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quinta-feira, agosto 25, 2022

Bolsonaro mente e é autoritário - mas não perde o prumo - Editorial

 




Entrevista ao JN demonstrou por que, apesar das barbaridades, ele continua um candidato competitivo

Sobraram mentiras e faltou um compromisso inequívoco com o respeito ao resultado das urnas na entrevista que o presidente Jair Bolsonaro concedeu à bancada do Jornal Nacional como candidato à reeleição. Nisso, não houve surpresa. A novidade foi o comportamento mais sereno que tentou adotar, é verdade que nem sempre com sucesso.

Cobrado a assumir o compromisso público de que não contestará o resultado da eleição, Bolsonaro adotou uma postura ambígua que lhe permite, ao mesmo tempo, dizer aos críticos que recuou e afirmar ao aduladores que foi coerente. Depois de um vaivém de perguntas precisas e respostas evasivas, disse que poria um “ponto final” e aceitaria o resultado desde que as eleições fossem “limpas e transparentes”. É pouco, pois manteve uma brecha aberta a futuras contestações — e confusão — caso perca. Também atribuiu às Forças Armadas o papel de árbitro do assunto, absurdo que não encontra amparo constitucional. Seu lado autoritário transpareceu quando se negou a criticar seguidores que defendem a ditadura e um golpe para mantê-lo no poder. “Quando alguns falam em fechar o Congresso, é liberdade de expressão deles”, afirmou. “Eu não levo para esse lado.” Como Pilatos, lavou as mãos do golpismo que ele mesmo incentivou.

A entrevista também deixou claro seu pendor incorrigível pela mentira. Negou ter xingado integrante do Supremo, apenas para ser contestado e se ver obrigado a admitir que chamou o ministro Alexandre de Moraes de “canalha”. Disse que, na pandemia, o governo socorreu Manaus em dois dias, quando o oxigênio levou nove para chegar, enquanto a cidade vivia um morticínio sem paralelo. Negou ter imitado pacientes de Covid-19 com falta de ar, quando as imagens estão ao alcance de qualquer cidadão.

Questionado sobre a pandemia, insistiu na barbaridade do “tratamento precoce” à base de cloroquina e mentiu ao dizer que não atrasou a encomenda de vacinas. Afirmou que o Brasil teve bom desempenho ao lidar com a crise sanitária, quando a mortalidade brasileira está entre as maiores do mundo. O pedido de desculpas aos parentes dos mortos pela Covid-19 nunca veio.

Não logrou dar explicação convincente a respeito do caos no Ministério da Educação. Sobre a destruição da Amazônia, apelou para a falácia de que o Brasil preserva mais território que outros países e disse que florestas também pegam fogo na França, na Alemanha ou na Califórnia.

Quando o assunto mudou para a economia, pôs a culpa pela inflação na guerra na Ucrânia (faltou explicar por que ela está em dois dígitos desde seis meses antes de o primeiro tanque russo invadir o território ucraniano). Na tentativa de atrair votos fora de sua bolha, deu uma resposta ardilosa sobre o Centrão — se não negociasse com os políticos, seria “ditador” —, propagandeou os programas assistenciais, a queda no preço dos combustíveis, a deflação recente e os indicadores favoráveis.

As barbaridades de Bolsonaro eram esperadas, por isso não terão custo eleitoral tão alto. Mais que perder com as mentiras ou o autoritarismo, ele deverá se beneficiar de outra faceta que a entrevista tornou evidente: o tom apaziguador. Mesmo questionado com dureza, quase não perdeu o prumo ao longo de 40 minutos. O novo comportamento contrasta com o destempero que tantas vezes manifestou e mostra que é um candidato competitivo.

O Globo

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