Publicado em 24 de abril de 2023 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Na próxima quarta-feira será instalada a CPI sobre a invasão de Brasília e as selvagens depredações praticadas no Palácio do Planalto, no Congresso e no Supremo Tribunal Federal. A oposição traçou uma estratégia na qual pretende, a meu ver sem sucesso, comprometer o governo nos fatos, transformando a vítima em meio culpado pelos crimes praticados.
Será difícil o bolsonarismo alcançar êxito nesta manobra porque os filmes sobre o episódio, partindo de diversos ângulos e se estendendo a vários panoramas, revelam os autores, inclusive os que se encontram presos e outros que começam a ser processados pelo próprio STF,de acordo com a decisão do ministro Alexandre de Moraes, relator dos dramáticos acontecimentos e seus reflexos no mundo legal.
DEPOIMENTOS – Os fatos não param por aí. Vão incluir o depoimento do ex-ministro Anderson Torres, do general Gonçalves Dias e de militares que integravam o comando do Gabinete de Segurança Institucional, cujos vultos foram nitidamente captados pelas câmeras do circuito interno do Palácio do Planalto. Há filmes também colhidos nos circuitos internos do Congresso e da Suprema Corte do país.
No O Globo, a reportagem sobre as perspectivas do confronto na CPI é de Camila Turtelli, Dimitrius Dantas e Lauriberto Pompeu. No Estado de S.Paulo a matéria é de Julia Affonso, Weslley Galzo, Tacio Lorran e André Borges. A reportagem de O Estado de S. Paulo inclui fotografias revelando que invasores do Planalto tentaram roubar o caixa eletrônico instalado na sede do governo. Esta é uma face nova a ser acrescentada às ações subversivas de 8 de janeiro.
O próprio ex-presidente Jair Bolsonaro encontra-se convocado a depor à Polícia Federal e, provavelmente, deve ser convocado pela CPI. Não tenho certeza se na condição de testemunha ou de acusado pelo comando à distância da violência desfechada contra as instituições e a democracia brasileira. A semana estará bastante movimentada no plano do choque político e influenciará para adiar o debate e talvez a decisão do Legislativo sobre as Medidas Provisórias do presidente Lula da Silva que determinam a nova estrutura administrativa do governo.
SEM FUNDAMENTOS – O bolsonarismo prepara-se para atacar, mas os seus fundamentos são frágeis. O fato de o general Gonçalves Dias ser acusado pelo menos de omissão não absolve ou isenta os autores e a organização do atentado exposto contra o governo. Tanto que os filmes divulgados, sobretudo pela TV Globo e pela GloboNews, mostram os invasores vestindo as roupas com as quais compareceram às eleições de outubro anunciando os seus votos pela reeleição de Jair Bolsonaro.
Bastaria essa constatação para que se confirmasse a origem intelectual e financeira dos ataques desfechados e de seus propósitos sinistros. O governo deve dispor de um sistema de comunicação eficiente como o que se verificou na Comissão Parlamentar do Senado sobre a Covid e a responsabilidade do Ministério da Saúde na época. Estará em jogo o confronto com setores radicais da extrema-direita que não têm propostas construtivas. Está voltada para o negacionismo, a confusão e a destruição, como se verificou na invasão da capital brasileira.
RECUO – Em Lisboa, o presidente Lula ao discursar ao lado do presidente português condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia e negou a evidência de que duas semanas antes responsabilizou os dois países pela guerra. O recuo já iniciado pouco após a afirmação da sua declaração original, foi causado pela forte reação contrária que provocou.
Ao seu lado, o presidente de Portugal foi absolutamente enfático ao apoiar a Ucrânia e condenar de forma veemente a invasão do país pela Rússia, violando o direito internacional. Ficam assinalados tanto o recuo de Lula quanto a posição de Portugal.