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domingo, janeiro 02, 2022

Há 30 anos




Na antiga URSS o medo era de tal maneira forte e entranhado que as leis podiam dar-se ao luxo de ser tão democráticas e benévolas como agora as proclamações do Secretário-Geral das Nações Unidas. 

Por Jaime Nogueira Pinto (foto)

Há trinta anos, no dia de Natal de 1991, às 19h32, hora de Moscovo, a bandeira vermelha descia na frontaria do Kremlin e era substituída pela bandeira tricolor da Rússia.

Gorbachev anunciava publicamente que abandonava a liderança da União Soviética e que cedia os seus poderes, na Federação Russa, a Boris Yeltsin. Melancolicamente, lembrava os seus esforços reformistas e pacificadores que, entretanto, tinham levado ao fim do Regime. No dia seguinte, a Câmara Alta da URSS, o Soviete Supremo, reconhecia e referendava esses factos.

Em 69 anos, e com muita culpa expiada e por expiar pelo caminho, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ficava muito aquém da prometida nova sociedade de eternos “amanhãs que cantam.”

A encarnação da alma da utopia comunista no corpo da velha Rússia começara por ser um desafio à própria ciência marxista da História.

O líder da revolução de Outubro não ficara à espera das condições objectivas que George Plekhanov, o pensador do marxismo russo, indicara como condições necessárias para uma revolução marxista: seguira a linha de aventureiros, como Sergei Nechaev e Peter Tkachev, que sustentavam que um pequeno grupo de revolucionários decididos podia assaltar e tomar o poder na Rússia, sem esperar pelo amadurecimento do capitalismo.

Plekhanov negava tal possibilidade. Ou melhor, admitia que, se tal sucedesse, o resultado não seria uma harmoniosa sociedade socialista, mas o advento de uma “casta socialista” que substituiria as elites czaristas, numa sociedade de “comunismo patriarcal e autoritário”. Mudava a casta, mas mantinham-se o jugo e a opressão. Lenine era, para ele, da “raça dos Robespierre”: se os bolcheviques tomassem o poder, iriam impor uma ditadura comunista. Plekhanov morreria de tuberculose em 1918, certo de que assim seria – e só vira o princípio do filme.

Terror e reféns

No Verão-Outono de 1918 começava o Terror Vermelho, com a liquidação de reféns “burgueses”, como represália pelos atentados contra personalidades bolcheviques. Depois do atentado contra Lenine, em Moscovo, e contra Moisés Uritsky, chefe da Cheka de Petrogrado, 1300 reféns “burgueses”, “inimigos de classe” detidos em campos de concentração, eram executados. Em Setembro-Outubro, mais de 10 mil desses reféns eram mortos pela Cheka, a polícia política bolchevique. Em poucos meses, o novo regime comunista tinha executado mais presos políticos do que o czarismo entre 1825 e 1917.

O terror sistemático marcou a natureza do partido e do regime que salvou. A globalização do comunismo e o receio, na Europa, de que se repetisse a história da Rússia, levaria a uma reacção autoritária preventiva e a uma progressiva militarização da política em Outubro de 1922, com a chegada ao poder, em Itália, do movimento fascista de Mussolini – que depois inspiraria, em versão apocalíptica, o “Reich milenar” de doze anos de Adolf Hitler.

A morte e o processo de sucessão de Lenine saldaram-se com o triunfo de Estaline, que manteve e reforçou o Grande Terror, nos anos 30, a partir do assassinato de Kirov. No pós-estalinismo, os comunistas da Rússia e de todo o mundo, incomodados com as acusações de violação dos direitos humanos, procuraram responsabilizar Estaline – um “homem mau”, um tirano perverso – pela corrupção e degeneração da utopia. O comunismo era bom, mas havia comunistas maus, ou comunistas que não eram bem comunistas ou que não eram comunistas convictos. Só que Estaline era um comunista convicto, como recentemente o vem comprovar o historiador britânico Geoffrey Roberts, em Stalin’s Library – A Dictator and his Books (com publicação prevista para Fevereiro de 2022, pela Yale University Press).

A profecia de Plekhanov realizou-se plenamente: estabeleceu-se uma tirania comunista imposta pelo terror e assistiu-se à substituição de uma elite privilegiada, a aristocracia czarista, pela classe dirigente ou “velha-guarda” do Partido – os privilegiados, cuja existência Yuri Slezkine descreve em The House of Government: A Saga of the Russian Revolution (Princeton University Press, 2017). Mas o novo privilégio instaurado era também ele temeroso da mão pesada de uma qualquer inquisição que, em nome da pureza revolucionária, lhe pudesse cair em cima. Como cairia, a partir de 1936 e dos processos de Moscovo, transformando o privilégio de alguns num calvário de humilhação, sofrimento, confissão e expiação.

Para vencer a invasão alemã, Estaline ressuscitou o patriotismo do povo russo e deu tréguas à Igreja Ortodoxa. No fim da guerra, pela força das armas, estendia o comunismo – misturado com a hegemonia russa – aos países de Leste, do Pacto de Varsóvia. E, em 1949, Mao ganhava a guerra civil e o poder na China.

