
Novo chefe do Exército defende legalidade da vitória de Lula
Pedro do Coutto
O presidente Lula da Silva nomeou o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, comandante militar do Sudeste, para o comando do Exército, substituindo o general Júlio César Arruda que efetivamente não teve a firmeza indispensável no episódio das selvagens invasões e depredações que se estenderam por várias horas pelo Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
A cidade de Brasília, como é de conhecimento geral, viveu praticante quatro horas de caos, com os vândalos destruindo o patrimônio público, invadindo as sedes dos Três Poderes e ainda ostentando os resultados de sua fúria movida pelo fanatismo e pela idolatria ao ex-presidente Jair Bolsonaro que acompanhava tudo da cidade de Orlando, na Flórida.
SUBVERSIVOS – O acampamento montado em frente ao QG do Exército, em Brasília, era também uma base de operação da onda subversiva, como os fatos que vieram em sequência da tentativa de apocalipse comprovaram. O ex-ministro Anderson Torres mantinha em sua residência um projeto de decreto voltado para anular as eleições e intervir no Judiciário, substituindo-o por uma maioria de oficiais do Exército com a intenção de anular a transmissão do poder e, com isso, estabelecer um golpe de Estado de sequências e consequências imprevisíveis.
Entretanto, os ventos do destino sopraram na direção do general Tomás Paiva que, num discurso na última sexta-feira em evento do Comando Militar do Sudeste, foi absolutamente afirmativo na defesa da ordem, da Constituição, da alternância de poder e do respeito às urnas populares. O episódio me faz lembrar o dia 11 de novembro de 1955, quando os generais Teixeira Lott e Odylio Denys agiram com a firmeza absolutamente necessária para manter a disciplina e a hierarquia do Exército, assegurando a posse do presidente Juscelino Kubitschek, eleito em outubro daquele ano.
Lott era ministro da Guerra (nome atual do Ministério do Exército) e Odylio Denys comandava o Primeiro Exército. O coronel Jurandir Mamede, agindo em sintonia com as pregações do então deputado Carlos Lacerda, pronunciou-se publicamente contrário à posse do eleito. A posição subversiva de Lacerda deixou sementes ideológicas e agora a atmosfera de 11 de novembro de 1955 ressurge numa versão 2023. Lott fora escolhido ministro com base no critério da antiguidade. Os golpistas de então, lacerdistas, pensavam em poder utilizá-lo para o seu projeto, mas os fatos agiram em contrário.
NOVO COMANDO – Agora, em 2023, o general Tomás Paiva chegou ao comando do Sudeste também pelo critério da antiguidade. Sua eficiência e formação democrática surgiram fortes e decisivamente na sexta-feira. Hoje, segunda-feira, haverá a transmissão de posse no comando do Exército. O sistema de Segurança do Planalto, como o próprio Lula revelou, falhou.
O QG de Brasília foi contrário à desmontagem do acampamento e, conforme noticiado pela GloboNews, fora transformado praticamente em um bairro em que se movimentavam agentes da desordem e pessoas hipnotizadas pelo fanatismo, meros instrumentos à disposição dos que desejavam desencadear um processo de derrubada do governo Lula.
Na minha opinião, a partir da alvorada de hoje, o panorama de Brasília se altera substancialmente. E não só o de Brasília, mas do país como um todo, pois o governo não é um setor isolado da realidade ampla e global de todo o território. Lula, sem dúvida, reencontrou a solidez necessária para governar. Não se trata de conciliação, mas de ação para preservar o regime democrático e agir de acordo com a Constituição.