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sexta-feira, fevereiro 24, 2023

China não apoiou a Rússia contra os Estados Unidos e tem plano de paz para Ucrânia


Wang disse que não existem relações dirigidas contra “terceiros países”

Pedro do Coutto

Levando com atenção as reportagens publicadas pelo Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo, edições desta quinta-feira, e tendo assistido ao jornal das 18h da GloboNews na quarta-feira, constata-se que, na realidade, a China não apoiou a Rússia como desejava o presidente Putin no encontro com o chanceler chinês Wang Yi, realizado em Moscou.

O chanceler chinês confirmou o vínculo com a Rússia, mas disse que não existem relações dirigidas contra “terceiros países”. Aliás, afirmou que “nossas relações nunca foram realizadas contra terceiros países “. Leia-se, portanto, Estados Unidos. “Nossas relações resistem à pressão da comunidade internacional e estão se desenvolvendo de forma muito estável”, acrescentou.

NOTA DO GOVERNO – Pelo tom da frase deixou claro que não há apoio chinês a um confronto com os americanos como chegou a pensar Putin numa manobra de intimidação para o Ocidente. Pelo contrário, o chanceler chinês foi portador de uma nota do governo de Pequim frisando essa questão, destacando que a China tem uma proposta de paz para o caso da guerra da Ucrânia, cujas bases já foram encaminhadas para Kiev.

A guerra, diz o chanceler, é uma questão difícil para os chineses que têm buscado se posicionar como um país neutro, embora forneçam apoio diplomático a Moscou. Acentuou que para o governo chinês, o Kremlin é um aliado chave num cotejo com o cerco ocidental a seus interesses estratégicos, em especial na Ásia.

Ao situar interesse estratégico na Ásia, o chanceler deslocou a questão da Ucrânia dentro da ordem que considerou multipolar mundial.  Como se observa, a China, na verdade, se esquivou de um comprometimento maior e mais perigoso ao lado da União Soviética contra a pressão do governo Joe Biden. A solidariedade de Pequim a Moscou, portanto, tem limites .

ELO – O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, esteve na Polônia e reforçou o elo dos americanos com os países da Otan contra uma ameaça russa na questão do rompimento do tratado atômico que limitou a produção de artefatos nucleares.

Na defesa de uma ordem multipolar , o embaixador Wang Yi também priorizou evitar sanções e preservar os laços econômicos com o Ocidente, posição que demonstrou na recente viagem que fez a países europeus. A atual situação internacional é crítica e complexa. Mas a relação entre a China e a Rússia é sólida.

A diplomacia chinesa divulgou uma nota sobre o encontro de quarta-feira, dizendo que Wang e Putin discutiram sobre a questão ucraniana, ressaltando que a Rússia está disposta ao diálogo  e à negociação, o que não foi verbalizado por Moscou.

PROPOSTA – No fim da semana passada, a China apresentou uma breve proposta de paz, cujo conteúdo foi enviado à Kiev. Logo após o encontro com o chanceler chinês, Putin fez um discurso para celebrar o dia dos defensores da pátria, sem sinalizar nenhuma perspectiva para a paz da Ucrânia. Pelo contrário, anunciou uma nova ofensiva. Portanto, ficou claro que fundamentalmente há uma divergência profunda sobre o caso entre a Rússia e a China.

Conforme sempre assinalo, não basta ler os fatos, mas ler o conteúdo nos textos e verificar as tendências nos fatos. Essa visão prática aplica-se bem, penso, às matérias publicadas pelo estado de S. Paulo, pela Folha de S. Paulo e O Globo, edições de ontem. Uma análise calma, mostra os verdadeiros aspectos tratados ou desviados de consideração, a exemplo do fornecimento chinês de armas a Moscou.

COMBATE AO EXTREMISMO –  O governo finalmente instalou o Grupo de Trabalho que criou para propor estratégias de combate às fake news e aos discursos de ódio que circulam na internet. A repórter da Folha de S. Paulo Patrícia Campos Mello, vítima de estúpida agressão verbal pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, vai integrar o grupo como vinculada aos Direitos Humanos e Cidadania.

Houve, inclusive, um erro de publicação da Portaria no Diário Oficial que levou Patrícia Campos Mello a uma explicação pública: “Como jornalista não posso participar oficialmente de um Grupo de Trabalho do governo. Irei apenas colaborar com opiniões sobre o tema que pesquiso há muitos anos, mas sem nenhum vínculo formal com o grupo”. A escolha  da jornalista, a meu ver, foi excelente.

RESPONSABILIDADE DAS EMPRESAS –  A Suprema Corte dos Estados Unidos colocou na pauta de julgamento uma ação proposta pelo governo sobre a responsabilidade legal e jurídica das empresas que operam na internet quanto ao conteúdo dos textos publicados, entres os quais se incluem, como ocorre no Brasil, investidas contra as instituições e princípios democráticos. A questão, penso, não é complexa, como muitos atribuem, como forma de ocultar a identidade dos autores na tentativa de blindá-los contra ações criminosas.

No caso brasileiro, e também americano, aplica-se aos sites o mesmo que a Lei de Imprensa destina aos jornais de forma geral. Liberdade de expressão não é anonimato ou isenção diante dos limites da lei. Se as matérias não são assinadas, caso dos Estados Unidos e em muitos casos do Brasil também, a responsabilidade é das redes sociais da internet, uma vez que acusações em mensagens anônimas incitando à violência, à imoralidade e aos crimes têm que ter seus autores identificados. Na ausência deles, a responsabilidade é das empresas que os publicaram, a exemplo de como é nos jornais no Brasil.


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