Publicado em 7 de julho de 2022 por Tribuna da Internet
Bernardo Mello e Jan Niklas
O Globo
No ápice da crise na aliança entre PT e PSB no Rio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou de um ato no Centro do Rio nesta quinta-feira que deixou explícita essa divisão: os dois pré-candidatos ao Senado da aliança, o deputado federal Alessandro Molon (PSB) e o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), André Ceciliano (PT), ouviram vaias e aplausos enquanto discursaram.
O impasse se dá porque o PT não abre mão de indicar o nome ao Senado na chapa que terá o deputado federal Marcelo Freixo (PSB) como candidato a governador. Molon, por sua vez, insiste na própria candidatura. A situação ganhou novos contornos nesta semana, após Freixo cobrar a desistência do correligionário em nome do cumprimento de um “acordo” e Molon retrucar dizendo que não há possibilidade de abdicar da disputa.
VAIAS E APLAUSOS – Ao ser anunciado, Molon dividiu a militância presente, que reagiu com vaias entre apoiadores de Ceciliano e gritos de apoio e aplausos entre os simpatizantes do pessebista. Ele discursou ao lado do vice-presidente do PSB no Rio, Carlos Minc.
Após falar da importância de eleger Lula e da unidade da esquerda para as eleições, Molon tratou da candidatura ao Senado no Rio. Com críticas ao senador Romário, ele disse que o estado não pode continuar mal representado.
— Precisamos enfrentar e derrotar Cláudio Castro sem conciliação e sem ambiguidades. E precisamos tirar do Senado um senador que nada fez pelo Rio de Janeiro. Quando era jogador de futebol, jogava parado mas fazia gol. Agora, jogar parado no Senado é ser omisso e preguiçoso. O Rio não merece continuar mal representando por Romário — disse Molon.
PETISTAS PROVOCAM – Enquanto o deputado discursava, a militância petista cantava “Molon, eu não me engano, para Senador é Ceciliano”.
— Vamos à vitória na luta pelo Senado. Nós temos apoios de quatro partidos (PSB, PSOL, Rede e Cidadania) e vamos vencer essas eleições — prosseguiu Molon.
Em seguida, Ceciliano foi anunciado ao som de um jingle de campanha com o verso “Já está fechado, é Lula lá André aqui de novo”. Aplaudido pela militância petista, foi vaiado por apoiadores de Molon. Sem mencionar o concorrente, Ceciliano chamou de “covardes” aqueles que deixaram o PT em momentos difíceis. Molon saiu do PT em 2015, em meio às investigações contra integrantes do partido, Lula incluído, na Operação Lava-Jato.
TIPO LINDBERGH – “Quero ser um senador como foi Lindbergh, que não tirou o pé da bola dividida e estava lá em defesa da presidente Dilma Rousseff. Eu nunca saí do Partido dos Trabalhadores, mas os covardes saíram Muitos covardes abandonaram o partido no momento mais difícil”, assinalou Ceciliano.
A disputa é um dos principais imbróglios entre os partidos nas costuras políticas nacionais. O PT e Freixo afirmam que houve um acordo prévio em que Molon deveria retirar sua candidatura, caso o candidato ao governo conseguisse se mostrar competitivo e conseguisse apoio de vários partidos. M
olon, por outro lado, afirma que não ocorreu um “acordo”, mas “conversas iniciais”. Ele garante que não irá retirar a candidatura.
MOLON É PRETERIDO – Preterido até aqui em agendas de Lula neste giro do petista pelo Rio, Molon não subiu ao palco no encontro do petista com representantes do samba e do carnaval, na quarta-feira.
Além disso foi recebido somente por Alckmin para conversas políticas, enquanto Ceciliano e Freixo estiveram em praticamente todas agendas de Lula. O pré-candidato do PSB ao Senado, contudo, reuniu artistas e lideranças de partidos como PSOL e Rede que endossam seu nome contra o de Ceciliano.
Segundo fontes do PT, a palavra final de Lula sobre seu palanque no Rio depende ainda de suas conversas com o prefeito Eduardo Paes (PSD).