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sábado, agosto 06, 2022

Nunca o debate foi tão importante




A cobertura da campanha está refém de ameaças intoleráveis à democracia e de propostas programáticas superficiais

Por Vera Magalhães (foto)

A menos de dois meses das eleições mais importantes desde a redemocratização, ainda não há, da parte dos dois principais candidatos, a confirmação da participação em debates e nas sabatinas realizadas por veículos de imprensa de circulação nacional.

Justamente o pleito com um inédito confronto entre um presidente e um ex-presidente é aquele em que, até aqui, não se teve oportunidade de questionar ambos a respeito das principais contradições e lacunas de seus discursos, de ouvir e assistir a um confronto direto entre eles, em que possam expor e responder às críticas que fazem pelas redes sociais, nos palanques e diante de seu próprio público.

Era compreensível a queixa, por parte dos candidatos, à profusão de encontros pretendidos pela imprensa — assim como é plenamente justificável que cada veículo deseje promover suas próprias entrevistas e seus debates.

Pois bem: a mídia aquiesceu ao pleito pela realização de pools para assegurar que haja a participação dos dois primeiros colocados nas pesquisas no encontro entre os postulantes ao Planalto.

Agora, a expectativa é que o ex-presidente Lula confirme sua ida a um ou mais encontros — e que Bolsonaro cumpra sua palavra de que irá aos debates a que seu adversário comparecer.

A resistência inicial das campanhas ao debate tinha razões distintas. Lula, líder em todos os levantamentos, com larga margem sobre Bolsonaro, temia que, caso o presidente repetisse a estratégia de 2018 de se furtar ao debate depois da facada, restasse como alvo único de candidatos que, hoje, têm intenção de voto bastante diminuta.

Bolsonaro, por sua vez, nunca se sentiu confortável diante do escrutínio da imprensa e do confronto com rivais políticos. Nos dois únicos debates a que compareceu em 2018, o da Bandeirantes e o da Rede TV!, esteve acuado e foi reativo diante dos questionamentos.

O Brasil vive um momento de crise político-institucional, provocada pela insistência do presidente da República em acossar os demais Poderes e em contestar a transparência do processo eleitoral. Esse tema precisa ser objeto de entrevistas e debates em que Bolsonaro seja confrontado com os dados que insiste em distorcer nos ambientes controlados (lives, cercadinho do Alvorada, eventos nos palácios) em que fala a respeito.

Pesquisa Quaest mostra que é decrescente a aderência desse discurso, mesmo entre os apoiadores do presidente. Ainda assim, debates e entrevistas jogarão um detergente sobre uma mentira que, pela insistência e por partir da autoridade máxima do país, convence parcela da sociedade.

Bolsonaro também não foi questionado sobre sua gestão na pandemia de Covid-19, nem a respeito de aspectos relevantes de seu governo, como a redução da transparência sobre investigações e dados, a escalada da devastação da Amazônia e a corrupção no Ministério da Educação.

Lula, por sua vez, precisa discorrer sobre suas ainda ambíguas propostas para a economia, foco de boa parte da desconfiança a respeito de sua candidatura. Há nuances sobre o que pretende fazer em relação ao teto de gastos e às novas regras trabalhistas que vão da revogação completa a alterações até aqui não especificadas. O debate sobre a Lava-Jato também precisa ser feito para além da narrativa.

É positivo que a imprensa tenha se disposto a oferecer saídas para fomentar o debate e que os candidatos, finalmente, acenem com a disposição de discutir. A cobertura da campanha, hoje, está refém de ameaças intoleráveis à democracia, de um lado, e de propostas apenas superficiais no campo programático. Nada que ajude o eleitor a votar olhando para o futuro, em vez de voltado apenas a evitar o que considera o mal maior.

O Globo

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