José Renato Nalini
Estadão
O mundo encara com perplexidade o Brasil, esta potência que teria tudo para possuir a população mais bem alimentada do planeta, mas não cuida de cumprir o que sua Constituição ordena: edificar uma sociedade justa, fraterna e solidária. Com erradicação da miséria e redução das iníquas desigualdades sociais.
Especialistas do United Nations World Food Programme, o programa mundial de alimentos da ONU, estranham que o Brasil, ao contrário da África, conviva com uma tributação que aprofunda as diferenças e aflige ainda mais os aflitos. Onerar o consumo é condenar brasileiros a morrer de fome.
REGRAS “ELEIÇOEIRAS” – Enquanto se discutem regras eleiçoeiras, para garantir a profissão política, deixa-se de encarar a nefanda carga tributária que está condenando o Brasil a retroceder, aceleradamente, rumo à condição de “pária alimentar”, depois de já ter alcançado o ranking de “pária ambiental”.
De acordo com quem entende disso, pois atua nas regiões menos desenvolvidas do planeta, países periféricos e de escasso grau civilizatório, como é o Brasil, “a tributação sobre o consumo é uma das mais injustas, porque os pobres consomem toda a sua renda no dia a dia. Temos que modificar isso, para que os mais ricos contribuam mais via Imposto de Renda”.
Não quer isso dizer que se pretenda equalizar todas as pessoas, em si irrepetíveis, singulares e heterogêneas. Apenas se reclama bom senso para que ninguém venha a morrer de fome, junto aos silos abarrotados pelas supersafras garantidas por uma revolução inteligente do agronegócio.
HUMILDES HUMILHADOS – Enquanto o tema único para os brasileiros que teriam condições de mudar o cenário é a eleição e a matriz da pestilência que é a reeleição, tudo converge para tornar a situação dos humildes mais humilhante ainda. Evidente a redução dos gastos sociais, com a desidratação da bolsa família, desamparo à pesquisa e à educação que viria – ainda que a longo prazo – conceder aos carentes, condições de superação desse flagelo.
O silencioso espetáculo de horror não comove os mandatários de cargos e funções para as quais foram eleitos por essa população rumo ao verdadeiro patíbulo da fome. Continuam a gargalhar, quais hienas que sabem da impotência de um mandante desprovido de qualquer forma de participação na gestão da coisa pública e, portanto, nenhuma ameaça paira sobre eles. Seus privilégios estão garantidos pela democracia formal.