O comunismo parecia imparável e o socialismo real aparecia como a utopia igualitária das versões da propaganda. Mas não. Era, afinal, uma autocracia, com uma classe política dominante, com o monopólio do poder, da informação, dos privilégios e uma polícia política que vigiava e punia a dissidência de pensamentos, palavras, actos e omissões. E na ausência de economia privada e de sociedade civil, como poderes independentes, era o poder político do Partido Comunista que tudo controlava. E, no entanto, a Constituição de 1936, a Constituição de Estaline, era generosa nas concessões de direitos humanos e poética na linguagem.

O medo era tão forte e entranhado na população, o medo geral dos dirigentes e dos dirigidos, dos de cima e dos de baixo, que as leis podiam então dar-se ao luxo de ser tão democráticas e benévolas como agora as proclamações do Secretário-Geral das Nações Unidas.

Com a morte de Estaline, após uma luta de oligarcas, o poder passou para Kruschev, responsável pela repressão do levantamento popular húngaro. Kruschev foi depois substituído por Brejnev, que governou quase 20 anos. Seguiram-se, em breves intervalos, Andropov e Chernenko. Em Março de 1985 chegou Gorbachev que, ao retirar o medo da equação num regime fundado no medo, levou ao colapso do comunismo e da URSS.

Primeiro, foi a sua doutrina de não-intervenção nos países satélites: ao contrário do que acontecera em Berlim, em 1953, em Budapeste, em 1956, e em Praga, em 1968, Gorbachev retirou aos líderes comunistas do Pacto de Varsóvia o apoio soviético para a repressão dos movimentos populares internos. Assim, as resistências da Polónia, com o Solidariedade, e da Hungria, ao abrirem as fronteiras no Verão de 1989, quebraram o tabu do terror. Depois, foi a separação de algumas repúblicas soviéticas. E finalmente, no contragolpe ao golpe dos ortodoxos do Verão de 1991, o poder na Rússia caiu.

Depois da queda, não faltaram sábios a proclamar a inevitabilidade do acontecido. Mas a verdade é que foram muito poucos os futurólogos que não eternizaram a URSS nas suas previsões. Emmanuel Todd que, em 1976, publicara em França La Chute Finale – Essai sur la décomposition de la sphère soviétique, foi a excepção. O livro de Todd constatava o fracasso da economia soviética e analisava as estatísticas oficiais que, mesmo que falseadas, não deixavam de revelar uma sociedade doente, com altos índices de suicídio, de mortalidade infantil, de alcoolismo.

Culpa, autocrítica, confissão de incorrecção, expiação

Além dos fracassos políticos, institucionais e económicos, a grande vulnerabilidade da utopia era ser, precisamente, uma utopia aplicada: um projecto de mudar pela força a natureza humana através de um sistema político. O projecto foi denunciado desde o início por grandes escritores: de Zamiatin, em Nós, a Bulgakov, em Margarida e o Mestre. Não havia eu, havia nós; tudo o que não era ideologia, pensamento correcto, linha do Partido, linha geral, não existia. A censura operava por fora – os bolcheviques tinham começado logo por tomar conta das tipografias e dos stocks e fábricas de papel e por controlar jornais e editores – mas operava também, ou sobretudo, por dentro, inculcando o medo, o sentimento de culpa, a interiorização da culpa, a autocensura, o ímpeto inquisitório ou de denúncia cruzada de quem saísse da linha correcta, da linha do Partido.

Para Nikolai Berdyaev, em As Origens e o sentido do comunismo russo (1937), as raízes da famosa autocrítica estalinista estavam na consciência do homo sovieticus e na tradição do arrependimento penitencial cristão:

“Nenhum povo do Ocidente viveu com tanta força as questões da penitência. Foi na Rússia, precisamente entre as classes ditas privilegiadas, que nasceu o tipo tão especial do ‘gentilhomme repentant’. Arrependido, não de uma falta cometida pessoalmente, mas da falta geral, do pecado social.”

Há exemplos famosos na história da literatura russa do século XIX: Nicolau Gogol queimou o segundo volume de Almas Mortas por ordem do padre Matvei Konstantinovsky, seu confessor; e Tolstoi, no final da vida, exprimia uma espécie de complexo de culpa de classe, de culpa social, perante os camponeses.

Com a ortodoxia do socialismo e os seus inquisidores a manipularem a burocracia das consciências no “paraíso na terra” em nome do proletariado, os intelectuais e os dirigentes comunistas acusados de desviacionismos exacerbaram esses sentimentos. Alguns, como os condenados dos processos de Moscovo, fizeram-no sob tortura e para tentar salvar as famílias; mas outros, muitos, interiorizaram o escrúpulo de correção, pedindo perdão pela sua condição pequeno-burguesa. Outros ainda, como o famoso Isaac Bábel, foram ao ponto de renegar expressamente as suas obras principais.

