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terça-feira, março 02, 2021

Bolsonaro é a construção do caos, como uma espécie de antipresidente, alguém destinado a explodir a instituição


Autoridades criticam Bolsonaro por veto à compra da vacina chinesa |  Poder360

Bolsonaro, que é contra vacinas, já imunizou o filho Flávio…

Fernando Gabeira
O Globo

Na semana em que as mortes pela pandemia atingem a marca de 255 mil, toda a atmosfera política parece sombria. Não é caso de desespero, apenas a constatação de que vivemos um momento especialmente difícil. Enquanto sonhamos com a imunização do povo contra a Covid-19, quem recebe vacinas é Flávio Bolsonaro, filho do presidente, e os congressistas do Brasil.

Flávio ganhou uma vacina contra a punição no caso das rachadinhas. Os congressistas foram mais longe e produziram um projeto que os vacina contra a prisão em flagrante.

BLINDAGEM MÚLTIPLA – Impressionante ver como o populismo de direita se associa aos políticos tradicionais para criar uma intransponível blindagem para toda sorte de crimes. E logo eles , os populistas de direita, que afirmam a decadência de um mundo materialista, distante dos valores espirituais que pretendem restaurar.

Acabo de ler “Guerra pela eternidade”, um livro de Benjamin Teitelbaum. O livro fala do retorno do tradicionalismo e da ascensão da direita populista. Infelizmente, não posso fazer uma resenha aqui, senão meu espaço iria para o espaço, se me perdoam o jogo de palavras.

Teitelbaum é etnógrafo, e seu método de pesquisa consiste em observar e interagir com as pessoas que estuda. Dois personagens, entre outros, se destacam em seu livro: Steve Bannon e Olavo de Carvalho.

FIGURINO ERRADO – A leitura do livro me ensinou alguma coisa sobre o pensamento da direita, embora a tese central não tenha me parecido muito sólida. Ele tenta enquadrar Steve Bannon e Olavo de Carvalho no figurino do tradicionalismo, mas algumas partes do corpo ficam do lado de fora, não cabem exatamente.

O tradicionalismo tem uma visão circular do tempo. As épocas se sucedem da Idade do Ouro, o tempo dos sacerdotes, passando pelos guerreiros e comerciantes, até o dos escravos, a decadência que se vive hoje no mundo material, globalizado, dominado por uma aliança entre o liberalismo e a China.

Steve Bannon e Olavo de Carvalho sonham com um novo mundo, em que os moradores das áreas rurais americanas e o povo religioso do Brasil (no caso de Olavo) aparecem como as forças novas que vão restaurá-lo.

CLASSE OPERÁRIA – É um pouco parecido, num outro plano, com a visão romântica dos comunistas, que viam a redenção na classe operária. O mais importante, no entanto, é que, assim como a velha extrema esquerda, Bannon quer implodir as instituições existentes.

Isso explica, no governo Trump, a escolha de uma secretária de Educação que distribuía vouchers para usarem em escolas particulares, anulando o ensino público. Ou mesmo a escolha de um diretor da agência ambiental cujo grande objetivo era acabar com seu ativismo.

Há correspondência dessas escolhas no Brasil. Ricardo Salles foi apontado para destruir o trabalho legal pelo meio ambiente. Ernesto Araújo, para realizar uma diplomacia que rompe com as práticas tradicionais.

PÁRIA INTERNACIONAL – Araújo não se importa que o Brasil se transforme num pária. Num mundo decadente, isso é um elogio: significa que há um papel na nova idade do ouro, em que os símbolos superam a razão.

Não tenho espaço para as contradições. Lembro apenas que Bannon se diz espiritualista, mas recebia um salário de US$ 1 milhão de um bilionário chinês e foi acusado de desviar dinheiro destinado a construir o muro na fronteira com o México.

O ponto central é que essas ideias influenciam o governo Bolsonaro. Ele mesmo é uma espécie de antipresidente, alguém destinado a explodir a instituição. O caos é algo promissor para quem julga antever a aurora de uma nova era. É assim que entendo sua intervenção na Petrobrás e os decretos para armar o povo. Na verdade, foi assim que li as principais declaracões dos quadros da alt-right, a direita alternativa. A tática parece muito com as velhas teorias revolucionárias, só que com o sinal trocado.

