BRASÍLIA - Em uma longa carta enviada ontem aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-militante italiano Cesare Battisti, que obteve o status de refugiado político do governo brasileiro, faz sua defesa e afirma que, pela primeira vez depois de 30 anos, terá oportunidade de ser ouvido "plenamente" pela alta Corte do País.
Coube ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP) ler a carta de Battisti na tribuna do Senado. O italiano disse que nunca teve a oportunidade de se defender em seu próprio país, onde é acusado de praticar quatro crimes. "Nunca um juiz ou um policial me fez uma só pergunta sobre os homicídios cometidos pelo grupo ao qual pertencia, os Proletários Armados pelo Comunismo (PAC)", relatou
Dirigindo-se aos ministros do STF, afirmou não ser "um homem sanguinário como tem sido escrito". "Vossas Excelências podem também pedir a informação aos meus irmãos, Vicenzo e Domenico, como eu reagia quando era jovem e matavam um animal em nossa pequena exploração agrícola, mesmo que fosse um frango. Essa aversão ao sangue nunca diminui na vida de um homem. Pelo contrário aumenta. E nunca matei e nem quis matar qualquer pessoa", prosseguiu.
Battisti faz um relato dos crimes dos quais é acusado, atribuindo as denúncias aos chamados "arrependidos", pessoas que, sob tortura, aceitavam colaborar com a Justiça italiana em troca de liberdade e de uma nova identidade. "Todas as testemunhas arroladas que contaram que eu teria participado dos quatro assassinatos foram beneficiárias da delação premiada com consequente diminuição de suas penas ou sua libertação", afirma o refugiado.
Ele diz ainda que já não pertencia ao PAC quando três dos quatro assassinatos foram cometidos. "Não sou responsável por nenhum dos homicídios de que sou acusado, senhores ministros Constantemente fui utilizado no processo como bode expiatório, por arrependidos", continuou. Com a carta, Battisti encaminhou ao STF documentos que, segundo ele, podem reforçar sua defesa.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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