Nos tempos finais da URSS, em plena Perestroika, Vitali Chentalinski, escritor e jornalista, conseguiu ter acesso aos processos dos intelectuais e escritores nos arquivos da Lubianka e publicou um livro sobre o tema, em França, em 1993. O livro, Les Esclaves de la Liberté – Dans les Archives Litterairers du KGB, conta a saga dos escritores presos e dos romances, diários íntimos e correspondência apreendidos e destruídos. A autocrítica de Isaak Bábel, o romancista do regime conhecido pelos seus clássicos Cavalaria Vermelha e Contos de Odessa, é particularmente eloquente:

“Cavalaria Vermelha serviu de pretexto para exprimir o meu péssimo humor, que não tinha nada que ver com o que se passava na URSS. Daí as descrições forçadas da crueldade e do absurdo da guerra civil, a introdução artificial de elementos eróticos, uma sucessão de episódios turbulentos e chocantes; bem como o total encobrimento do papel do Partido na organização da grande Unidade do Exército Vermelho que foi o Primeiro Exército de Cavalaria, formado por cossacos que não estavam ainda eivados da consciência proletária (…) Quanto aos meus Contos de Odessa, reflectiam o meu desejo de me afastar da realidade soviética, de opor ao trabalho da sua construção quotidiana o mundo semi-mítico e pitoresco dos bandidos de Odessa, cuja descrição romântica levaria, involuntariamente, a Juventude Soviética a imitá-los.”

Em Abril de 1939, preso e em busca de expiação, de purificação e de perdão, Bábel, o “engenheiro de almas” socialista, fazia um derradeiro apelo epistolar ao chefe da NKVD, o terrível Laurenti Béria:

“Cidadão Comissário do Povo, durante a instrução, sem me poupar, movido unicamente pelo desejo de purificação, contei os meus crimes (…) Peço-lhe também que me autorize a esboçar o plano de um romance relatando o itinerário (…) que me levou à perdição e aos crimes contra a pátria socialista. Este livro surge no meu cérebro com um rasgo penoso e impiedoso. Sinto que a dor da inspiração e das forças me voltam. E queima-me a sede de trabalho, a sede de expiar, a sede de estigmatizar esta vida que passei de maneira incorreta!”

Não lhe valeu de muito. Depois de 72 horas de interrogatório, sob tortura, acabaria por confessar-se membro da organização Trotsky e recrutado por André Malraux para espiar para o governo francês.

Guardaram-no no Segredo durante meses, reservando-o, talvez, para um qualquer auto-de-fé do socialismo proletário, um processo de intelectuais dissidentes, igual ao dos políticos e dos militares. Mas, a 26 de Janeiro de 1940, foi subitamente julgado, condenado à morte e executado na madrugada seguinte.

A sua morte foi mantida em segredo durante anos e a sua obra só seria reeditada na URSSS depois do Degelo kruscheviano.

Hoje, trinta anos depois do anúncio do fim da União Soviética, e perante a afirmação de uma nova ortodoxia da utopia e de uma nova linha geral da correcção, o espírito e os métodos dos processos estalinistas parecem ter renascido das cinzas ou dos arquivos da Lubianka, com os restauros que o tempo e as circunstâncias impõem, para eivar dos novos dogmas o cidadão comum, transformando-o num censor, num auto-censor, num informador, num delator exemplar. Na nova burocracia da correcção, os comissários políticos globais podem ser mais fluidos, mas revelam-se igualmente hábeis na selecção dos desvios à linha geral, na identificação das incorrecções, dos incorrectos e das vidas incorrectas, na instrumentalização da culpa, da culpabilização, da censura e da autocensura, na instigação à confissão, à acusação, à delação e à condenação. E no silenciamento de tudo o que possa contradizer as declarações humanitárias e as flores de retórica do melhor dos mundos.

A História ensina-nos que é assim que se queimam memórias, escritos, livros, vidas; que é assim que se verga e mata o espírito e se seca o pensamento, sem que neutros e inclusivos amanhãs cantem. Mas o que é a História para quem parece querer voltar a fazer do passado tábua-rasa?

Observador (PT)

No ano que vem a gente não morre mais




Não é fácil, numa época de confraternizações, como foi o Natal e será o ano-novo, puxar o freio de mão nas comemorações coletivas. Mas é preciso cuidado

Por Luiz Carlos Azedo 

A música Sujeito de sorte, de Belchior, foi um dos hits de 2021, na voz de Emicida, Maju e Pablo Vittar, desde que a velha canção do álbum Alucinação foi sampleada pelo rapper paulista no álbum AmarElo, ganhador do Grammy Latino. A gravação ao vivo, no Teatro Municipal de São Paulo, lotado de moradores da periferia de São Paulo, deu origem a um excelente documentário, uma boa pedida para quem ainda não viu e não quer “olhar pra cima” (ou já olhou) nessa virada de ano. Emicida se destaca não apenas por sua atuação artística, mas também por suas ideias generosas, que trazem para o centro do debate a realidade das periferias urbanas e puxam os fios de história que ligam o hip hop brasileiro ao nosso samba tradicional.

