com desmatamento.

VEGETAÇÃO NATIVA – O especialista em gestão ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Raoni Rajão, também rebate a afirmação.

“É errado dizer que mais de 60% do Brasil estão preservados. Mais de 60% do Brasil estão com vegetação nativa. E isso inclui, por exemplo, os pampas, onde você tem pecuária. Isso inclui os campos gerais onde também há pecuária. Inclui, por exemplo, todas as áreas florestais onde tem extrativismo”, diz Rajão.

“Quando uma área é de preservação, voltada para a preservação integral, isso significa que ela não pode ser explorada para fins econômicos. E as unidades de conservação de proteção ambiental integral alcançam apenas 9,9% do território nacional, segundo um levantamento da UFMG, com dados de ICMBio, Incra, Funai, SFB e MMA.

DADO DISTORCIDO – Sobre a fala de Bolsonaro de que a revolução agrícola no Brasil “foi realizada utilizando apenas 8% de nossas terras”, o professor Raoni Rajão diz que o dado é “distorcido”, porque está levando com conta apenas as áreas que são cultivadas e desprezando as pastagens..

“De fato, por volta de 8% a 10% do território nacional são usados para culturas agrícolas, soja, milho etc. Mas você precisa somar mais uns 20% das áreas voltadas para a pecuária. Então falar que foi 8% que deu independência alimentar para o Brasil é errado. E os outros 20% da pecuária?”, questiona Rajão.

‘FIRME COMPROMISSO’ – Em outro ponto do discurso, Bolsonaro disse que o governo brasileiro “mantém o firme compromisso de continuar a preservar nosso patrimônio ambiental” e de “buscar o desenvolvimento sustentável em sua plenitude, de forma a integrar a conservação ambiental à prosperidade econômica e social.”

Ele defendeu o esforço dos países na redução das emissões de carbono, que são responsáveis pelo processo de aquecimento global. E afirmou que o Brasil tem “a matriz energética mais limpa entre os países integrantes do G20” e responde hoje “por menos de 3% da emissão de carbono” apesar de ser “uma das 10 maiores economias do mundo.”

“O que apresento aqui são fatos, e não narrativas. São dados concretos e não frases demagógicas que rebaixam o debate público e, no limite, ferem a própria causa que fingem apoiar” – Jair Bolsonaro

EMISSÃO PER CAPITA – Tasso Azevedo aponta que o percentual de 3% de emissão de carbono é um fato, mas ele isoladamente não credencia o Brasil como um bom exemplo. O especialista aponta a comparação da emissão média per capita: a do mundo é de 7,1 toneladas de CO² e a do Brasil é de 10,4 toneladas de CO².

“Falar que a gente tem 3% das emissões globais, embora seja uma das 10 maiores economias, não quer dizer absolutamente nada. Basta pegar o tamanho do nosso PIB versus o PIB global, é muito menos do que 3%. (…) O que importa é a emissão per capita – a emissão per capita do Brasil é maior do que a do mundo. A gente ajuda a piorar a média do mundo, não o contrário”, diz  Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

No mais recente levantamento do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), divulgado pela organização não-governamental Observatório do Clima (OC), foi verificado que as emissões dos gases do efeito estufa no Brasil aumentaram 9,6% em 2019, em comparação com 2018.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Os especialistas ouvidos pelo G! demonstram um fato revoltante e inadmissível – o presidente Bolsonaro está sendo iludido com dados facciosos que lhe são fornecidos pelo Ministério do Meio Ambiente e pela assessoria do Planalto. O resultado é que o presidente brasileiro está se apresentando ao mundo como um idiota completo, que não sabe o que está dizendo. Nenhum setor do governo pode manipular estatísticas e iludir o chefe da Nação. É uma situação vexatória, que precisa acabar imediatamente(C.N.)

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