Publicado em 8 de janeiro de 2023 por Tribuna da Internet
Vera Rosa
Estadão
Na primeira reunião ministerial de seu mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que a equipe aposente a palavra “gasto” de seu vocabulário. A portas fechadas, Lula afirmou que o único gasto aceito pelo mercado financeiro é o dos juros, mas destacou a importância da mudança desse discurso.
“O governo tem de falar de investimento”, insistiu o presidente nesta sexta-feira, 6, segundo relatos de participantes da reunião, ao lembrar que deu essa orientação ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
DISSE HADDAD – Pouco antes, Haddad havia dito que os gastos deste ano já estão contratados no Orçamento e pediu aos colegas cuidado para que não sejam feitas novas despesas, sob pena de corte. Argumentou, ainda, que todos os anúncios de medidas e programas devem levar isso em conta.
Diante de 37 ministros, na Sala Suprema do Palácio do Planalto, Lula assegurou que o governo não deixará de enfrentar a questão fiscal. Mais uma vez, porém, insistiu em que gasto social precisa ser encarado como investimento, e não como despesa.
O presidente repetiu ali trechos do que dissera na parte aberta da reunião. Sempre olhando para Haddad e para a ministra do Planejamento, Simone Tebet, Lula afirmou que o papel da equipe econômica é dizer que não tem dinheiro; o dos demais ministros é pedir recursos e o dele é o de arbitrar o impasse, na tentativa de descobrir uma brecha para arrumar verba.
JOGAR EM CONJUNTO – Ao citar a vitória da Argentina na Copa do Mundo, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, indicou como deve ser o trabalho da equipe. Na sua avaliação, o time do governo tem “muitos craques”, mas só será campeão se não fizer jogadas individuais. “Eu gosto muito de futebol”, avisou Costa, rindo.
Responsável pela articulação política do Planalto com o Congresso, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, repetiu palavras de Lula ao pedir que todos mantenham uma boa relação com o Legislativo.
Padilha disse que, diante de qualquer dúvida, é preferível o ministro ir ao Congresso a esperar a notícia virar uma crise, com possibilidade do constrangimento de uma convocação.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Isso tudo aconteceu na sexta-feira, dia 6. Por coincidência, é claro, na quarta-feira, dia 4, publicamos aqui na Tribuna da Internet a informação de que Tancredo Neves tinha como lema de seu governo o slogan “É proibido gastar”. Dois dias depois, Lula da Silva pede que a palavra “gasto” seja eliminada do linguajar dos ministros. Foi coincidência, é claro, só pode ter sido coincidência. Lula não gostava muito de Tancredo e proibiu que os quatro deputados petistas votassem nele na eleição indireta. Eles votaram e foram expulsos do partido. De toda forma, recordar é viver e na próxima “coincidência” a Tribuna vai começar a cobrar royalties. (C.N.)