Primeiro, lutar pela democracia; depois, escolher realmente o melhor candidato nas eleições de 2022


Manifestação do dia 15 pode ser uma ameaça à democracia. Pense sobre isso.  | Carlos Sousa

Charge do Duke (O Tempo)

Sergio Fausto
Estadão

Faltando mais de um ano e meio para as eleições presidenciais, é cedo para discutir nomes. Mas não para traçar as grandes linhas de um programa que possa vir a ser apoiado no segundo turno por um amplo leque de forças democráticas, do centro-direita ao centro-esquerda. Ele deve espelhar o aprendizado coletivo que fizemos ao longo dos últimos 30 anos e projetar um futuro que nos permita voltar a ter esperança no Brasil.

Responsabilidade fiscal e responsabilidade social devem andar juntas. No Brasil, a segunda exige não apenas atenção à pobreza, mas também à desigualdade. No grau existente no Brasil, ela impede que seja internalizada em cada um e em todos nós a noção de pertencer a um mesmo corpo político, que nos assegure direitos e nos imponha responsabilidades.

NO MESMO BARCO – Precisamos sentir que estamos todos no mesmo barco e temos um destino comum, que nos faça responsáveis pelo bem-estar das gerações presentes e das que vêm por aí. Sem a generalização desse sentimento a Nação não tem futuro.

Não somos todos iguais e as identidades parciais devem ser reconhecidas e respeitadas. Quem teve menos vez e voz ao longo da História tem o direito de gritar para se fazer ouvir. É parte da luta pela construção da cidadania. Mas não podemos perder de vista o objetivo de alargar o espaço da nossa casa comum, em vez de compartimentá-la em lugares de fala incomunicáveis.

O sentimento de que estamos navegando no mesmo barco ou construindo a mesma casa precisa se materializar em compromisso firme com a solvência do Estado, o que implica ter regras fiscais que a assegurem, e com um regime de tributação e gastos públicos que responda à aspiração de criar uma sociedade mais justa em termos de distribuição da renda e oportunidades. Não devemos crescer para depois distribuir, mas sim crescer e distribuir, e faremos uma coisa e outra mais e melhor se cuidarmos de aumentar a eficiência e a produtividade no setor público e no setor privado.

IDÉIAS ULTRAPASSADAS – Outro aprendizado feito nos últimos 30 anos, vivendo a experiência do Brasil e olhando o mundo ao redor, é que a dicotomia mais Estado ou mais mercado nos mantém presos a ideias defuntas. Temos de nos libertar de esquemas ideológicos que bloqueiam a criação e o aprimoramento de sistemas de cooperação não apenas entre o setor público e o setor privado, mas também entre eles e a sociedade.

Um dos papéis fundamentais do Estado no século 21 será orquestrar esses sistemas de cooperação dentro e para além das fronteiras nacionais. As partituras não serão escritas por decreto e impostas de cima para baixo. Sistemas de cooperação têm de ser abertos à competição e submetidos à publicidade e avaliação para reduzir o risco de a cooperação virar um conluio contra os interesses mais amplos da sociedade. Diante da complexidade, interconectividade e velocidade das transformações tecnológicas e científicas e dos desafios de governança que delas derivam, não há Estado demiurgo ou mão invisível do mercado que dê conta do recado.

Nesse contexto, o Brasil pode aspirar a ter presença global em algumas áreas com grande potencial de criação de valor e bem-estar. Para tanto é fundamental produzir e disseminar ciência aqui dentro. E ter uma política externa que expresse interesses nacionais amplos, e não de partidos ou seitas políticas.

A QUESTÃO AMBIENTAL – Agronegócio e meio ambiente ou se harmonizam ou se destruirão mutuamente. Nenhuma outra atividade depende tão diretamente de um regime de chuvas regulado pela floresta úmida. A pressão em favor de padrões cada vez mais elevados de sustentabilidade socioambiental e sanidade dos alimentos não deve ser sentida como “exigências externas”. São uma obrigação do País consigo mesmo.