O sucesso da regravação de Sujeito de sorte tem a ver com os tempos de cólera política e de pandemia que estamos vivendo: “Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte/ Porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte/ E tenho comigo pensado/ Deus é brasileiro e anda do meu lado/ E assim já não posso sofrer no ano passado/ Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro/ Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro/ Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro/Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro”.

Esses versos da canção de Belchior são atribuídos ao mitológico cantador Zé Limeira (1886-1954), um repentista analfabeto, nascido em Teixeira, na Paraíba, imbatível nos seus improvisos surrealistas, segundo o jornalista Orlando Tejo, seu conterrâneo, autor do livro “Zé Limeira – O Poeta do Absurdo”, publicado em 1973. O repentista dominava a rima e a métrica, mas não dava a mínima para a oração, o que era considerado um insulto pelos cantadores de sua época. Entretanto, fazia muito sucesso de público, perambulando pelos sertões nordestinos, em jornadas de até 60 quilômetros a pé, num dia, para participar de desafios com outros cantadores famosos, como o Cego Aderaldo.

Após o sucesso de Belchior, Tejo pleiteou a autoria dos versos, o que gera grandes controvérsias. Não havia documentação sobre a obra de Zé Limeira, cuja vida foi romanceada por Tejo, um defensor da métrica, com suposto propósito de provocar os poetas concretistas. Não importa, a distopia sertaneja de Zé Limeira influenciou outros artistas, como Belchior e Zé Ramalho, e tem tudo a ver com o momento que o país está vivendo, inclusive nessa passagem de ano, na qual uma epidemia de Influenza (H3N2) tomou de assalto as nossas cidades, lotando as emergências do SUS, e a nova variante da Covid-19, a sul-africana Ômicro está chegando com tudo, sem que o país esteja devidamente preparado para ela.

Pensamento positivo

Três doses no braço da maioria dos velhinhos e outros grupos de risco e uma variante aparentemente menos letal, embora altamente transmissível, não justificam as medidas adotadas por Marcelo Queiroga, o falso ministro da Saúde, e Milton Ribeiro, o da (des)Educação, contra a vacinação de crianças e a obrigatoriedade de apresentação do certificado de vacinação nas escolas, respectivamente. São dois negacionistas alinhados com o presidente Jair Bolsonaro, que novamente erra no diagnóstico da pandemia (talvez pense: agora sim, a Ômicron é uma “gripezinha), e aposta outra vez na “imunização de rebanho” para não atrapalhar a economia.

Essa política nos levou a 618 mil mortos até agora. A nova onda da pandemia precisa ser tratada sem alarmismo, mas com responsabilidade, ou seja, com medidas adequadas: vacinação em massa, uso generalizado de máscaras, asseio permanente das mãos e distanciamento social. Não é fácil, numa época de confraternizações, como foi Natal e será o ano-novo, puxar o freio de mão nas comemorações coletivas. Mas a realidade já está mostrando que é preciso cuidado redobrado, ainda mais quando o próprio governo federal sabota a saúde pública e expõe a população aos seus desatinos.

Entretanto, eis a outra face do Brasil, aquela que vai à luta por dias melhores, que adota os devidos cuidados e resiste nos pequenos negócios, nas atividades agrícolas, industriais e de serviços, na cultura e nas atividades essenciais, entre as quais as da saúde, da limpeza urbana, da segurança pública e tantas outras, sem as quais seria impossível os encontros familiares na passagem de ano. Esqueçam o presidente Jair Bolsonaro e seus passeios de jet sky, oremos por milhares de pessoas que chapinham na lama para tentar salvar o que lhes restam de bens, após as enchentes na Bahia, ou buscam socorro médico nas emergências do SUS em todo o país. Como o sertanejo Zé Limeira, vamos pensar positivamente em 2021: ano que vem a gente não morre mais.

Feliz ano-novo!

Correio Braziliense

Ano de 2021 foi marcado pela desorientação governamental e pela insatisfação popular




Por Pedro do Coutto

O ano de 2021, que terminou na meia-noite de ontem, passagem de 31 de dezembro para primeiro de janeiro, foi marcado especialmente por uma desorientação geral do governo Bolsonaro que prejudicou fortemente a população brasileira, seja pelo congelamento de salários, pela alta dos preços e até pela obstrução à aplicação das vacinas essenciais à vida humana.

Além disso, o Congresso marcou a sua atuação por uma confusão absoluta. Fatiou a emenda constitucional dos precatórios, algo jamais visto na história parlamentar do Brasil, e concordou com uma emenda do Senado ao projeto inicialmente aprovado pela Câmara. Emenda aplicada à emenda constitucional ? Só se emenda aquilo com o que não se concorda. Caso contrário, não haveria necessidade de emenda alguma.

