Publicado em 29 de janeiro de 2022 por Tribuna da Internet
Rosana Hessel
Correio Braziliense
Apesar da mudança na metodologia para o cálculo do endividamento das famílias, o Banco Central registrou um novo percentual recorde de comprometimento da renda dos brasileiros com empréstimos, em grande parte, devido ao fato de a inflação corroer o poder de compra da população e forçar o Banco Central a elevar os juros, aumentando o custo do crédito.
Conforme os dados do BC divulgados nesta sexta-feira (28/01), o endividamento total sobre a Renda Nacional Disponível Bruta das Famílias (RNDBF) passou de 50,4%, em setembro, para 51,2%, em outubro, o maior patamar da série histórica da autoridade monetária, iniciada em janeiro de 2005.
RECORDE NEGATIVO – No acumulado do ano, o endividamento cresceu 9,2 pontos percentuais no indicador que calcula a relação entre o saldo dos financiamentos, incluindo o imobiliário, em relação à renda familiar acumulada em 12 meses.
Conforme os dados do BC, o comprometimento da renda, de 27,9%, considerando os dados dessazonalizados, também é recorde desde o início da série histórica, em março de 2005.
Vale lembrar que, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento médio do brasileiro encerrou o trimestre de setembro a novembro com queda de 4,5%, para R$ 2.444, o menor nível da série histórica iniciada em 2012.
CÁLCULO AMPLO – A nova forma de cálculo adotada pelo BC inclui receitas extraordinárias além da massa salarial familiar calculada pelo IBGE. Com isso, estão incluídos na conta, por exemplo, o 13º salário, as horas extras e o auxílio emergencial concedido durante a pandemia da covid-19 — que socorreu mais de quase 68 milhões de brasileiros em 2020 e teve a parcela reduzida, assim como o público alvo, em 2021.
Com isso, a base para o cálculo da taxa aumentou e, consequentemente, o índice de endividamento deveria ter diminuído. Na série anterior, no último dado disponível, de agosto, o endividamento das famílias também havia sido recorde e atingido 59,9% da massa salarial acumulada em 12 meses.
“A mudança da metodologia é importante, porque o auxílio emergencial teve um peso importante na composição da renda das famílias durante a pandemia, mas é um benefício que não deverá se repetir daqui para frente. Mas o endividamento das famílias, apesar da redução, continua elevado”, alertou Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
LIMITE DA RENDA – Oliveira lembrou que, para conceder empréstimos e minimizar o risco de inadimplência, os bancos consideram que o limite de endividamento precisa ser de até 30% da renda.
“Os bancos nunca querem que a prestação ultrapasse 30% da renda. Esse é o valor padrão, mas na Europa e nos Estados Unidos, essa taxa é maior, mas lá, os juros são muito menores do que aqui, que ainda devem aumentar. No Brasil, o juro pesa também no aumento do endividamento e compromete parte da renda, especialmente, quando ele é muito alto, como o do cartão de crédito”, alertou o diretor da Anefac.