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quinta-feira, agosto 25, 2022

Zero a zero de Bolsonaro




Na entrevista a Globo, ficou claro que, quando refreia seus instintos agressivos, o presidente se assemelha, na verdade, a qualquer parlamentar do baixo clero desprovido de carisma. 

Por Fernando Dantas (foto)

Foi nítida a impressão de que Jair Bolsonaro, em sua entrevista de 40 minutos ontem ao Jornal Nacional da Rede Globo, jogou na retranca, na base do “não faço mas também não levo gol”.

O presidente estava calmo, e bem menos agressivo do que de costume. Quase não houve “revide” aos entrevistadores – como em ocasiões em que atacou a Globo ao ser pressionado por jornalistas da emissora – e Bolsonaro não criticou Lula, nem os comunistas e outros dos seus muitos inimigos reais e imaginários.

Segundo o analista política Ricardo Ribeiro, sócio e fundador da consultoria Ponteio Política, “Bolsonaro não foi mal, e contou as lorotas dele no estilo tosco já conhecido, mas foi civilizado e defendeu os argumentos que são bem recebidos”.

Ribeiro aponta que o importante é saber o que os eleitores indecisos ou menos firmes nos votos aos seus adversários – Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet – acharam do desempenho de Bolsonaro.

Pesquisas qualitativas e quantitativas podem dar uma ideia melhor, mas os primeiros indícios e apostas são de que, se não desagradou particularmente, o presidente também não foi contundente o suficiente para virar votos.

Bolsonaro, de certa forma, parece preso na armadilha que montou para si próprio por meio do seu radicalismo e destempero.

Ele conseguiu criar uma grande base eleitoral com forte vínculo emocional à sua figura, de um feitio que, no período pós-redemocratização, quase só se encontra no lulopetismo. O brizolismo nos anos iniciais do período democrático aproximou-se desse figurino, mas não sobreviveu à velhice e ao falecimento do seu líder.

O problema de Bolsonaro é que essa fatia fiel do eleitorado é alimentada pela atuação performática do “mito”: o presidente sem estribeiras, sempre no ataque virulento contra a esquerda, os comunistas, os corruptos, os supostos inimigos da religião cristã e a elite bem pensante que estaria mancomunada com esses adversários dos “homens de bem”.

Para conquistar os indecisos, entretanto, Bolsonaro tem que parecer mais “presidencial”, no sentido de maduro, ponderado, conciliador. Mas quando refreia seus instintos, o presidente se assemelha, na verdade, a qualquer parlamentar do baixo clero desprovido de carisma e toscamente voltado à sua pequena agenda fisiológica.

Respostas triviais e pueris como “muitas vezes, quando a pessoa chega, a gente vê que ela não leva muito jeito para aquilo” para explicar quatro trocas de ministro da Educação, não ajudam a dar um ar de estadista e gestor competente a Bolsonaro.

Rafael Cortez, analista político da consultoria Tendências, observa que a principal tarefa da campanha de Bolsonaro é reduzir a taxa de rejeição do presidente, que não só é maior do que a de Lula como também atinge mais de metade do eleitorado.

Nesse sentido, na visão de que uma campanha de reeleição é um plebiscito sobre o governo, Bolsonaro está de antemão derrotado se não reverter tamanha rejeição.

Cortez enxerga duas frentes nesse esforço. Uma delas é a de tentar aumentar a rejeição do rival Lula, e o analista pensa que o presidente vai se aferrar nesse combate à agenda não econômica, voltada a valores e comportamento.

A outra perna do esforço é a de tentar convencer os eleitores que o rejeitam de que eles têm uma visão distorcida do governo.

É nessa segunda seara que Bolsonaro tentou se mover na entrevista para a TV Globo, mas, como aponta Cortez, “aí o presidente é o principal adversário do candidato”.

O problema, explica o analista, é que o presidente teve que gastar muito do seu tempo explicando idiossincrasias do seu comportamento no cargo, como disparates na linha de “quem não toma vacina pode virar jacaré”, ou imitações de pessoas sufocando pelos efeitos da Covid, ou reviravoltas na sua atitude em relação ao Centrão.

A entrevista acabou consumida em parte considerável por conversas em torno do comportamento de Bolsonaro, furtando tempo para o presidente tentar defender o seu governo e para os próprios entrevistadores questionarem os muitos desastres da atual administração do País.

O Estado de São Paulo

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