A soberania da Amazônia brasileira não está em questão. O desafio é exercê-la com responsabilidade em relação ao nosso futuro comum, com os brasileiros e habitantes de um só e mesmo planeta. São cada vez mais sólidas as evidências científicas de que a floresta está se aproximando de um ponto de não retorno, a partir do qual, em lugar de retirar e estocar dióxido de carbono, passa a emiti-lo. Virar as costas para a ciência é entregar-se aos azares das pandemias e das catástrofes climáticas.

O agro é muito importante, mas não é tudo. A necessidade de criação de renda e empregos de qualidade no Brasil ultrapassa em muito a capacidade do novo mundo rural, mesmo considerando todos os seus encadeamentos com os serviços e a indústria.

EMPREGOS URBANOS – É vital criar bons empregos nas maiores cidades e ligá-los à melhoria das condições de vida e convivência nos centros urbanos. Deve-se experimentar e inovar na concepção e implementação de políticas com essa finalidade, com maior consulta à sociedade e mais intensa participação dos cidadãos. As cidades são espaços propícios ao encurtamento da distância entre o mundo oficial e o universo da cidadania.

Acima de tudo e de todos, democracia. Não apenas porque seja melhor do que todas as alternativas conhecidas, mas principalmente porque é a única que nos permite continuar a ter a liberdade para construir um país melhor. Escolher o melhor candidato é o passo seguinte.

Antes de sair, Alcolumbre contratou amigo marqueteiro para dar curso no Senado a R$ 3,8 mil a hora-aula


Derrotado em Macapá e no STF, Alcolumbre aposta últimas fichas na sucessão  | VEJA

Alcolumbre separou R$ 150 mil para ajudar o marqueteiro

Luciana Lima
Metrópoles

O Senado contratou um curso de “Comunicação Digital” por R$ 3.797,46 a hora-aula. A empresa contratada, sem licitação, é a Vitorino & Mendonça, pertencente aos publicitários Marcelo Vitorino e Natália Mendonça. O contrato, assinado pela diretora-geral da Casa, Ilana Trombka, em 16/12/2020, com vigência até 15/12/2021, tem um valor global de R$ 150 mil por 39,5 horas-aulas.

Vitorino foi responsável pela campanha de Marcelo Crivella que culminou em sua vitória para Prefeitura do Rio de Janeiro, em 2016. Também trabalhou 4 meses na campanha à Presidência da República de Geraldo Alckmin em 2018, até ser substituído pelo publicitário Alexandre Inagaki.

COM ALCOLUMBRE – Em julho de 2019, ele trocou a comunicação do pastor da Universal pela perspectiva de trabalhar para o atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

 Embora não apareçam no quadro de funcionários do Senado, os dois publicitários chegaram a ter, em 2017, credenciais do Senado fornecidas pelo gabinete de Alcolumbre. O contrato do curso foi assinado em 16 de dezembro de 2020 e tem vigência de um ano.

De acordo com o Senado, ainda não houve aulas ou palestras ministradas, apesar de um dos termos que trata do regime de execução prever que a empresa executaria os serviços com inicio em até 30 dias contados a partir da assinatura, ou seja, as aulas deveriam ter começado no dia 16 de janeiro deste ano.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Usando recursos públicos, Alcolumbre resolve a vida de seus amigos marqueteiros. Também usando recursos públicos, seu amigo Flávio Bolsonaro compra uma mansão em Brasil por 6 milhões, enquanto na mesma rua está há venda uma bem inferior por R$ 10 milhões. Conclusão: eles acham que os brasileiros podem ser explorados à vontade, e estão certos. É isso mesmo. (C.N.)

