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sábado, agosto 06, 2022

Turbulência global neste 2º semestre




As manobras militares chineses ao redor de Taiwan acrescentaram mais um fator de risco a um semestre que promete ser tenso em boa parte do mundo

Por Humberto Saccomandi (foto)

As manobras militares chineses ao redor de Taiwan acrescentaram mais um fator de risco a um semestre que promete ser tenso em boa parte do mundo. Riscos políticos, econômicos e de segurança se acumulam neste final de ano. Isso gera incertezas e deverá deixar os mercados sob pressão.

O denominador comum deste semestre tenso é a desaceleração da economia global, com países importantes em dificuldades. Os EUA tiveram contração do PIB nos dois primeiros trimestres, o que caracteriza recessão pela definição mais comum. Mesmo pela metodologia americana, muitos economistas veem como provável uma recessão entre o final deste ano e o início de 2023.

Na Europa, a maior economia, a Alemanha, não cresceu no segundo trimestre, e espera-se queda até o fim do ano. A confiança econômica está caindo em toda a União Europeia (UE).

Na China, as projeções são de crescimento de 4,1% do PIB chinês neste ano, o menor em mais de quatro décadas (excluindo 2020, ano de início da pandemia) e bem abaixo da meta oficial, que era de 5,5% e que já foi abandonada pelo governo.

A renda per capita dos domicílios caiu 1,1% na OCDE (grupo que inclui os países ricos e alguns emergentes) no primeiro trimestre deste ano, devido principalmente ao aumento da inflação. Essa perda de poder aquisitivo deve continuar no resto do ano. A demanda menor das principais economias vai reverberar em todo o mundo.

EUA e Europa (como a maior parte do mundo) sofrem com a alta da inflação. O processo de estagflação (estagnação econômica com inflação alta) deve atingir seu momento mais forte neste segundo semestre. Ontem, o Banco da Inglaterra (o BC britânico, alertou que o Reino Unido deverá entrar em recessão nos próximos meses e que a inflação poderá atingir 13%.

A guerra na Ucrânia segue sendo o evento global mais perturbador. Como era esperado, a conflito se prolonga, com lento avanço russo. Os próximos meses indicarão quanto território a Rússia ocupará antes da chegada do inverno, quando as operações militares se tornam mais difíceis, favorecendo uma consolidação das posições. Para a Ucrânia é vital que a contra-ofensiva que vem sendo alardeada nas últimas semanas dê certo e o país consiga retomar parte das áreas tomadas pelas forças russas. Senão, o risco será grande de esses territórios serem perdido definitivamente. Acredita-se que Moscou deverá realizar nos próximos meses referendos nas áreas tomadas, para legitimar a ocupação. O passo seguinte seria a anexação.

Com avanço militar lento, parece provável que o conflito será decidido pela capacidade de cada lado de aguentar a dor (militar, política, econômica e social) imposta pelo inimigo. Fontes ocidentais, como o diretor do MI6 (a inteligência britânica), Richard Moore, vêm dizendo que a Rússia está perto de um esgotamento do seu esforço de guerra, tanto militar como econômico. Já Moscou parece apostar que aguentará o tranco até conseguir rachar o apoio ocidental (especialmente o europeu) à Ucrânia. A inflação e a perda de poder aquisitivo ameaçam espalhar insatisfação social na Europa neste semestre. A Itália pode eleger em setembro um governo simpático à Rússia.

De todo modo, as sanções ocidentais à Rússia continuarão a pesar sobre a economia mundial. E não serão levantadas antes de um acordo de paz na Ucrânia.

Com a chegada do inverno na Europa, crescerá o risco de uma crise de gás. A Rússia vem enviando cada vez menos gás, sob pretexto de manutenção nos gasodutos, o que impede que os países ampliem seus estoques. O risco de Moscou cortar de vez o fornecimento neste semestre existe. Isso faria disparar ainda mais o preço da energia e jogaria a Europa numa forte recessão. Os países da região já fazem planos de contingência que incluem, no caso alemão, priorizar o gás para aquecimento residencial, em detrimento do uso industrial.

Nos EUA, como Brasil, são as eleições que deixarão o semestre tenso. Os americanos renovarão em novembro a Câmara dos Deputados e parte do Senado. Até semanas atrás, parecia provável que os democratas, do presidente Joe Biden, perderiam as duas casas. Pesquisas recentes, porém, apontam chance de os democratas manterem o Senado. Na Câmara, a tendência continua sendo de vitória republicana.

Se Biden perder a maioria em uma das casas, isso travará a agenda legislativa e o governo possivelmente não conseguiria aprovar mais nada de relevante no Congresso. Se perder as duas casas, Biden terá um Congresso hostil e jogando contra ele nos dois últimos anos de mandato.

Além das eleições, os EUA terão de definir se avançam num eventual processo criminal contra ex-presidente Donald Trump, que pode ser acusado de liderar a rebelião que culminou na invasão do Congresso americano por manifestantes pró-Trump, em 6 de janeiro de 2021. Essa decisão deverá ter graves repercussões políticas.

A China iniciou ontem manobras militares ao redor de Taiwan, em represália à visita à ilha de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados dos EUA. A China considera Taiwan uma província rebelde. A reunificação numa só China sempre foi o objetivo de Pequim, nenhum presidente a vocalizou tanto quanto o nacionalista Xi Jinping. Não está claro, por ora, quanto essas manobras vão durar nem que impacto que elas terão para Taiwam e a região.

Muitos analistas creem que Xi poderá tentar retomar Taiwan pela força, mas não agora, já que este semestre deverá ser difícil para o líder chinês. Em outubro, ele tentará um inédito terceiro mandato presidencial. Isso deve ocorrer, mas o ideal, até lá, é evitar turbulências. Uma guerra em Taiwan seria um grande risco.

Xi já tem bastante problemas. A China vive seu pior momento econômico desde o final dos anos 80. A política de covid-zero segue prejudicando a produção no país e, principalmente, minando a confiança do consumidor chinês. Além disso, há uma crise crescente no setor de construção residencial, um dos principais motores da economia chinesa.

O risco é crescente também de países emergentes endividados serem arrastados para uma crise da dívida, devido ao aumento dos juros nas principais economias e à maior aversão ao risco nos mercados globais. Mais problemas econômicos nos emergentes significam mais risco de agitação social e política, inclusive na América Latina.

No Brasil, uma tentativa de ruptura institucional jogaria o país e a América Latina numa crise de efeitos imprevisíveis. É esse risco que os EUA buscam eliminar apoiando a democracia.

Valor Econômico

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