AUSÊNCIA DO GOVERNO – As enchentes da Bahia, principalmente, e as inundações ocorridas em Minas Gerais e São Paulo, revelaram uma ausência do governo federal. O governo Bolsonaro chegou ao ponto de rejeitar uma ajuda oferecida pela Argentina, embora tenha aceito uma ajuda do Japão. Ajuda não se recusa. Isso é algo que revela uma imaturidade política completa. O presidente da República rejeita qualquer diálogo com forças políticas que considere de centro-esquerda ou de esquerda.

Acrescentando caráter eleitoral à controvérsia do Planalto com o governador Rui Costa, que é do PT, Bolsonaro esquece que a Bahia é um grande colégio eleitoral do país e que isolando o governador e o próprio estado, perderá votos preciosos em sua campanha em 2022. O governador Rui Costa é um administrador bem aceito pela opinião pública de seu estado, tanto que se reelegeu em 2018 com 62% dos votos.

Bolsonaro que também perde votos com a sua irredutível campanha contra a vacinação, agora incorpora seu desgaste ampliando-o pela reação natural da Bahia contra aquele que não levou em consideração as milhares de mil pessoas atingidas pelas inundações, enquanto ele encontrava-se de férias, passeando de jet ski nas praias de Santa Catarina e visitando até o Parque Beto Carrero.

INCITAÇÃO AO CRIME – Para terminar por hoje sobre as observações da política de Bolsonaro vemos que, em entrevista a Matheus Vargas e Raquel Lopes, Folha de S. Paulo, o almirante Antônio Barra Torres acusa o presidente da República de incitação ao crime contra os integrantes da Anvisa, ameaçando divulgar os seus nomes publicamente por terem aprovado por unanimidade a aplicação de vacinas a crianças entre 5 e 11 anos de idade.

Este absurdo reflete bem a atuação de um governo que age contra si próprio, contra a reeleição, contra o povo de modo geral e até contra a infância em particular, posicionando-se, não se sabe o motivo, contra a sua imunização.

Tribuna da Internet

Terror da esquerda: o homem mais odiado dos Estados Unidos.




Tucker Carlson toca o terror na esquerda, fala o que poucos têm coragem e exerce um enorme poder de influência sobre a opinião conservadora. 

Por Vilma Gryzinski

Com Donald Trump fora das redes, patinando para retomar sua projeção e disputar com Joe Biden em 2024, Tucker Carlson praticamente ocupou o espaço de maior guru da direita nos Estados Unidos.

Mesmo quem não assiste o Tucker Carlson Tonight, o programa campeão da Fox, e passa mal só de pensar na risadinha irônica do apresentador – uma hiena de história em quadrinhos, dizem os inimigos -, acaba indiretamente envolvido nos temas que aborda e na forma pugilística com que enfrenta qualquer assunto.

Tucker Carlson é tão de direita que às vezes parece deslocado na própria Fox, o canal criado sob o brilhante princípio de que faltava um espaço para os conservadores na tevê americana – ideia plenamente recompensada pelo retorno do público: no mundo pós-Trump, a Fox se reergueu e terminou o ano à frente dos competidores, a CNN e a MSNBC.

Enquanto outros caíam, devastados pela ausência avassaladora, em termos de geração de notícias, de Donald Trump – o site Politico perdeu nada menos que 48% dos acessos; o Washington Post teve uma queda de 34% de visitantes únicos -, Tucker, como é universalmente chamado, continuou incólume. Aliás, melhorou, do ponto de vista de seus próprios interesses.

O apresentador foca mais nas batalhas culturais, o assunto de nossos tempos, de uma forma tão visceral que às vezes parece irreal – ou apenas encenada. Apela ao arco que vai desde os americanos conservadores que se sentem deslocados num ambiente de grandes mudanças sociais até as franjas mais obscuras dos que se identificam com teses dos supremacistas brancos.

Em alguns casos, acaba acertando. Enquanto toda a imprensa convencional invocava as fúrias divinas contra Kyle Rittenhouse, o jovem que matou dois manifestantes em Kenosha, durante a explosão de protestos coordenada pelo Black Lives Matter, Tucker fechou questão no campo oposto. Ganhou o dia quando Rittenhouse foi absolvido, com o júri, orientado por fotos e vídeos, aceitando a tese da legítima defesa.

Ganhou também a primeira entrevista com Rittenhouse – uma sequência constrangedora de perguntas chapa branca.

Tucker Carlson é espertíssimo e tem uma equipe competente, que o escuda com fatos incontestáveis. Por exemplo, os da autópsia de George Floyd, mostrando a presença de drogas perigosíssimas, como o fentanil, e a ausência de sinais de que tenha morrido por asfixia, ao contrário do que parece com as imagens terríveis do policial Derek Chauvin (prisão perpétua) comprimindo-o com o joelho contra o chão.

Mencionar fatos assim virou anátema na imprensa tradicional – mesmo que uma coisa não elimine a outra: ele estava surtando com drogas e foi morto de forma brutal e criminosa. Tucker Carlson aproveita para jogar sozinho no campo.