Flávio Bolsonaro diz que usou dinheiro de venda de imóvel no Rio para comprar mansão de R$ 6 milhões em Brasília


Charge do Duke (domtotal.com)

Marcelo Rocha e Italo Nogueira
Folha

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) afirmou nesta terça-feira, dia 2, que usou recursos da venda de um imóvel no Rio de Janeiro para comprar a mansão de R$ 6 milhões em Brasília. “Tudo registrado em escritura pública”, diz nota divulgada pela assessoria de imprensa do parlamentar. “Qualquer coisa além disso é pura especulação ou desinformação por parte de alguns veículos de comunicação.”

Questionada após a divulgação do comunicado, a assessoria do senador informou que o imóvel vendido foi o apartamento na Barra da Tijuca. A venda ainda não foi informada ao Registro de Imóveis —a responsabilidade é do comprador e não há prazo para fazer o registro

FINANCIAMENTO – Sem detalhar como foi feito o pagamento da entrada, o comunicado de Flávio afirma ainda que mais da metade do valor da transação (R$ 3,1 milhões) ocorreu por intermédio de financiamento imobiliário.

Denunciado à Justiça em novembro de 2020 sob a acusação de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no caso das “rachadinhas”, Flávio e a esposa, Fernanda Bolsonaro, compraram a casa em janeiro. A informação foi revelada pelo site O Antagonista e confirmada pela Folha, que obteve acesso à certidão do 1º Ofício de Registro de Imóveis do DF, com os detalhes da transação.

O imóvel fica no Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, bairro nobre da capital. Ela tem 1.100 m² de área construída, em um terreno de 2.500 m².De acordo com a certidão do imóvel, o negócio foi fechado com a RVA Construções e Incorporações, empresa do advogado e empresário Juscelino Sarkis.

LONGO PRAZO – O documento informa que R$ 3,1 milhões do valor do imóvel foram financiados pelo BRB (Banco de Brasília). A quitação será em 360 parcelas. O documento menciona taxas que variam de 3,65% a 4,85% ao ano. A amortização será pelo sistema SAC, que consiste em prestações mais altas no início e menores no final.

O BRB é controlado pelo governo do Distrito Federal, comandado por Ibaneis Rocha (MDB), um aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).O salário de Flávio no Senado é de R$ 25 mil líquidos. A esposa é dentista e tem consultório em Brasília. São casados em regime de comunhão parcial de bens.

A mansão em Brasília é o 20º imóvel que Flávio adquire num intervalo de 16 anos —considerando um andar com 12 salas comerciais de que foi proprietário. A intensa atividade imobiliária do senador foi revelada pela Folha em 2018.

IMÓVEIS – Antes de fechar o negócio em Brasília, segundo levantamento patrimonial, Flávio tinha dois imóveis: o apartamento na Barra da Tijuca, adquirido por R$ 2,5 milhões, com financiamento, e uma sala comercial num shopping da zona oeste, avaliada em R$ 150 mil.

Na denúncia oferecida contra o senador no caso das “rachadinhas”, o MP-RJ do apontou que as operações de compra e venda de dois imóveis foi usada para lavagem de dinheiro.

A escritura de compra e venda foi feita em um serviço notarial de Brazlândia, cidade do DF distante cerca de 45 km do Plano Piloto. A matrícula do imóvel, por sua vez, é de responsabilidade do 1º Ofício de Registro de Imóveis do DF, a poucos quilômetros do Congresso.

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ÍNTEGRA DA NOTA DE FLÁVIO BOLSONARO:

“A casa adquirida pelo senador Flávio Bolsonaro em Brasília foi comprada com recursos próprios, em especial oriundos da venda seu imóvel no Rio de Janeiro. Mais da metade do valor da operação ocorreu por intermédio de financiamento imobiliário. Tudo registrado em escritura pública. Qualquer coisa além disso é pura especulação ou desinformação por parte de alguns veículos de comunicação.”

Fachin diz que a democracia no País “está sob ataque” e que o “momento é de alerta”


Ministro afirmou que vive-se no Brasil uma ‘recessão democrática’

Samuel Costa
Estadão

Nesta segunda-feira, dia 1º, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), participou de live da Ordem de Advogados do Brasil (OAB) em homenagem ao constitucionalista Paulo Bonavides. Fachin fez uma breve fala durante a mesa que discutia a ‘democracia representativa’.

