Gerson Camarotti
G1 Brasília
Não foi por acaso ou mera coincidência que a única manifestação (em rede social e em “live”) do presidente Jair Bolsonaro até agora sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia tenha sido sobre os cerca de 500 brasileiros que estão naquele país.
Ele foi alertado de que a situação de risco dos brasileiros que vivem na Ucrânia pode causar enorme desgaste de imagem ao governo por não ter feito como vários outros países que retiraram ou recomendaram a saída de seus cidadãos de lá com antecedência.
SERÁ COBRADO – Bolsonaro teme ser cobrado pela situação de brasileiros que vivem na Ucrânia pelo governo não ter se antecipado ao cenário de guerra e ter recomendado a saída de brasileiros do país quando era possível.
Nas palavras de um interlocutor próximo do Palácio do Planalto, o maior temor no governo é de que ele seja até mesmo responsabilizado pela situação dos brasileiros na Ucrânia. “Por isso, o presidente Bolsonaro precisava sair do silêncio e falar da situação dos brasileiros por lá”, observou um interlocutor.
DEPOIMENTOS DRAMÁTICOS – De forma reservada, há o reconhecimento de que depoimentos dramáticos em vídeo de brasileiros que estão vivenciando a guerra em outro país tem potencial de sangrar a avaliação do governo Bolsonaro.
Nesta quinta-feira, o Itamaraty admitiu que não há condições de resgatar brasileiros da Ucrânia em curto prazo. Aliados já avaliam que foi um erro do presidente Jair Bolsonaro ter minimizado o risco de uma invasão da Ucrânia. E de ter comprado cegamente o discurso russo de que estava retirando tropas da fronteira.
A percepção de diplomatas experientes ouvidos pelo Blog é que o Itamaraty não seguiu com antecedência a recomendação de outros países de retirada de estrangeiros da Ucrânia porque iria contradizer a posição de Bolsonaro quando esteve em Moscou para visitar o presidente Vladimir Putin na semana passada.
DISSE O EMBAIXADOR – Pouco antes da visita, no dia 13 de fevereiro, o embaixador do Brasil na Ucrânia, Norton de Andrade Mello Rapesta, garantiu que a situação no país era bastante tranquila e normal, tanto para os brasileiros quanto para demais estrangeiros e os próprios ucranianos.
Ele chegou a dizer, na ocasião, em entrevista à GloboNews, que não existia motivo para se alarmar ou pensar em fugir do país, como já havia expressado na véspera a embaixada em uma nota oficial.
O diplomata reconheceu que o serviço consular estava recebendo na ocasião consultas de alguns cidadãos e disse que existia um pouco de stress, especialmente devido ao noticiário da mídia internacional.
PLANO DE CONTINGÊNCIA – Questionado, Rapesta lembrou que todas as embaixadas brasileiras no exterior têm planos de contingência, até mesmo para o caso de desastres naturais, e que, no eventual caso de uma guerra, os brasileiros na Ucrânia não deixariam de ter assistência para segurança.
Mas a posição do Brasil contrastava naquele momento com uma série de países – encabeçados pelos Estados Unidos – que aconselharam seus cidadãos que deixem a Ucrânia. Na ocasião, até a Rússia já havia determinado a retirada de compatriotas da Ucrânia.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Como dizia o humorista Agildo Ribeiro, perguntar não ofende. Então, que o embaixador responda como pretende abrigar 500 pessoas (além dos diplomatas e funcionários, é claro) nesse sobrado onde funciona a representação brasileira? Vai cair gente pelas janelas, é claro. O embaixador é um irresponsável juramentado, como dizia o prefeito Odorico Paraguaçu. (C.N.)