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quarta-feira, janeiro 25, 2023

Rivotril, Nutella, filé mignon e dinheiro vivo no cartão corporativo de Bolsonaro


Bolsonaro usou cartão corporativo em motociatas, férias e após casamento de filho | Partido dos Trabalhadores

Ilustração reproduzida do Arquivo Google

Guilherme Amado, Bruna Lima e Beatriz Souza
Metrópoles

As notas fiscais dos gastos nos cartões corporativos da Presidência da República durante o governo de Jair Bolsonaro revelam a existência de dezenas de saques em dinheiro vivo. Documentos encontrados pela coluna no acervo publicado pela Fiquem Sabendo, organização que obteve as notas fiscais dos gastos do governo do ex-presidente, indicam diversas retiradas de dinheiro em espécie ao longo de todo o mandato.

Na semana passada, a coluna de Rodrigo Rangel, no Metrópoles, revelou que um inquérito no Supremo Tribunal Federal identificou o uso dos cartões corporativos da Presidência para, com esses saques, fazer uma espécie de caixa dois de Bolsonaro.

SAQUES EM DINHEIRO – No acervo, é possível encontrar saques sequenciais feitos na agência do Banco do Brasil do Palácio do Planalto, com valores que variam de R$ 500 a R$ 1.000. Uma das notas mostra que, no dia 25 de junho de 2021, foi feita uma retirada de R$ 1.000 e, 40 segundos depois, foi realizado um outro saque de R$ 500. O responsável pela transação foi um assessor da Presidência.

Duas semanas antes, no dia 11 de junho de 2021, foram feitas quatro retiradas de R$ 1.000 em um intervalo de dois minutos. O saque foi feito por um outro servidor.

No dia 7 de junho, o sargento Weisder Barros Galvão, lotado como assistente no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), tinha feito um saque de R$ 1.000 e outro de R$ 500. Segundo consta na nota, o dinheiro vivo foi para pagar excesso de bagagem na GOL, despesa que poderia ser custeada com o próprio cartão, sem necessidade de saque.

OUTRAS RETIRADAS – Três meses antes, em março daquele ano, uma assessora técnica de Planejamento e Orçamento da Presidência da República fez quatro saques de R$ 1.000 dentro de cinco minutos.

Ao todo, entre março e junho de 2021, servidores ligados a Bolsonaro sacaram R$ 11.000 do cartão corporativo para despesas que não têm finalidade declarada.

Também foi feito um saque, em junho de 2021, de R$ 22.000 do suprimento de fundos, que é previsto por lei como um adiantamento de despesas que não podem esperar licitações ou contratações diretas. O documento, assinado por um assessor, não declara para quais fins o adiantamento foi feito.

VEJAM OS GASTOS – Os R$ 27 milhões gastos diretamente pela Presidência da República no governo Bolsonaro, ao longo dos últimos quatro anos, foram usados para pagar todo o tipo de despesa da família presidencial. Compras de supermercado, produtos de higiene, remédios, lanches para cabos eleitorais em motociatas, restaurantes, hotéis e tudo mais.

A organização Fiquem Sabendo, especializada em acesso à informação pública, escaneou milhares de notas fiscais dos gastos, depositadas em um prédio do governo federal em Brasília, e publicou o conteúdo, a partir desta segunda-feira, para consulta.

As notas fiscais mostram que, nas motociatas de Bolsonaro, por exemplo, eram comprados centenas de lanches em supermercados locais, o que indica que os participantes ganhavam ao menos essa recompensa para desfilar ao lado de Bolsonaro. Nas viagens pelo país, eram comuns os gastos dos cartões de Bolsonaro com dezenas ou centenas de refeições.

ATÉ REMÉDIOS – Despesas com medicamentos também eram custeadas com dinheiro público. Uma nota fiscal da Drogaria do Povo, na Asa Norte, em Brasília, mostra a compra do antidepressivo Lexapro e o antiansiolítico Rivotril, usado para tratar transtornos do pânico e transtornos de ansiedade, entre outros.

Todos os alimentos consumidos nos palácios presidenciais também eram custeados pelo governo. Notas mostram compra de dezenas de quilos de filé mignon em uma só nota, e uma variedade ampla de outros itens, de Nutella a frutas nobres.

A coluna mostrou que muitos desses gastos precisam ser esclarecidos. Em 2019, por exemplo, a Presidência da República gastou R$ 30 mil em hospedagens no Hotel Matsubara, em São Paulo (SP), em datas em que o então presidente da República nem estava na cidade.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– O cartão corporativo é uma necessidade, para custear determinados gastos da Presidência, mas seu uso abusivo pelos sucessivos locatários do Planalto/Alvorada indica o baixo nível desses políticos, suas famílias e seus assessores, que se comportaram como famintos roedores dos gastos públicos. É uma vergonha, um vexame institucional, que se repete nos outros apodrecidos Poderes. “Que país é esse?”, perguntariam Francelino Pereira e Renato Russo. E a gente responderia: “É o país da elite predadora”. (C.N.)

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