Em sua explanação, o ministro afirmou que vive-se no Brasil uma ‘recessão democrática’ e que o momento ‘é de alerta’.  “Além da tragédia pandêmica que assola todo o País, são verificados todo dia atentados à imprensa, apologia da ditadura, da tortura; a depreciação do valor do voto e o incentivo às armas e à violência; e ainda, o incentivo à animosidade entre as Forças Armadas e a sociedade civil”, disse.

SISTEMA ELEITORAL – Fachin defendeu o sistema eleitoral brasileiro, destacando a sua lisura e transparência. “É ciente dessa premissa que a Justiça Eleitoral brasileira tem atuado com absoluta transparência, com o labor de entidades independentes e apartidárias”, disse.

Ele reiterou a legitimidade de um governo eleito através do voto popular, mas ponderou que incentivos a medidas e comportamentos antidemocráticos ferem a autoridade de gestões, que façam uso de tais mecanismos de persuasão. “É legítimo governo que decorre de eleições regulares e, portanto, atende às demandas do povo. Mas é ilegítimo um governo que passa a atuar contra a normalidade constitucional”, afirmou.

DESCRÉDITO – Ele ainda destacou que uma gestão que não atende às promessas feitas em campanha tem potencial para desacreditar os cidadãos. “É forçoso reconhecer que o voto, quando desacompanhado das promessas públicas da sua legítima captação, permite impregnar um ceticismo generalizado, produzido pelas constantes falhas no exercício da representação”.

O ministro defendeu que ‘um governo encontra apenas o seu início nas eleições’ e que a administração pública ‘depende da adoção, da compostura traduzida numa efetiva vigilância do comportamento dos mandatários contra desvios que contrariem a essência da representação, a democracia participativa promove a defesa do engajamento cívico das mais variadas formas’.

RECESSÃO DEMOCRÁTICA – Segundo a análise de Fachin, a saída para o atual momento de ‘recessão democrática’ deve sempre observar a sua legalidade. “A solução dessas questões não deve buscar em lugar algum, remédio qualquer que não seja a constitucionalidade funcional”, disse. “A saída com racionalidade e equilíbrio passa pela Constituição de 1988”, continuou.

“É imprescindível preservar a soberania das instituições (…),respeitar os dissensos, a pluralidade, a diversidade e, acima de tudo, a legalidade constitucional. Respeitar a legalidade das eleições, as saídas democráticas, por quanto pacíficas, estarão sempre dentro da Constituição, nela e com ela, para que tenha-se esperança e não haja retrocesso”.

Após prisão de Daniel Silveira, bolsonaristas baixam o tom e removem vídeos com ataques ao STF das redes

Publicado em 2 de março de 2021 por Tribuna da Internet

Otoni apagou tuítes referindo-se aos ministros da Corte como criminosos

Deu no O Globo

A prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) após ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), há quase duas semanas, enfraqueceu a retórica bolsonarista. Após o episódio, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro aceleraram a retirada de vídeos e publicações online que citavam a Corte e ajustaram o tom das declarações, em uma tentativa de evitar novos confrontos tão acirrados quanto o protagonizado por Silveira com falas violentas endereçadas a ministros e apologia ao AI-5.

O recuo ficou evidente em levantamentos realizados pela empresa de análise de dados Novelo Data e pelo Projeto 7c0, que atuam compilando dados sobre a remoção de conteúdos no YouTube e no Twitter, respectivamente. Houve movimento neste sentido por parte de colegas de Silveira na Câmara, como Otoni de Paula (PSC-RJ) e Paulo Eduardo Martins (PSC-PR) e também do procurador bolsonarista Ailton Benedito.

COMPORTAMENTO – Monitorando 183 canais bolsonaristas no YouTube, a Novelo Data identificou um comportamento coletivo: no mês anterior à prisão de Silveira, decretada em 16 de fevereiro, houve uma média diária de 11 vídeos sobre o STF removidos dessas páginas. Nos três dias seguintes à decisão do STF de prender o deputado, a média diária saltou para 26.