Cerca de três milhões de pessoas assistem este jogo toda noite – o maior público da história para um canal a cabo, embora equivalente a apenas menos de 1% da população americana. O que conta é a repercussão. Mesmo a negativa, como as várias campanhas para que anunciantes o boicotem – alguns atenderam, outros continuaram – e até pedidos diretos de sua cabeça feitos por organizações fortes, como a a ADL, a Liga Antidifamação, que nasceu para combater o antissemitismo.

“O estilo polarizador de Carlson deixa os espectadores desesperados para saber qual é a próxima”, anotou o site Mediate, que o escolheu como o nome mais influente da imprensa americana (Suzanne Scott, a CEO da Fox, ficou em terceiro lugar).

A revista Time o incluiu na lista dos mais influentes e conseguiu fotos raras de Tucker Carlson na sua casa de madeira na vastidão gelada do Maine, de onde ele comanda o programa que passa a impressão de ser feito em Washington, com o Capitólio ao fundo.

A casa tem lustre de chifres de veado, bandeira americana na parede e uma oficina de marcenaria onde Tucker relaxa ( fazendo o quê? Miniaturas de mísseis antiaéreos?), embora as duas palavras – “Tucker” e “relaxa” – pareçam ser excludentes.

“Ame-o ou odeie-o, Tucker Carlson pode ser o conservador mais poderoso da América”, escreveu a Time.

“Se os americanos dão a impressão de não se por de acordo a respeito de nada – inclusive se as vacinas contra a Covid-19 funcionam e se Joe Biden ganhou a eleição para presidente -, isso é parcialmente prova da influência de Tucker Carlson”.

Um marqueteiro republicano, Jeff Roe, disse à Time que “ninguém, ninguém mesmo, pesa mais na política conservadora do que Tucker Carlson”, frisando que o comentarista tem o poder não de influenciar, mas de ditar quais são os assuntos relevantes.

Tucker Carlson ganha 10 milhões de dólares por ano na Fox – ainda bem atrás dos 25 milhões pagos ao comentarista que substituiu no primeiro lugar, Sean Hannity. A tensão entre os dois – o programa de Carlson vem primeiro, depois o de Hannity – faz tremer as estruturas da Fox. O apresentador, que também tem o site Daily Caller, ganha ainda pelo streaming que faz no canal, o que parece, ainda sem provas, ser o futuro do instável e cambiante universo das notícias.

Na Fox, os trumpistas de raiz são Hannity e Laura Ingraham. Tucker tem outro foco e detona a ala mais convencional do Partido Republicano, vestindo um figurino antiestablishment parecido com o que levou Trump à vitória em 2016. Um dos entrevistados mais habituais de seu programa é Glenn Greenwald, geralmente convidado para criticar os organismos de vigilância e espionagem e a grande imprensa.

Um pela direita, outro pela esquerda, os dois acabam se encontrando em algum ponto – e ambos entendem muito bem o fator performático dos programas jornalísticos de televisão baseados em personalidades fortes.

E é difícil haver personalidade mais forte do que a de Tucker Carlson – e inimigos tão formidáveis quanto os que ele faz. Enquanto tiver três milhões de amigos que o ouvem todas as noites, interessados em saber “qual é a próxima do Tucker”, e não transgredir de maneira muito absurda as fronteiras que empurra cada vez para mais longe, está garantido.

Revista Veja

Apagão em 2021, incertezas em 2022




Desesperados pelo fim de 2021 e apavorados com o começo de 2022

Por Eliane Cantanhêde (foto)

Estamos todos desesperados para 2021 acabar, mas morrendo de medo que 2022 comece, com tantas incertezas, fome, pobreza, desemprego, inflação, inundações e calamidades, gripe H1N1 e H2N3, variantes Delta e Ômicron da covid-19 e uma campanha eleitoral sangrenta, em que não interessa discutir o País, só destruir o adversário.

O Brasil vive um apagão de dados numa área literalmente vital, durante uma pandemia de destino incerto. Impossível cuidar da saúde pública sem dados, voando no escuro. Pior: sem piloto. Pior ainda: com um piloto cabeça dura, que desdenha da ciência, da medicina, das estatísticas..., da saúde.

O mundo chegou ao último dia de 2021 com um milhão de contaminados pela Ômicron a cada 24 horas, mas os brasileiros estão desorientados, sem saber como reagir diante de sintomas como dor de cabeça, garganta arranhando, coriza e eventualmente febre, que podem ser de gripe comum, dengue, as perigosas H1N1 e H2N3 ou... covid.

Sem informação, orientação e dados oficiais confiáveis, o que fazer? Por sorte, os sintomas são leves, porque a grande maioria da população apoia as vacinas e 67% estão totalmente imunizados. Apesar de Bolsonaro, ou contra a vontade dele, o governo foi obrigado a adquirir vacinas e as pessoas puderam alegremente se imunizar.

A pandemia, porém, não acabou. E, em vez de explicar o que está ocorrendo e orientar a população, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, está ocupadíssimo em dificultar, protelar e fazer campanha, agora, contra a vacinação de crianças de 5 a 11 anos aprovada pela Anvisa e em mais de 40 países.

