Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - A semana começa com uma pergunta ainda sem resposta: por que o presidente Lula solidarizou-se de modo tão ostensivo a Hugo Chávez, defendendo a permanência continuada do presidente da Venezuela no poder e, em paralelo, exaltando a prática democrática naquele país? Solidariedade sul-americana? Pressões do eixo Caracas-La Paz? Ocupação de espaços diante da comunidade internacional, dado o desgaste de Chávez depois da reprimenda do rei da Espanha?
Algum motivo levou Lula a declarações no mínimo inusitadas, cujos efeitos no Congresso foram desfavoráveis ao governo. Afinal, decide-se sobre o ingresso da Venezuela no Mercosul, aumentando a resistência não apenas das oposições, mas de fiéis aliados como José Sarney e outros.
Há quem suponha uma espécie de toma-lá-dá-cá, porque Chávez poderá influir para que seu acólito Evo Morales comprometa-se a destinar ao Brasil boa parte do gás suplementar a ser extraído com dinheiro brasileiro, via Petrobras. Está prevista para o próximo dia 12 visita do Lula ao companheiro presidente da Bolívia, por enquanto disposto a não se comprometer com qualquer remessa adicional de gás para o Brasil.
Parece óbvio que, depois do entrevero com o rei da Espanha, Hugo Chávez sentiu-se enfraquecido e buscou apoio de seus vizinhos. Terá telefonado para o colega brasileiro atrás de apoio explícito, recebido logo depois. Sem esquecer que Lula, nas declarações acima referidas, chegou a ironizar o chefe de estado espanhol, sugerindo constituir o rei um corpo estranho em conclaves de presidentes da República e primeiros-ministros latino-americanos.
De todo o episódio fica um resíduo incômodo: e a Espanha, não se terá agastado com a intervenção do presidente brasileiro? Afinal, aquele país ocupa cada vez mais espaços na parceria econômica com o Brasil, tornando-se o segundo maior investidor entre nós, depois dos Estados Unidos.
De qualquer forma, haverá desdobramentos internos e externos, depois da entrevista do chefe do governo brasileiro, porque a conclusão surge inevitável: se na Venezuela é democrático Chávez disputar uma eleição depois da outra, perpetuando-se no poder, por que será diferente no Brasil?
Do calor para a ebulição
No plano interno, o calor poderá terminar em ebulição. Quarta-feira a Comissão de Constituição e Justiça do Senado deverá pronunciar-se pela constitucionalidade do pedido de cassação do mandato de Renan Calheiros por quebra de decoro parlamentar. Um dia depois será a vez de o plenário pronunciar-se.
As sessões serão abertas ao público, transmitidas pela mídia, ainda que os votos precisem ser dados em segredo. Prevê-se de hoje para amanhã a renúncia do senador alagoano à presidência da casa, da qual se encontra licenciado. Com isso, ele dobraria certas resistências nas bancadas da base do governo e até nas oposições, em defesa de seu mandato parlamentar.
Fica difícil e temerário fazer previsões, mas é provável que Renan escape da cassação, até porque vem atuando no sentido de que os senadores ainda sob sua influência aceitem votar a prorrogação da CPMF. Esse resultado futuro o faria credor do governo. A contrapartida seria a obrigação de a bancada do PT votar pela sua absolvição.
Plataformas expostas
Faz muito que a Marinha preocupa-se com a fragilidade explícita de nossas plataformas submarinas, que o futuro só fará multiplicar. Cabe à força naval a defesa do litoral brasileiro, onde flutuam esses singulares navios de extração de petróleo em águas profundas. Sucateada como vem sendo, a Marinha carece de meios para uma defesa eficaz das plataformas.
Dirão alguns ingênuos e outro tanto de malandros ser essa preocupação indevida, por que a quem interessaria interromper o fluxo de petróleo retirado de nossas costas? Mais ainda, acrescentarão que se alguma potência estrangeira decidisse atacar, seria com mísseis de longo alcance ou aviões supersônicos de bombardeio, de difícil detecção a tempo de neutralizá-los.
Não é bem assim. Apesar de a Humanidade rejeitar historicamente as guerras, elas estão aí mesmo, através dos tempos, umas generalizadas, outras setoriais. Sem esquecer a hipótese de o terrorismo dar o ar de sua graça, como lembrou o ministro da Defesa esta semana.
Acresce que um país só é respeitado na comunidade internacional quando dispõe de avançado potencial militar. Não entramos e nem entraremos como membro permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas enquanto não dispusermos de pelo menos um submarino nuclear. Do jeito que as coisas vão e apesar dos esforços da Marinha, não conseguiremos fabricar um antes de dez anos. Multiplique-se esse prazo, se pretendemos construir, aqui, mísseis e aviões supersônicos de geração avançada.
Tem saída? Tem. Ainda há dias vimos, pela televisão, imagens de um porto militar da Rússia onde literalmente enferrujam pelo menos dez submarinos nucleares. Por que não nos candidatarmos à aquisição de dois ou três? Pelo jeito, essas belonaves encontram-se expurgadas da doutrina marxista e poderiam, com algum investimento, ser incorporadas à nossa frota. Vale o mesmo para mísseis, que a Ucrânia já colocou no mercado, ou modernos aviões de ataque, agora capitalistas.
Investir nas forças armadas é tão importante quanto investir em educação e saúde. Resta saber se as palavras de Nelson Jobim alimentarão uma falsa retórica ou poderão constituir-se em mecanismo de preservação de nossa soberania.
Os que falam e os que votam
Vale aguardar as próximas quarta e quinta-feiras para diferenciar, no Senado, os que falam e os que votam. Porque tanto na Comissão de Constituição e Justiça quanto no plenário serão públicas as sessões de julgamento do mandato de Renan Calheiros. Poderão discursar quantos senadores quiserem, nas duas ocasiões, e, em especial, no plenário, prevê-se contundentes pronunciamentos contra o já agora ex-presidente do Senado.
Essa posição dá dividendos e votos, expostos todos às luzes da mídia. Imaginando que na CCJ o processo venha a ser considerado constitucional pela maioria, senão pela totalidade, voltam-se as atenções para o plenário, um dia depois. Não se duvida de que até nas bancadas do governo surgirão acusações candentes em prol da cassação do representante de Alagoas.
O problema será conferir a palavra fulanizada com o voto secreto. No fundo, muitos dos que baterem com firmeza no senador deverão absolvê-lo da decisão final. São coisas da política, mas identificá-los não parece missão impossível, mesmo sem a tentação de ser violado o painel de votações...
Fonte: Tribuna da Imprensa
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