Bruna Lima e Maria Eduarda Cardim
Correio Braziliense
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, fez uma série de ameaças ao deputado federal Luis Miranda (DEM-DF). O parlamentar e o irmão dele, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, denunciaram suspeitas de corrupção na compra, pelo governo federal, da vacina indiana Covaxin.
De acordo com o ministro Lorenzoni, o presidente Jair Bolsonaro imediatamente determinou que a Polícia Federal investigue os dois.
TAMBÉM NA CGU – Lorenzoni afirmou que vai pedir também a abertura de um procedimento administrativo disciplinar junto à Controladoria-Geral da União (CGU) para apurar a conduta do servidor, que disse, em depoimento à Procuradoria da República do Distrito Federal, ter sofrido “pressões anormais” em relação à Covaxin por parte da alta cúpula da pasta.
“O servidor será investigado por prevaricação”, enfatizou o ministro, em pronunciamento realizado para negar as acusações em relação à aquisição do imunizante.
Ao comentar e mostrar documentos da contratação, Lorenzoni levantou a possibilidade de falsificação de provas.
SUBSIDIÁRIA – “O senhor Luis Miranda diz que havia um contrato entre o governo brasileiro e a empresa A, Bharat Biotech, e que apareceu uma nota fiscal de uma compra por meio da Madison Biotech. A Madison nada mais é do que a subsidiária da Bharat Biotech, localizada em Cingapura, responsável por todos os contratos da Bharat Biotech no comércio internacional. Portanto, não existe uma terceira empresa”, frisou.
De acordo com o ministro, o governo pedirá aos peritos da Polícia Federal uma análise dos documentos. Ressaltou, também, que, apesar de o contrato ter sido assinado, ainda não houve pagamento pela vacina. “Nenhum centavo saiu dos cofres do Ministério da Saúde”, destacou.
AVISO AO DEPUTADO – Em tom de ameaça, o ministro mandou recado ao parlamentar: “Deputado Luis Miranda, Deus tá vendo, mas o senhor não vai só se entender com Deus, não, vai se entender com a gente também. O senhor vai explicar e pagar pela irresponsabilidade, pela má-fé, pela denunciação caluniosa e pela produção de provas falsas”, completou.
Mas alguns senadores dizem acreditar que já está caracterizado o crime de advocacia administrativa. Isso porque o presidente enviou uma carta pedindo ao primeiro-ministro indiano Narendra Modi pedindo os bons ofícios na liberação de doses da vacina AstraZeneca, ocasião na qual também citou a Covaxin — que ainda não figurava no rol das imunizações preferenciais do Brasil.
A carta foi enviada enquanto o sócio-administrador da Precisa, Francisco Maximiano, estava no país asiático negociando a compra da Covaxin.
Além disso, os senadores da comissão querem averiguar se o presidente teve papel ele próprio na pressão para liberar a Covaxin. Para isso, vão tentar mapear a origem das ordens.
PRESSÃO DO CORONEL – Em depoimento ao MPF, o servidor Luís Ricardo Miranda mencionou que a pressão partia da Secretaria Executiva — na época comandada pelo coronel Élcio Franco, braço-direito do ex-ministro Eduardo Pazuello — e também citou o nome do tenente-coronel Alex Lial Marinho, próximo também ao general e ex-coordenador-geral de Logística de Insumos Estratégicos em Saúde.
Agora, os senadores querem verificar se há ligação entre a atuação da alta cúpula da Saúde e integrantes do Palácio do Planalto.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O clima está esquentando. Na CPI, o relator Renan Calheiros reagiu às declarações de Lorenzoni e ameaçou mandar prendê-lo se fizer pressões sobre as testemunhas. Mas é só Piada do Ano, para dar mais emoção à CPI. O mundo acaba e Renan não prende ninguém. É só brincadeirinha. (C.N.)