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sexta-feira, abril 04, 2008

Eleições misteriosas

`Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Nem só de sucessão presidencial transcorrerá 2010. É sempre bom lembrar que naquele ano o País estará elegendo, também, 27 governadores, dois terços do Senado, toda a Câmara dos Deputados e todas as Assembléias Legislativas.
A eleição presidencial não deixará de subordinar as demais, ou seja, os diversos candidatos ao Palácio do Planalto estarão trabalhando para eleger os indicados pelos seus partidos e coligações aos governos estaduais e ao Congresso.
Mesmo assim, não haverá cláusula de subordinação na decisão popular. Faz tempo que as chamadas chapas completas deixaram de funcionar. Cresce a cada ano o poder de discernimento do eleitor, que escolhe o candidato á presidência da República de um partido e, para governador, um seu adversário. Tome-se São Paulo, que em 2006 votou majoritariamente no Lula para o Palácio do Planalto e em José Serra para o Palácio dos Bandeirantes.
Com relação à Câmara e ao Senado, outra lição das décadas recentes revela que as maiorias formam-se depois, com o jogo do toma lá, dá cá, desenvolvido pelos vencedores, mais o troca-troca de partidos, nem tão proibido assim. Fica difícil saber quem fará as maiores bancadas, isto é, se o PMDB manterá a posição atual, se o PT, em vez de crescer, diminuirá por conta dos percalços do poder, ou se os tucanos deixarão de voar baixo, como hoje.
Mesmo assim, vale uma incursão no reino das especulações. Caso o PT eleja o presidente da República, por milagre Dilma Rousseff, ou, sem surpresa alguma, o próprio Lula, na armação do terceiro mandato, será sinal de que os companheiros dominarão os governos dos principais estados?
Nem pensar. Do Rio Grande do Sul ao Amazonas, raramente têm surgido, desde já, favoritos filiados ao PT. São exceções Fernando Pimentel, em Minas, e Jacques Wagner, podendo reeleger-se na Bahia. Ainda assim, com a ressalva de que os mineiros rejeitam os extremos, e de que o carlismo ainda é uma força entre os baianos.
As eleições para as prefeituras das capitais, em outubro, poderão constituir-se num ensaio geral para as eleições de governador, ainda que como regra os candidatos a prefeito se obriguem a jurar o cumprimento do mandato até o fim. Numa palavra, ao menos até agora as eleições de 2010 surgem como as de mais difícil prognóstico, desde a redemocratização. Continuará assim?
Lições de JK
Empenhado em viajar até duas vezes por semana para os estados, sempre comparecendo a palanques e falando a multidões, o presidente Lula vem sendo alertado por amigos e assessores para preparar-se, porque um dia desses, em vez de aplausos, poderá receber apupos. Quem sabe até mesmo amanhã, em Porto Alegre, depois de tantas falas no Rio, segunda-feira?
Ninguém gosta de ser vaiado, mas o Lula, em especial, fica desconcertado e irritado quando, bissextamente, enfrenta esses contratempos.
Deveria, o presidente da República, atentar para as lições de um de seus antecessores. Juscelino Kubitschek enfrentava forte oposição nos primeiros dois anos de seu mandato. No Rio, a classe média insurgia-se contra a construção de Brasília, os estudantes protestavam contra a política de Roberto Campos no BNDE e diante dos rotineiros aumentos nos preços das passagens dos bondes.
Recebendo a diretoria da UNE no Palácio do Catete, foi desafiado a comparecer à sede da explosiva entidade. Marcou dia e hora e lá chegou. Antes mesmo de descer do carro, foi vaiado por grande multidão, que manteve os apupos na entrada do prédio, na subida para o segundo andar e principalmente no auditório lotado, quando entrou.
Permanecendo de pé, de segundo a segundo olhava o relógio de pulso. Como tudo no mundo, as vaias também cessaram. Ao sentar-se, JK dirigiu-se à meninada e disse: "Bendito o país em que seus estudantes podem vaiar o seu presidente durante quatro minutos, com a certeza de que nada lhes acontecerá."Seguiram-se cinco minutos dos mais vibrantes aplausos...
Tancredo e Magalhães
Para ficarmos nas lições da História, outro episódio que o Lula deveria conhecer. Depois da virulenta crise para a posse do vice-presidente João Goulart, a pacificação veio por conta do estabelecimento do sistema parlamentarista no País, uma aberração mas a derradeira saída para evitar a guerra civil. Por uma dessas artes do destino, Tancredo Neves foi escolhido primeiro-ministro, quer dizer, chefe do governo. Havia sido derrotado, meses antes, por Magalhães Pinto, na disputa pelo governo de Minas.
A primeira visita de Tancredo, depois de empossado, foi a Belo Horizonte. Magalhães foi esperá-lo no aeroporto, como determinava o protocolo. Apesar de adversários políticos inconciliáveis, socialmente davam-se bem. Desfilaram em carro aberto pela Avenida Afonso Pena, num período em que o novo governador andava impopularíssimo. Da multidão disposta nas calçadas vinham rumores e quase vaias. Um gaiato gritou lá do meio: "Toma jeito, careca!"
A referência, claro, era para Magalhães Pinto, sem um fio de cabelo. Mas Tancredo também era careca. O constrangimento nem tinha terminado quando o governador, virando-se para o primeiro-ministro, comentou: "Puxa, Tancredo, não sabia que tão depressa assim você tinha ficado impopular..." Lição para o Lula: se por hipótese for vaiado em suas viagens pelo País, repasse as vaias para o governador que estiver a seu lado...
Fonte: Tribuna da Imprensa

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