Publicado em 8 de julho de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Há algo estranho no reino da Eletrobras, quero dizer na área da Eletrobras, e chego a essa conclusão ao ler a reportagem de Bruno Rosa, O Globo, edição de quarta-feira, dia 6 de julho, sobre uma ação judicial que as construtoras Andrade Gutierrez e Odebrecht estão movendo contra a Santo Antônio Energia que construiu a Usina de Santo Antônio, ainda no primeiro governo Lula da Silva e que provocou um choque entre as ministras Dilma Rousseff, de Minas e Energia, e Marina Silva, do Meio Ambiente.
Estabeleceu-se na ocasião uma sociedade por quotas. Furnas teria 47% das ações e a Odebrecht e Andrade Gutierrez 18% cada uma. A Cemig já privatizada participava também do consórcio. Agora, vejo assinalar com surpresa, que Furnas detém 72,3% do capital da Santo Antônio Energia. E que a Andrade Gutierrez e a Odebrecht estão cobrando da própria empresa uma indenização de R$ 1,4 bilhão. A questão está na justiça, onde duas acionistas julgam-se principalmente credoras. Um mistério.
INSTITUTO QUAEST – A Folha de S.Paulo publicou na edição de ontem que pesquisa realizada pelo Instituto Genial/Quaest, concluída na quarta-feira, apontou 45% das intenções de voto para Lula da Silva, contra 31% de Bolsonaro. Em terceiro aparece Ciro Gomes com seis pontos e Simone Tebet registrou 2%.
A pesquisa assinala que 6% pretendem anular ou votar em branco e outros 6% permanecem indecisos. Somadas as duas parcelas, Lula alcançaria maioria absoluta no primeiro turno.
PLANO DE SAÚDE – Em artigo publicado com grande e merecido destaque pela Folha de S. Paulo, edição do dia 6 de julho, o professor Ailton Barcelos Fernandes, ex-ministro da Ciência e Tecnologia no governo Itamar Franco, revela que o plano de saúde que contratou, e paga há 29 anos, em decorrência de aumentos contratuais praticamente obriga a sua expulsão do referido convênio por falta de condições de pagá-lo.
Revela ter sofrido um reajuste de mais de 100% em função do aumento de sua idade, além de reajustes gerais como o de agora da ordem de 15,5%. Ailton Barcelos Fernandes não cita a qual plano está vinculado, mas chama a atenção para um aumento da inadimplência que continua maciça, pressionando e desestabilizando oito milhões de segurados.
Na minha opinião, o plano atende ao professor Ailton Barcelos Fernandes deveria se pronunciar a respeito do assunto e também a associação das empresas que operam o setor deve responder às críticas e apresentar suas explicações. O ex-ministro acentua ser um segurado aposentado que está sendo conduzido em algemas contratuais para expulsão. Ele discute o conceito do aumento dos pagamentos mensais em função do aumento de idade dos segurados.
REAJUSTES – Na minha impressão, existem dúvidas se tais reajustes superiores à inflação pertencem aos contratos originais firmados. Airton Barcelos Fernandes cita estudo do Ipea e também focaliza as decisões da Agência Nacional de Saúde. Esta, assim, deve também se pronunciar, embora, teoricamente, não possua ligação com as empresas seguradoras.
As seguradoras estão aplicando um índice baseado no valor das despesas assistenciais somadas ao IPCA do IBGE que atingem 12% no período de maio de 2021 a maio de 2022. Além disso, recai sobre a cobrança, o aumento agora de 15,5%. O ex-ministro da Ciência e Tecnologia cita a peça “Hamlet”, de Shakespeare, dizendo que os aumentos liberados são o prenúncio de que algo tenebroso encontra-se à espreita no Reino da Dinamarca.
INSEGURANÇA ALIMENTAR – A Organização das Nações Unidas – matéria de Carolina Nalin, O Globo, edição de ontem – revelou em relatório que 61 milhões de pessoas do Brasil estão em faixas de insegurança alimentar consumindo menos alimentos do que deveriam por falta de recursos financeiros.
Aliás, há poucos dias, lembrei que a fome é uma consequência trágica da política do ministro Paulo Guedes que libera totalmente os preços mas congela os salários, fazendo-os perder poder de compra em consequência da disparada da inflação.
No Brasil, enquanto 61 milhões sofrem algum tipo de insegurança alimentar, 15,4 milhões de homens e mulheres encontram-se no mapa da fome, o que representa um aumento de 3,9 milhões de brasileiros e brasileiras no período de 2019 a 2021. No mundo, de 2,3 bilhões de seres humanos, 29% da população do planeta vivem sob a pressão da insegurança alimentar. Não sabem hoje se poderão comer nos próximos dois dias. A ONU acentua que o problema está longe de acabar, até porque o mapa da fome vem aumentando no mundo inteiro.
TESOURO DIRETO – Numa excelente matéria, Fernanda Guimarães, O Estado de S. Paulo, edição de quarta-feira, revela que o governo elevou em 5,8% os juros reais que regem a remuneração dos títulos do Tesouro direto do mercado financeiro. Isso significa que nominalmente os juros serão de 17,8% ao ano, já que a inflação atual é de 12 pontos para o período de junho de 2021 a junho de 2022.
A oferta é motivadora, certamente. Mas é preciso, como sempre, avaliar o prazo do resgate antes do vencimento, pois pode representar prejuízo para os aplicadores. No caso dos títulos do Tesouro direto, o prazo mais curto de resgate é o de 2026. Numa escala os juros reais sobem na medida que o prazo contratado de resgate é mais longo.
É uma aplicação de risco se, como acentua a economista Marília Fontes, a inflação não subir mais do que o patamar no qual se encontra. Pois na medida em que a inflação subir, os juros reais de 5,8% podem desaparecer.