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sábado, outubro 30, 2021

Silêncio sobre rachadinha de Alcolumbre coloca em xeque cruzada ética do Senado

 

OI ZUM-ZUM-ZUM, TÁ FALTANDO UM – Contra o Vento

Charge do Glauco (Arquivo Google)

Malu Gaspar
O Globo

Durante a CPI da Covid, os brasileiros se acostumaram a acompanhar as postagens indignadas e os discursos inflamados dos senadores a cada descoberta ou suspeita de mal feito. A CPI e a gestão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que desde o início procurou se descolar de Bolsonaro, fizeram parecer que o Senado tinha passado a ser uma espécie de “reserva moral” da República.

Enquanto Arthur Lira (PP-AL) engavetava pedidos de impeachment e fazia vista grossa para as denúncias de cobrança de propina em vacinas envolvendo deputados, o Senado investigava o governo, engavetava pedido de impeachment de ministro do Supremo e devolvia ao Planalto a MP de Bolsonaro para regular as redes sociais.

ALCOLUMBRE ACOSSADO – Mas eis que surge uma denúncia acachapante de prática de rachadinha contra o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), ex-presidente do Senado, presidente da Comissão de Constituição e Justiça, aliado de Pacheco e um dos mais poderosos membros da Casa. E até agora, com exceção da notícia-crime protocolada por Alessandro Vieira (Cidadania-SE) no Supremo Tribunal Federal, o que se ouviu foi um estrondoso silêncio.

Para situar o leitor: a revista Veja desta semana traz uma reportagem com os nomes, as fotos e os depoimentos de seis mulheres pobres da periferia do Distrito Federal, que contam terem sido contratadas para ganhar sem trabalhar e devolvido boa parte de seus salários como assessoras ao gabinete de Alcolumbre.

Pelo que elas contam, o esquema funcionou de janeiro de 2016 até março deste ano. Um assessor de Alcolumbre tinha os cartões da conta e as senhas das funcionárias fantasmas, e todo mês retirava o dinheiro no caixa eletrônico que ficava a 200 metros do gabinete, dentro do próprio Senado.

DESCONTO BRUTAL – Marina Ramos Brito, que afirma ter combinado o esquema com Alcolumbre em pessoa, diz que recebia R$ 14 000 e ficava com R$ 1350. Lilian Alves Pereira Braga recebia R$ 11 000, mas só ficava com R$ 800. Das seis funcionárias localizadas, três foram demitidas grávidas e prestes a entrar de licença maternidade. Segundo o repórter Hugo Marques, algumas delas estão processando Alcolumbre e apresentaram extratos bancários para provar o que dizem.

Se comprovadas as denúncias, isso significa que, enquanto disputava a presidência do Senado com Renan Calheiros (MDB-AL) em 2019, promovendo renovar e arejar o comando da Casa, Alcolumbre recebia milhares de reais em rachadinhas mensais. Continuou recebendo enquanto ocupava a presidência do Senado – e até mesmo nos poucos dias em que chegou a ser presidente interino da República, durante uma viagem de Jair Bolsonaro.

SILÊNCIO ABSURDO – As suspeitas são gravíssimas. Mas, ao contrário do que se passava até outro dia, nenhum senador, nem da CPI e nem de fora dela, foi às redes sociais para reverberá-las. Nenhum deles correu para a tela do computador para dar uma entrevista de última hora da sala de casa, nem fez uma live ou gravou um vídeo para o Instagram.

Oposicionistas estão quietos – especialmente os que se aliaram a Davi Alcolumbre para tentar derrubar a indicação de André Mendonça para uma vaga no Supremo. Com algumas exceções, os bolsonaristas também estão em silêncio. Está certo que não tem moral para dizer nada. Falou em rachadinha, eles saem de fininho – incluindo o presidente da República, que abandonou uma entrevista nesta semana ao ser perguntado a respeito.

IMAGEM DESTRUÍDA – Seja qual for o motivo do silêncio, o fato é que o caso de Alcolumbre colocou o Senado no córner e pode pôr a perder todo o ganho de reputação conquistado com a CPI da Covid. Claro que é preciso investigar a fundo as denúncias – até para saber se tudo não passa de perseguição, como disse o senador amapaense em uma nota sobre a reportagem da Veja.

Contudo, se o Senado não agir com Alcolumbre com o mesmo rigor que agiu na CPI da Covid, com Bolsonaro e com os parlamentares bolsonaristas, terminará dando ao presidente da República um argumento para dizer que é ele quem está sendo perseguido. Afinal, rachadinha é crime de peculato. E crime, que se saiba, não tem viés ideológico. Ou será que os senadores, agora, vão instituir a rachadinha “do bem”?


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