Lives suspensas no Youtube são acessadas em outras redes
Por Marlen Couto
As grandes plataformas de redes sociais enfrentam maior pressão para endurecer e aplicar suas próprias regras contra fake news e discurso de ódio, principalmente após a explosão de desinformação na pandemia de Covid-19 e da invasão ao Congresso americano no início do ano.
No Brasil, o símbolo da mudança de tom, em meio à pressão internacional, são as remoções de postagens desinformativas disseminadas pelo presidente Jair Bolsonaro e por seus aliados. O YouTube é quem mais tem adotado a medida. Ao todo, a plataforma do Google removeu 33 vídeos do canal oficial do presidente desde abril, quando atualizou suas políticas para proibir vídeos que recomendem o uso de hidroxicloroquina ou ivermectina para a Covid-19, medicações sem eficácia para o tratamento da doença.
MAIS RESTRIÇÕES – Em setembro, uma nova atualização mirou teorias conspiratórias e desinformação sobre a vacina.
Apesar disso, as punições ainda são pontuais quando envolvem autoridades e diversos conteúdos do presidente e de seus aliados com mensagens falsas sobre a pandemia e outros temas seguem no ar, alerta o pesquisador Guilherme Felitti, da Novelo Data, que acompanha as remoções em perfis ligados à base bolsonarista.
— As plataformas são boas para criar regras, mas não são boas para executar essas regras. A experiência que temos é de que elas são ignoradas quando estamos falando de alguns players específicos, como Bolsonaro. A aplicação das políticas só funciona quando há um incentivo externo, quando há polêmica ou a imprensa alerta para o descumprimento das regras. As redes não são ativas a ponto de sua própria equipe detectar casos de desinformação e puni-los— analisa Felitti.
FALTA DE UNIDADE – Outra questão é a falta de unidade das punições e medidas tomadas. Quase todos os vídeos de Bolsonaro já removidos pelo YouTube, a maioria lives, continuam disponíveis, por exemplo, no Facebook há meses. A velocidade e a dinâmica das redes são outro desafio.
Além de contarem com audiência imediata significativa, os vídeos do presidente são baixados e hospedados em aplicativos de mensagem, como WhatsApp e Telegram, e de lá são compartilhados pela base bolsonarista.
No caso da recente live, após remoção no Facebook e Instagram, o Twitter inseriu selo com informação de que a fala de Bolsonaro viola suas regras.
Nota do blog Tribuna da Internet – Em tradução simultânea, reina a esculhambação nas redes sociais. Os governos são impotentes e não sabem como regularizá-las. Apenas isso. (C.N.)
O Globo / Tribuna da Internet