Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - De duas, uma: ou o presidente Lula é um estrategista político do nível de Maquiavel, Tayllerand ou Getúlio Vargas, ou será um dos homens de mais sorte em todo o planeta. Porque acaba de ver dois coelhos atingidos com uma só cajadada quando ninguém sequer o flagrou segurando o cajado. A crise do dossiê dos cartões corporativos trincou não apenas a candidatura de Dilma Rousseff à sucessão de 2010. Acaba de vitimar outro possível companheiro candidato, no caso, Tarso Genro.
Das trapalhadas da chefe da Casa Civil temos escrito nos últimos dias, valendo registrar a lambança do ministro da Justiça, que acaba de desmoralizar a Polícia Federal através de abominável interpretação da lei, incapaz de subsistir por quinze minutos.
Tarso Genro declarou que a PF só investigaria o vazamento do dossiê, para ele o único delito na crise. Ora, não será crime preparar uma lista de gastos com cartões corporativos envolvendo um ex-presidente da República e seus familiares, com o nítido propósito de ameaçar e intimidar as oposições? Mais ainda, mandar um amanuense qualquer elaborar essa relação, pinçando compras constrangedoras, também não caracteriza ilícito penal?
Mas tem mais. O ministro, pela lei, não tem o direito de interferir nas investigações da Polícia Federal, que pode agir sem provocação de ninguém, ex-officio, dizem os doutos, pelo simples fato de tratar-se de um órgão investigativo. Vale lembrar imagem feita pelo juiz Walter Mayerovitch, ontem, apontando o fracasso de Tarso Genro como titular da pasta da Justiça.
Para ele, mesmo empenhado em blindar o presidente Lula e em desatar nós jurídicos do primeiro mandato, jamais o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos incorreria num erro assim. Em nenhum momento de seus quatro anos de exercício, jamais atropelou a Polícia Federal. Sendo assim, completa Mayerovitch, um terremoto de escala cinco acaba de derrubar sua estante de livros de Direito, todos postos no chão.
Estando a meio caminho da fritura, prisioneiros na frigideira, Dilma Rousseff e Tarso Genro, como candidatos, vão para o mesmo calabouço onde já se encontram José Dirceu e Antônio Palocci. São ex-futuros pretendentes à sucessão presidencial. Patrus Ananias que se cuide, bem como Martha Suplicy.
Ambos poderão ser arcabuzados em outubro, se disputarem as prefeituras de Belo Horizonte e de São Paulo. Vão bem nas pesquisas, dispõem de liderança, mas, se o PT não se empenhar para valer em suas campanhas, morrerão na praia. E quem decidirá sobre o empenho do PT? O maior estrategista dos tempos modernos ou o maior sortudo da História do País. Imaginem o seu nome...
Pura coincidência?
Continua o festival mundial de libertação do Tibete, que na realidade encobre a tentativa de desmoralização da China, às vésperas do início das Olimpíadas. De início, vale a ressalva de que o governo chinês não tinha nada que invadir o Tibete e subordinar sua população ao fechado regime de Pequim. Só que isso aconteceu há cinqüenta anos e até agora jamais se viu tamanha onda de protestos e até de violência.
Aliás, nunca se tinha visto, também, a bandeira tibetana, que nem o maior dos geógrafos conhecia as cores. De repente, no entanto, o mundo inteiro é invadido por milhares dessas bandeiras, confeccionadas com seda e os melhores tecidos à venda nas prateleiras dos armarinhos. Como o Dalai Lama não tinha, não tem e não terá recursos para movimentar uma campanha assim, que vai de Nova York a Paris, de Londres a Roma e até a Nairobi, a conclusão surge evidente: forças ocultas, mas poderosíssimas estão por trás da campanha.
A quem interessa desmoralizar a China, prestes a deslumbrar o planeta com a mais bem organizada de todas as Olimpíadas, desde a Grécia Antiga? Quem cresceria ainda mais na nada ideológica opinião pública mundial? Dividendos monumentais para o regime chinês não adviriam da realização do certame, a ser assistido por três bilhões de terráqueos, pela televisão?
Assim, movimentaram-se as engrenagens do governo mundial invisível, sob a coordenação das grandes multinacionais, dos organismos de espionagem e informação das maiores potências ocidentais, quem sabe até do Vaticano e, principalmente, de milhares de tolos que vão para as ruas tentar apagar a chama olímpica. Tudo para que esse tipo especial de comunismo não renasça das cinzas da extinta União Soviética, assustando e contrariando os interesses do neoliberalismo.
Para ganhar dinheiro com a China, em especial aproveitando a ambição e o suor do pessimamente remunerado trabalhador chinês, estão todos aí. Mas uniram-se porque pretendem afastar a sombra do fantasma que um dia pairou sobre a Europa, irradiando-se para outros continentes.
A gente questiona o que estaria acontecendo caso a Olimpíada se fosse realizar na Arábia Saudita e não na China. Haveria alguma campanha tentando desmoralizar a cruel ditadura dominada por uma família que escraviza sua população?
Pergunta incômoda
Estaria a Controladoria Geral da União tão interessada em saber que tipo de massagem levou o então ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann, paga com cartão corporativo, se o atual deputado por Pernambuco não formasse na primeira linha de oposição ao governo? São dessas coisas que, como as bruxas, ninguém acredita, mas todos sabem existir.
De repente, caem de tacape e borduna sobre Jungmann, alimentando a imprensa com a informação de que quando ministro do governo Fernando Henrique, hospedado no Copacabana Palace, certa vez ele foi massageado. Será dado o mesmo tratamento ao penteado feito pelo cabeleireiro de dona Marisa ou ao barbeiro de seu marido?
Fonte: Tribuna da Imprensa
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