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sexta-feira, julho 08, 2022

Fed age para evitar que a inflação fique resistente - Editorial




Processo de aperto monetário será penoso não só para os Estados Unidos, mas também para o resto do mundo

O Federal Reserve (Fed) está disposto a promover um aperto monetário maior, caso se mostre necessário, para evitar que a inflação se torne resistente e mais difícil de baixar - uma preocupação que, corriqueiramente, costuma tirar o sono de banqueiros centrais de países emergentes.

Nas últimas semanas, o mercado financeiro internacional teve quedas expressivas, diante de uma possível recessão na maior economia mundial. Havia, em muitos dos operadores, uma certa esperança de que o Fed poderia aliviar o aperto monetário. Toda uma geração está acostumada a ver o BC dos Estados Unidos atribuir, nas suas decisões, um grande peso aos riscos do lado da atividade.

Mas a ata do Fomc, divulgada ontem, coloca em primeiro plano as preocupações com a inflação. Muitos membros do comitê entendem que o risco diante do Fed, agora, é a inflação se tornar mais persistente, caso os agentes econômicos comecem a questionar a sua disposição em apertar a política monetária aos patamares necessários.

“Diante de pressões inflacionárias elevadas e de sinais de deterioração em algumas medidas de expectativas de inflação, todos os participantes reafirmaram o seu compromisso em retornar a inflação para a meta de 2%”, diz a ata do Fomc.

Esse é um risco conhecido aqui no Brasil. Quando o Banco Central sinalizou pouca disposição em fazer o que era preciso, ou quando os mercados suspeitaram que não tinha autonomia para tal, a inércia inflacionária aumentou. Foi o que ocorreu, por exemplo, no governo Dilma Rousseff. No fim das contas, o esforço para desinflacionar ficou ainda maior, com um alto preço pago com a perda de atividade econômica.

O consenso dos membros do Fomc é que será preciso mover as taxas de juros para o campo restritivo até o fim do ano. Isso significa que os “fed funds”, que na última reunião foram fixados na faixa de 1,5% a 1,75% ao ano, devem subir para perto ou acima do patamar nominal de cerca de 2,5% ao ano. Essa é a mediana das estimativas dos integrantes do comitê para a taxa neutra, ou seja, aquela que não acelera nem desacelera a inflação e que é consistente com a economia estável em pleno emprego.

Aparentemente, a taxa de juros ao redor de 2,5% ao ano não é suficientemente alta. Os debates dentro do Fomc estão sendo feitos em torno dos juros nominais, num momento que a inflação muito alta faz com que a economia americana opere com juros reais negativos. A projeção mediana dos membros do Fed para a variação de preços da economia é de 4,3% em 2022 e de 2,6% em 2023. Talvez por isso, o comitê admite discutir, mais adiante, se será necessário seguir subindo. Chegará o momento, certamente, de testar na prática a tese de que os juros neutros caíram para patamares reais muito baixos, em virtude da chamada estagnação secular.

O cenário descrito pelo corpo técnico do Fed é de desequilíbrio entre demanda e oferta, ocasionado não apenas pelas restrições do lado da oferta, mas também pelo excesso de demanda. O aperto monetário recente feito pelo Fed e as condições financeiras mais restritivas, que antecipam novas altas de juros, reduziram a perspectivas de expansão da economia, mas aparentemente não o suficiente.

De fato, a mediana das projeções dos membros do Fomc para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 a 2024 está por volta de 1,7% a 1,8%, grosso modo dentro do PIB potencial estimado. Ou seja, sem uma desaceleração mais forte do PIB, seria muito difícil criar um nível de ociosidade na economia suficiente para baixar a inflação para a meta.

O Fomc volta a falar, na ata, sobre a “administração de riscos” da política monetária, usando um vocabulário muito popular quando Alan Greenspan era o chairman do comitê. No entanto, naquele período, a administração de riscos pesava, de um lado, a atividade e, de outro, a inflação. Agora, o Fed diz que a boa administração de riscos recomenda posicionar a política monetária no campo restritivo para, se necessário, seguir apertando mais. A preocupação pesa mais o lado da inflação.

Esse processo de aperto monetário será penoso não só para os Estados Unidos, mas também para o resto do mundo. As condições de financiamento para economias emergentes já ficaram bem menos favoráveis, o que significa uma leniência menor dos mercados internacionais com os nossos riscos fiscais durante as eleições.

Valor Econômico

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