Os conteúdos apagados por Paulo Eduardo Martins e Ailton Benedito se inserem nessa estatística. Assim como os dois, que são influenciadores digitais do bolsonarismo, também houve remoções feitas por canais com alto número de inscritos. Foi o caso de Verdade Política (1,22 milhão de assinantes); Notícias Política BR (545 mil) e Vista Pátria (536 mil). Procurados pelo O Globo, Martins não quis comentar o caso, e Benedito afirmou que não apagou qualquer conteúdo, que “jamais atacou o STF” e que “sempre pautou suas ações pela ética e respeito às pessoas e às instituições”.

MENÇÕES – No Twitter, onde o Projeto 7c0 monitora 574 contas de políticos com cargos públicos, apenas nove publicações com menções ao STF foram removidas uma semana antes da prisão de Silveira. Na semana seguinte ao episódio, o número subiu para 50.

Otoni de Paula, por exemplo, apagou tuítes em que dizia que “bandido bom para o STF é bandido solto” e que “os milicianos não vão nos calar”, referindo-se aos ministros da Corte como criminosos. O parlamentar disse que as publicações foram apagadas por determinação da Justiça e não “por vontade própria”.

Apesar da mudança evidente, aliados de Bolsonaro, conhecidos pelo tom mais beligerante, negam que estejam operando mudanças na própria retórica, ao passo em que continuam discursando em defesa de Silveira. As falas, no entanto, demonstram traços de ponderação que não existiam anteriormente.

LIMITE – É o caso do deputado Carlos Jordy (PSL-RJ), que comenta a prisão de Silveira enquanto traça um limite para si mesmo. “Continuarei fazendo minhas críticas, mas sem ofensas que possam configurar uma quebra de decoro, sem ameaças pessoais. Não que o discurso do Daniel tenha sido assim, mas foi muito ácido”, afirmou.

O deputado estadual Gil Diniz (sem partido), braço direito de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em São Paulo, afirma que “não será dado qualquer passo atrás” nas críticas ao Judiciário, ao mesmo tempo em que elogia Bolsonaro por ter mantido silêncio em relação à decisão do Supremo.

“Cada deputado tem seu perfil. Alguns mais incisivos, outros mais suaves. Mas não tem como exigir mudança na retórica. Eu vou continuar subindo na tribuna e chamando a atenção para os abusos do STF. Mas o presidente precisa manter a harmonia entre os Poderes”, declarou Diniz.

COBRANÇA – Ao contrário de Diniz, Bolsonaristas mais radicais ainda cobram que o presidente atue para defender Silveira. Paulo Enéas, dono do Crítica Nacional, um dos principais portais de apoio a Bolsonaro, publicou um artigo mencionando a falta de posicionamentos de ministros, como André Mendonça (Justiça) e Damares Alves (Direitos Humanos). “A ausência de manifestação formal emite um sinal de insegurança para os apoiadores do próprio governo”, escreveu Enéas.

Da mesma maneira, Silvio Grimaldo, que comanda o site do ideólogo Olavo de Carvalho, passou os últimos dias compartilhando “memes” sobre como os ministros do STF estariam se agigantando contra conservadores. A militante Sara Giromini, em prisão domiciliar desde o ano passado e rompida com o bolsonarismo, também manifestou incômodo e questionou se, agora, “o Planalto e os direitos humanos se pronunciariam”.

MEDO – O cientista político Carlos Melo, do Insper, diz que a prisão de Silveira criou, nos deputados, um “medo de brincar com o Supremo” e de ecoar pensamentos que, na verdade, são os do próprio presidente.

“A prisão foi um sinal de que os inquéritos sobre atos antidemocráticos e fake news não estão parados e de que há muitos outros na berlinda, tanto quanto Silveira. O silêncio do presidente é circunstancial. Ele ainda vai voltar ao tema e lançará algum sinal para esses setores (que o apoiam). E isso será importante, porque o Silveira disse o que o Bolsonaro pensa”, afirma.

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