Há semanas o País convive com queda e depois instabilidade do sistema de dados da Saúde, após um suposto ataque hacker até agora sem explicação, sem suspeitos e sem detalhes sequer do tamanho do estrago. Tudo fica confuso, com as várias viroses emboladas, sintomas semelhantes, ausência de governo e falta de informação.

Em junho de 2020, Estadão, O Globo, Extra, Folha, G1 e UOL se uniram para monitorar e divulgar o número de mortes e contágios da covid, quando o general Pazuello assumiu a Saúde, mudou a metodologia e os horários de consolidação dos dados e cancelou as tabelas com a evolução da doença. “Acabou matéria no Jornal Nacional (da Rede Globo)”, comemorou Bolsonaro, confirmando o objetivo: esconder a realidade da população.

Esse premiado consórcio de imprensa, de alta utilidade pública, talvez tenha de ampliar muito o leque de monitoramento e fiscalização. O governo, como já cansou de demonstrar, não é confiável. Viva a vacina, a saúde, a vida! E que em 2022 haja luz no fim do túnel!

O Estado de São Paulo

Presidente de Taiwan pede que China interrompa 'aventureirismo militar'




A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, exortou a China a interromper seu "aventureirismo militar", já que as tensões entre os dois lados atingiram seu nível mais alto em anos.

As autoridades de Pequim devem "parar de propagar o aventureirismo militar em suas fileiras", declarou Tsai em sua mensagem de Ano Novo.

A China intensificou sua pressão militar e diplomática sobre Taiwan desde que Tsai chegou ao poder em 2016, rejeitando que a ilha seja território chinês.

Aviões militares chineses fizeram um número historicamente alto de incursões na zona de defesa aérea de Taiwan nos últimos meses.

"O uso de meios militares não é absolutamente uma opção para resolver as diferenças entre os nossos dois lados", acrescentou Tsai.

Pequim considera Taiwan parte de seu território e prometeu recuperá-lo um dia, mesmo à força, se necessário.

O presidente chinês Xi Jinping declarou em sua mensagem de Ano Novo que "a reunificação completa de nossa pátria é uma aspiração compartilhada pelo povo" na China e em Taiwan.

O ministério da Defesa de Taiwan alertou em outubro que as tensões militares com a China atingiram seu nível mais alto em quatro décadas, após um número histórico de incursões em sua zona de defesa aérea.

Pequim também intensificou os esforços para isolar Taiwan do cenário internacional.

A China vê qualquer reconhecimento da independência de Taiwan como uma provocação e ameaçou países que apoiam a autodeterminação de Taipei.

Como parte de sua campanha, fez lobby para que os poucos aliados restantes de Taiwan trocassem de lado.

A Nicarágua reconheceu recentemente Pequim em detrimento de Taipei e a China abriu uma embaixada no país centro-americano na sexta-feira. 

AFP / Estado de Minas

UE quer rotular gás e energia nuclear como fontes "verdes"




Comissão Europeia afirma que a energia nuclear e a gás podem ajudar o bloco a alcançar a sustentabilidade e quer facilitar financiamento dessas centrais. Alemanha está entre os poucos países que se opõem ao plano.

A Comissão Europeia apresentou um projeto para rotular como "verdes" as centrais nucleares e a gás com o objetivo de facilitar o financiamento dessas instalações. O objetivo, segundo os autores do projeto, é contribuir para o combate às mudanças climáticas.

O texto proposto, debatido durante meses e ainda provisório, foi enviado aos Estados-membros entre sexta-feira (31/12) e sábado (01/01).

O documento estabelece os critérios que permitem classificar como "sustentáveis" os investimentos em centrais nucleares ou a gás para a produção de eletricidade, com o objetivo de orientar as "finanças verdes" para atividades que contribuam para a redução dos gases com efeito de estufa.

A França - que pretende aperfeiçoar a sua indústria nuclear, uma fonte de eletricidade estável e que não liberta carbono - e países da Europa Central, como a Polónia ou a República Tcheca - que tentam substituir as suas centrais de carvão altamente poluentes - estão entre as principais promotoras do plano.

Tanto os pró-gás quanto os estados pró-nuclear avaliam que as energias renováveis (eólica, solar, etc.), já rotuladas como energia verde pela Comissão, sofrem de produção intermitente e não permitirão nos próximos anos fornecer eletricidade a baixo custo e com uma produção que possa ser controlada.

Esta mudança de classificação permitiria uma redução dos custos de financiamento.

Alemanha lidera oposição

Mas ambientalistas opõem-se ao reconhecimento das centrais a gás, que emitem dióxido de carbono (CO2), e das centrais de energia nuclear, devido à produção de lixo radioativo. E um pequeno grupo de países, liderado pela Alemanha, luta pela exclusão da energia nuclear.

