Não surpreende que regimes autoritários liderem recorde de jornalistas preso
O ano de 2021 chega ao fim com um dado sombrio para o jornalismo independente e crítico. Nunca tantos profissionais de imprensa estiveram presos em razão de seu ofício, aponta o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ, na sigla inglesa), organização que há três décadas produz esse levantamento.
Segundo o relatório do CPJ, pelo menos 293 jornalistas encontram-se encarcerados em todo o mundo, 13 a mais do que em 2020. Além disso, outros 24 terminaram mortos —19 deles em retaliação ao trabalho que desenvolviam.
A maior parte das detenções, não surpreende, concentra-se em ditaduras ou países de extração autoritária. Para se manterem no poder e não serem questionados, autocratas não hesitam em tentar controlar e manipular aquilo que é dito e escrito pela imprensa.
O primeiro posto é ocupado pela China, com o recorde de 50 profissionais presos no ano passado. A cifra computa 8 jornalistas detidos em Hong Kong, território que vem conhecendo um avanço expressivo da repressão e da censura devido a uma nova lei de segurança nacional imposta por Pequim.
Foi se valendo desse draconiano diploma que o regime de Xi Jinping conseguiu prender, no ano passado, o magnata da mídia Jimmy Lai e fechar seu popular tabloide honconguês, o Apple Daily.
No segundo lugar da lista figura Mianmar, que prendeu ao menos 26 jornalistas após um golpe de Estado. Em seguida aparecem Egito, Vietnã e Belarus.
O Brasil também está presente na lista —em março, o jornalista esportivo Paulo Cezar de Andrade Prado foi condenado a cinco meses de prisão em regime semiaberto por difamação.
O país também conheceu uma série de outras formas de agressão à prática jornalística, por meio do uso da agora extinta Lei de Segurança Nacional, de tentativas de assédio judicial, de pressão sobre anunciantes ou de declarações hostis de autoridades —a começar pelo presidente da República.
Segundo levantamento da Agência Lupa, Jair Bolsonaro atacou a imprensa em nada menos que 42 das 49 lives de 2021.
São inegáveis erros e mesmo abusos no trabalho cotidiano dos inúmeros veículos e profissionais de imprensa, no Brasil e no restante do mundo. Entretanto não é esse o alvo do roteiro autoritário, que simplesmente busca rebaixar a função jornalística, pespegando-lhe a pecha de inimiga.
Folha de São Paulo