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quinta-feira, abril 04, 2019

Quando os fatos contrariam o presidente infalível Bolsonaro, pior para os fatos


Presidente Jair Bolsonaro em encontro com empresários brasileiros e israelenses em Jerusalém
As “teses” revisionistas de Bolsonaro estão espantando o mundo
Bernardo Mello FrancoO Globo
Jair Bolsonaro cultiva uma relação peculiar com a realidade. Ele não admite contestação, mesmo quando é desmentido com argumentos irrefutáveis. Se os fatos o contrariam, pior para os fatos. Na segunda-feira, o presidente atacou o IBGE. Motivo: o instituto revelou que o desemprego voltou a subir. Em vez de encarar o problema, Bolsonaro reclamou da estatística. “Parecem índices que são feitos para enganar a população”, esbravejou.
A pesquisa seguiu parâmetros internacionais, mas foi descartada por não confirmar a propaganda. “Fui muito criticado e volto a repetir: não interessam as críticas. Eu tenho que falar a verdade”, prosseguiu o presidente. Ele deu as declarações numa data sugestiva: 1º de abril.
DIA DA MENTIRA – Na terça-feira, Bolsonaro resolveu esticar o Dia da Mentira. Em Israel, embarcou no delírio do chanceler Ernesto Araújo e disse que o nazismo foi uma ideologia de esquerda. “Não há dúvida, né? Partido Socialista… Como é que é? Partido Nacional-Socialista da Alemanha”.
O presidente despejou o besteirol em visita ao Yad Vashem, museu que lembra as vítimas do Holocausto. A instituição informa aos visitantes que o nazismo foi uma das expressões do “crescimento de grupos radicais de direita na Alemanha”. Se não leu os livros escolares, Bolsonaro poderia ter consultado as plaquinhas.
É consenso entre historiadores que o nazismo foi um movimento de extrema direita. O primeiro campo de concentração, em Dachau, foi inaugurado com o envio de comunistas e socialistas. Só depois recebeu judeus, ciganos e homossexuais.
CAUSA ESPANTO – A insistência em Bolsonaro negar os fatos tem espantado a comunidade internacional. “Nunca ouvi uma voz séria na Alemanha argumentando que o nazismo foi um movimento de esquerda”, disse em setembro o embaixador alemão no Brasil, Georg Witschel.
Na semana passada, a emissora pública Deutsche Welle resumiu a falsa polêmica com sete palavras: “O absurdo virou discurso oficial em Brasília”. A Alemanha zela pela verdade histórica para que seu passado sombrio não se repita. Quando o Planalto exalta golpes e ditaduras, o Brasil toma o caminho oposto.

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