Neste sábado, o vice-chanceler da Alemanha, Robert Habeck, acusou a UE de planejar "lavagem verde" - usando políticas que parecem favoráveis ​​ao clima para cobrir práticas destrutivas do meio ambiente.

"Não podemos antever uma aprovação para as novas propostas da Comissão Europeia", disse Habeck, que é filiado ao Partido Verde, à agência de notícias alemã dpa.

Ele ainda chamou a intenção de classificar da energia nuclear como sustentável de "errada", apontando para os efeitos de longo prazo dos resíduos nucleares.

"É mais do que duvidoso", disse Habeck. "De qualquer forma, é questionável se essa 'lavagem verde' encontrará algum tipo de aceitação no mercado financeiro."

A ministra do Meio Ambiente da Alemanha, Steffi Lemke, também criticou o plano.

"Acho completamente errado que a Comissão Europeia pretenda classificar a energia nuclear como uma atividade econômica sustentável", disse a ministra, que também é filiada ao Partido Verde, ao grupo de mídia Funke.

Nos últimos anos, a Alemanha vem sendo palco de uma oposição crescente à energia nuclear desde o desastre na usina japonesa de Fukushima em 2011. Em 31 de dezembro, o país europeu fechou três das seis usinas que ainda restam em seu território.

Os Estados membros têm até 12 de janeiro para reagir ao projeto. Se a maioria apoiar a proposta, ela entrará em vigor a partir de 2023.

As chances de o projeto ser rejeitado são consideradas mínimas, já que apenas um punhado de países da UE, além da Alemanha, se manifestaram contra a energia nuclear.

A proposta de Bruxelas estabelece condições para a inclusão do setor nuclear e a gás, em particular um limite de tempo.

Para a construção de novas centrais nucleares, os projetos devem obter licença de construção antes de 2045. No que diz respeito às obras que permitem prolongar a vida das centrais existentes, devem ser autorizadas antes de 2040. São também necessárias garantias em termos de tratamento de resíduos e desmantelamento de instalações nucleares em fim de vida.

No caso do gás, qualificado como "fonte de energia de transição", os investimentos serão reconhecidos como "sustentáveis" para centrais que emitem pouco CO2. A Comissão estabeleceu limites significativos: menos de 100 gramas de CO2 por kWh (kilowatts/hora), um limite inatingível com as tecnologias atuais, de acordo com especialistas.

No entanto, está previsto um período de transição: as centrais que obtiverem a licença de construção antes de 31 de dezembro de 2030 verão este limite elevado para 270 gramas de CO2 por kWh sob a condição de substituir as infraestruturas existentes, que são muito mais poluentes.

Deutsche Welle

Imprensa na mira - Editorial

 



 
Não surpreende que regimes autoritários liderem recorde de jornalistas preso

O ano de 2021 chega ao fim com um dado sombrio para o jornalismo independente e crítico. Nunca tantos profissionais de imprensa estiveram presos em razão de seu ofício, aponta o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ, na sigla inglesa), organização que há três décadas produz esse levantamento.

Segundo o relatório do CPJ, pelo menos 293 jornalistas encontram-se encarcerados em todo o mundo, 13 a mais do que em 2020. Além disso, outros 24 terminaram mortos —19 deles em retaliação ao trabalho que desenvolviam.

A maior parte das detenções, não surpreende, concentra-se em ditaduras ou países de extração autoritária. Para se manterem no poder e não serem questionados, autocratas não hesitam em tentar controlar e manipular aquilo que é dito e escrito pela imprensa.

O primeiro posto é ocupado pela China, com o recorde de 50 profissionais presos no ano passado. A cifra computa 8 jornalistas detidos em Hong Kong, território que vem conhecendo um avanço expressivo da repressão e da censura devido a uma nova lei de segurança nacional imposta por Pequim.

Foi se valendo desse draconiano diploma que o regime de Xi Jinping conseguiu prender, no ano passado, o magnata da mídia Jimmy Lai e fechar seu popular tabloide honconguês, o Apple Daily.

No segundo lugar da lista figura Mianmar, que prendeu ao menos 26 jornalistas após um golpe de Estado. Em seguida aparecem Egito, Vietnã e Belarus.

O Brasil também está presente na lista —em março, o jornalista esportivo Paulo Cezar de Andrade Prado foi condenado a cinco meses de prisão em regime semiaberto por difamação.

O país também conheceu uma série de outras formas de agressão à prática jornalística, por meio do uso da agora extinta Lei de Segurança Nacional, de tentativas de assédio judicial, de pressão sobre anunciantes ou de declarações hostis de autoridades —a começar pelo presidente da República.

Segundo levantamento da Agência Lupa, Jair Bolsonaro atacou a imprensa em nada menos que 42 das 49 lives de 2021.

São inegáveis erros e mesmo abusos no trabalho cotidiano dos inúmeros veículos e profissionais de imprensa, no Brasil e no restante do mundo. Entretanto não é esse o alvo do roteiro autoritário, que simplesmente busca rebaixar a função jornalística, pespegando-lhe a pecha de inimiga.

Folha de São Paulo

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