Ranier Bragon, Danielle Brant e Renato Machado
Folha
As eleições presidenciais de outubro podem ter o maior número de debates da história, mas os possíveis confrontos correm o risco de serem realizados sem a presença dos dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Ao todo, organizadores negociam com as campanhas políticas regras para a realização de dez debates no primeiro turno e outros seis no segundo, caso ocorra.
Se todos esses eventos forem realizados, será batido o recorde da disputa de 2010, quando Dilma Rousseff (PT) se elegeu pela primeira vez. Naquele ano, nove debates foram organizados no primeiro turno e outros quatro no segundo.
SEM OS FAVORITOS – A campanha de Lula tem defendido a realização de apenas três debates no primeiro turno, por meio de um pool de emissoras. A de Bolsonaro sequer tem enviado representantes para as reuniões com os órgãos de imprensa, segundo as campanhas.
Diferentemente das propagandas na TV e no rádio, em que os candidatos são apresentados sob o verniz do marketing eleitoral, os debates submetem os concorrentes, ao vivo, ao escrutínio de adversários e jornalistas.
A campanha de Lula divulgou uma carta aberta à ANJ (Associação Nacional de Jornais) e à Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) afirmando reconhecer a relevância dos debates, mas dizendo não ser menos importante o contato direto dos candidatos com os eleitores.
ALEGA O PT – “Dentro do exíguo período de 45 dias de campanha eleitoral, determinado pela legislação em vigor, tal programação de debates, concentrados na capital de São Paulo, é incompatível com a agenda política e a realização de atos públicos de campanha, que exigem deslocamentos pelas 27 unidades da federação”, diz a nota, assinada pelos presidentes de PT, PC do B, PSB, PSOL, PV, Rede e Solidariedade.
Em resposta, a ANJ e a Abert, também em carta, ressaltaram na terça-feira (28) ser facultado aos veículos a realização de debates —no caso de TVs e rádios, mediante regras acordadas com as campanhas— e afirmaram que não são partes legítimas para tratar do tema.
“Os debates eleitorais no rádio, na televisão e nos jornais integram a programação normal das emissoras e/ou a linha editorial dos veículos, sem qualquer participação ou ingerência das subscritoras.”
JÁ PROGRAMADOS – Apesar da indefinição dos políticos que lideram as pesquisas, há entendimentos com campanhas para possível realização de debates por CNN Brasil, TV Band, TV Jovem Pan News, TV Globo, Folha/UOL e SBT/Estado de S. Paulo/Veja/Rádio Nova Brasil (1º e 2º turnos), além de Rede TV, O Globo/Valor/CBN, CNBB/TV Aparecida e TV Cultura (1º turno apenas).
Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado nas pesquisas, afirmou por meio de sua assessoria que os debates seriam uma “oportunidade de ouro” de enfrentar e “desmistificar” Bolsonaro e Lula.
“Quem conhece de perto os dois seria capaz de apostar que eles irão fugir. Mas quem conhece de perto o sentimento que está crescendo no subterrâneo destas eleições, sabe que será muito difícil que eles tenham coragem de correr este risco. Em suma, acho que eles tentarão fugir mas não conseguirão.”
JANONES LAMENTA – André Janones (Avante) afirmou que conta com os debates como uma das principais vitrines, mas que não acredita que Bolsonaro ou Lula irão comparecer.
“Para mim é fato que eles não estarão, lamento muito. O que eu posso fazer é ir e aproveitar esse espaço para apresentar minhas propostas, falar quem eu sou, me apresentar.”
Simone Tebet (MDB) disse considerar a participação dos candidatos em debates mais do que fundamental neste 2022, em que se chegou ao ponto de ter que defender a democracia. “Quem fugir do confronto público de ideias estará retirando dos eleitores um importante instrumento de participação popular na escolha do próximo presidente da República. E que tem meu empenho para que seja uma mulher”, disse.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A matéria é muito longa e conta a história dos debates aqui na filial Brazil, uma prática consagrada na matriz U.S.A. desde o primeiro confronto da História, entre John Kennedy e Richard Nixon, em 1960. Mas acreditamos que, desta vez, a matéria pode ser resumida numa simples frase – Com medo da terceira via, Lula e Bolsonaro fogem dos debates. (C.N.)